MANIFESTO
(Manifesto) Alemanha, 2015 – Direção Julian Rosefeldt – elenco: Cate Blanchett,
Andrew Upton, Ruby Bustamante, Erika Bauer, Carl Dietrich, Ralf Tempel, Marina
Michael, Hannelore Ohlendorf, Ottokar Sachse – 95 minutos
Os
históricos manifestos da arte podem ser aplicados à sociedade contemporânea?? É
isso o que a Cate Blanchett tenta responder ao explorar os componentes
performativos e o significado político de declarações artísticas e inovadoras
do Século 20, que vão dos futuristas e dadaístas ao Pop Art, passando por
Fluxus, Lars von Trier e Jim Jamursch.
“Manifesto” tem uma proposta que se afasta do que estamos acostumados a ver,
não há uma trama, não há desenvolvimento de personagem ou qualquer coisa que o
valha. O filme explora, de maneira geral, o movimento artístico em nossa
atualidade capitalista e política. Sem nenhum enredo, ousa a expor apenas uma
série de monólogos que devem ser apreciados como uma arte visual e estudo de
personagem. E realmente é um estudo de
personagem, já que celebra a individualidade das diversas opiniões em
determinado assunto, neste caso a arte. O filme não tenta te convencer a seguir
nenhum desses pontos de vistas que são expostos, querendo apenas mostrar essa
divergência usando também tons de ironia da realidade indutiva e
manipuladora, além de oferecer filosofias pessoais e conteúdo poderoso que,
juntamente a todos os elementos que o audiovisual tem a sua disposição se
torna uma jornada emocional, que pede a atenção do público para existir.
Não
há história, mas há narrativa, uma ordenação no roteiro que o diretor apresenta
de maneira engenhosa e natural, fazendo com que hora o texto de dois manifestos
se complementem, hora eles se contradigam, ascendendo uma discussão mental na
cabeça do espectador – e um dos momentos mais celebrados é justamente quando o
diretor aborda o Dogma 95. Não tem um roteiro. Não
há ação central, não há explicação e há conexão. É como se Cate Blanchett desse
vida à diferentes textos, com 13 personagens e nuances diferentes. Sempre
impecável e magistral, a atriz, vencedora de dois Oscar, consegue encarnar de
um exagerado mendigo até uma descontraída apresentadora de TV. Entre as outras
personagens, estão: uma coreógrafa, uma punk, uma professora de escola
infantil, uma cientista, uma funcionária da bolsa de valores, uma artista, um
titereiro (manipulador de marionetes), uma trabalhadora de fábrica e uma mulher
em um velório. Tais personagens não têm conexão, e os textos escolhidos para
cada um também não.
Essas 13 personagens distintas se apresentam
em uma série de monólogos sempre recheados com referências a icônicos
manifestos artísticos. Um destaque muito especial para a fotografia
e a direção de Julian Rosefeldt, que são impecáveis. O diretor faz uso
constante do plongée, que é quando se filma a cena de cima, mostrando todo o
ambiente. O ritmo do filme é sempre lento, tanto que em determinada cena em que
os alunos de Cate estão brincando, a câmera lenta é utilizada. Como já citada,
a atuação de Cate Blanchett é magistral. Ela consegue capturar o estilo
requerido em cada um dos personagens, entrega a entonação necessária, os gestos
e os olhares perfeitos para cada cena. “Manifesto” é um grande filme, capaz de provocar uma boa reflexão sobre o atual cenário da arte e de
aproximá-lo – ao mesmo tempo que o contrapõe – a vanguardas e movimentos
de outros períodos da história. Muito bom e obrigatório!!
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