THE
SQUARE: A ARTE DA DISCÓRDIA (The Square) Suécia / Alemanha / França /
Dinamarca, 2017 – Direção Robin Östlund – elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss,
Dominic West, Terry Notary, Christopher Laesso, Elijandro Edouard, Annica
Liljeblad, Jonas Dahlbom, Copos Pardaliam, John Nordling – 140 minutos
O
FILME DE ARTE MAIS DEVASTADOR, PROVOCA O PÚBLICO ATRAVÉS DO DESCONFORTO
Provável
e quase certo vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano, é sem
sombra de dúvida um dos melhores filmes europeus da temporada. O filme apresenta personagens que carregam uma dicotomia
entre aparentar algo e o que essas pessoas são quando colocadas no limite. Essa
dicotomia reflete no espectador, que fica dividido diante das ações dos
personagens; é muito provável que você não saiba o que pensar diante de certas
situações apresentadas no filme. Enquanto Christian não é posto em uma situação
limite, ele é a tradução do modelo de homem moderno, meio intelectual, meio
desconstruído, o sujeito do século XXI. Quando está no limite, ele cede aos
instintos, agindo de forma nem um pouco civilizada. Contudo, ele sente remorso
por isso e tenta se corrigir – ou melhor, tenta manter a capa. Se terminar
celebrado no Oscar 2018 depois de ter ganho a Palma de Ouro do Festival de
Cannes, “The Square” se sacramentará como um filme muito emblemático dos
últimos tempos e um dos mais importantes deste Século.
No filme, o atormentado protagonista é
Christian (Claes Bang), recém-nomeado curador do Museu de Arte Contemporânea de
Estocolmo. Organizando a primeira grande exposição da instituição em sua
gestão, ele investe na obra que dá título ao filme: um quadrado luminoso
instalado no chão e dentro do qual todas as pessoas devem se tratar de maneira
igualitária e gentil. Porém, por mais que insista em explicar sua crença na
necessidade do comportamento ético, Christian tem suas convicções testadas
quando seu celular é roubado – e, depois de localizar o aparelho em um prédio
numa vizinhança pobre, ele decide colocar um bilhete em todos os apartamentos
do edifício exigindo que o “ladrão” devolva o aparelho, o que dá início a uma
série de incidentes que, associados ao estresse do trabalho no museu, tornam a
vida do sujeito inesperadamente instável.
Este grande filme trabalha
com o inusitado, com a batalha interna e externa sobre o comportamento ético da
elite moderna e seu interior mais “animalesco” e vingativo. E o principal
capricho do roteiro está na sua habilidade em manter este humor em alta e
crescente mesmo com a longa projeção, culminando na cena do jantar onde esta
tal elite é posta cara-a-cara com o animalesco que lhes é apontado como a arte
visceral, mas num plano-sequência aterrador, se transformar no próprio terror
dos mesmos. Esta sequência, que é a mais relevante para o Brasil de hoje,
apresenta uma performance arrasadora do artista Oleg (Terry Notary) durante um jantar reunindo os financiadores do museu. A
performance provoca os convidados. Ela vai testando os limites deles e da
própria arte. É a sequência que melhor demonstra que, sim, arte tem limite – ao
contrário do que deu a entender os debates sobre arte no ano de 2017 no Brasil,
cujo exemplo paradigma foi o envolvendo o Queermuseu.
UMA NARRATIVA QUE NÃO SE CONTENTA EM EXPOR AS
CONTRADIÇÕES DO PENSAMENTO DOMINANTE NOS MEIOS ARTÍSTICOS.
Abordando temáticas
presentes na maioria dos debates contemporâneos, a acidez tragicômica do filme
não se preocupa em ser reconfortante. A obra é construída para desconstruir
conceitos e valores, expondo a podridão humana e social onde quer que possa
estar. Esta obra-prima não é um filme feito
para agradar, mas para expor a podridão humana e social onde quer que ela possa
estar. Obrigatório!!
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