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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

ALÉM DAS PALAVRAS (A Quiet Passion) Inglaterra / Bélgica, 2016 – Direção Terence Davies – elenco: Cynthia Nixon, Jennifer Ehle, Emma Bell, Keith Carradine, Joanna Bacon, Duncan Duff, Catherine Bailey, Sara Vertongen, Rose Williams, Benjamin Wainwright, Annette Badland, Marieke Bresseleers – 125 minutos

           ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL, DELICADO E DE GRANDE BELEZA


“Além das Palavras”,  do diretor britânico Terence Davies poderia muito bem optar por caminhos mais cômodos, que resultaria numa bela ilustração artesanal, eficiente mas sem personalidade. O filme se passa no sul dos Estados Unidos no século XIX, seria muito fácil criar um belo drama, com aura romântica, utilizando o sol para iluminar as belas planícies sulistas; realizando um drama emocionalmente envolvente sobre uma mulher a frente de seu tempo. O comodismo dessa hipotética produção chamaria atenção de um bom público, porém não se aproximariam em quase nada do projeto de Davies, muito menos da figura de Dickinson.


Por mais que se possa pensar Emily Dickinson para além de suas palavras, por mais que o filme, de fato, atravesse sua poesia (mas não a exclua de modo algum) para cercar a mulher de atenção, é o título original que mais preserva sua essência: uma paixão quieta, silenciosa, tolhida. Há um ponto de partida e um de chegada, um panorama de aspectos considerados tocantes à vida de Emily Dickinson; mas o interesse do diretor não está no alcance. Está, antes, no adensamento, na profundidade. Quase todas as falas do filme se impregnam de um aspecto de literaridade, uma linguagem que chama atenção para si mesma, como uma coletânea de citações cintilantes de uma obra qualquer que nos seja cara. E ainda que requeiram tempo para absorção, o ritmo incessante acostuma-nos com o que talvez fosse muito bem a mente da protagonista: um fervilhar de proposições, pensamentos, poetizações, ironias afinadas, discursos solenes.


Uma das grandes vozes da poesia em língua inglesa, Emily viveu (e morreu) em Ambers, Massachusetts, entre 1830 e 1886. Era egressa de uma família abastada, com meios para lhe fornecer uma educação irrepreensível. O filme já começa por um episódio marcante - a jovem Emily abandona o seminário por se recusar a declarar sua fé. Terence Davies aproveita o fato da trajetória de Emily Dickinson ter ocorrido em Massachusetts, uma das primeiras regiões estadunidenses colonizadas pelos britânicos, para construir um drama de época conceitualmente mais próximo dos exemplares do Reino Unido. É notável o trabalho dos atores, cujas composições, marcadas pela solenidade então vigente, absorvem também as transformações decorrentes da passagem dos anos. Aliás, a progressão cronológica não é pontuada ordinariamente, porque em Além das Palavras o tempo é compreendido em sua dimensão mais filosófico-existencialista, sendo assim irrelevante informar quantos dias ou anos separam um evento do outro.  Um filme sensível e de grande beleza, merece ser apreciado!!


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