A BELA DA TARDE (Belle
de Jour) França, 1967 – Direção de Luís Buñuel – elenco: Catherine Deneuve,
Jean Sorel, Michel Piccoli, Pierre Clémenti, Geneviève Page, Macha Méril,
Françoise Fabian, Maria Latour, Francisco Rabal, Georges Marchal, Muni, Claude
Cerval, Francis Blanche, Iska Khan, Michel Charrel, Bernard Musson, Marcel
Charvey, François Maistre, Luís Buñuel – 100 minutos
O INCRÍVEL DRAMA DE UMA
MULHER JOVEM, RICA E BELA, É IMPIEDOSAMENTE POSTO A NÚ!! 50 ANOS DEPOIS
CONTINUA ACLAMADO
Além
de ter dirigido esta obra-prima, Luis Buñuel também fez uma ótima adaptação,
junto com seu fiel roteirista Jean-Claude Carrière, do livro de Joseph Kessel.
O brilhante elenco é composto por estrelas de primeira grandeza do cinema
francês - Catherine Deneuve, Michel
Piccoli, Geneviève Page, Jean Sorel, Pierre Clementi e muitos outros. Sèverine
(Catherine Deneuve), uma mulher frígida com o marido, percebe que seu casamento
está frio e se sente culpada por isso, o que é visível quando são mostrados
seus estranhos sonhos e sua infância, na qual sofreu abuso sexual e rejeitou a
religião, como se ela tivesse um trauma infantil. Então, com a dica de um
amigo, ela passa a frequentar uma casa de prostituição e lá usa o pseudônimo de
Belle de Jour (Bela da Tarde). No
começo ela fica tímida, mas depois se acostuma e atende os clientes, que inclui
um ricaço, um professor com fetiches masoquistas, um oriental que faz rituais,
um duque necrófilo e um ladrão espanhol com seu amigo, que se apaixona pela
Bela da Tarde. O filme todo é como se fosse um estudo psicológico dos
transtornos sexuais da Humanidade.
Séverine, a Belle de
Jour, sonha com os olhos abertos. No entanto, caminha pelas ruas com óculos
escuros, como a persistir nos sonhos e em uma noite interior. Quando fixa o
olhar em algum ponto, o que vê não é necessariamente o que está diante de seus
olhos. Há, neste modo particular de ver, uma espécie de cegueira
iluminada que nasce da maneira como a personagem vivida por Catherine Deneuve
se deixa penetrar pelas imagens. Conscientemente ou não, Séverine descansa o
olhar naquilo que está oculto, ou excessivamente aparente: os objetos, as pessoas,
as ruas, os parques e o quarto no qual se prostitui falam de outro modo para
ela. E para nós, espectadores, é quase mesmo impossível delimitar, sem reduzir,
o que são as "imagens reais" e o que são as "imagens
criadas" pela imaginação fértil de Séverine. Já não há fronteiras, nem
mesmo universos paralelos: o cinema é o espaço da desarticulação total do que é
"subjetividade" e "realidade concreta". Em A BELA DA
TARDE tudo é movimento, e o que interessa - como num bom filme de ação - é
acompanhar os deslocamentos dos personagens (e da câmera que os segue). É talvez o filme mais conhecido de Luis Buñuel.
Pertence à fase madura de sua obra, que compreende títulos como “Viridiana”
(1961), “O Anjo Exterminador” (1962), “Diário de Uma Camareira”
(1964), “Tristana – Uma Paixão Mórbida” (1970), “O Discreto Charme da
Burguesia” (1972), “O Fantasma da Liberdade” (1974) e “Esse
Obscuro Objeto do Desejo” (1977). Pertence, portanto, a uma fase na qual se
cristalizou um certo "estilo buñueliano", bastante diverso da primeira
fase surrealista (“Um Cão Andaluz”, L'Age D'Or) e dos filmes
realizados no México, durante a década de 1950: “Os Esquecidos” (1950), “A
Ilusão Viaja de Trem” (1953). E poderíamos falar aqui em "estilo
buñueliano" como se fala em um estilo "hitchcockiano", ou seja,
como uma "marca registrada", o que inclui certo apelo à cumplicidade
do espectador, que já sabe o que esperar - ou melhor, no caso de Buñuel, o que não
esperar - do filme que irá assistir. Pode-se encaixar A BELA DA TARDE
como um "filme de mistério". O suspense, porém, é de outra ordem: o
que nos inquieta não é a fatalidade trágica, mas o acaso. O fio narrativo, de
ressonância melodramática, é inteiramente subvertido pela forma como Buñuel
sublinha o gesto concreto quando tudo é fantástico; abrir e fechar uma porta ou
andar pela rua são atos igualmente carregados de absurdo.
É
um dos mais belos filmes do cinema. O clima misterioso que perpassa o filme é a
feliz concretização da vida como um sonho em suspenso. Para cinéfilos, é o
pretexto para um dos mais vigorosos ensaios de narrativa do cinema de Buñuel. A
BELA DA TARDE foi o maior sucesso de bilheteria da carreira do diretor,
inclusive por mostrar a diva Catherine Deneuve em várias e delirantes situações
eróticas, nua ou de lingerie. Fiel às maiores obras do cineasta, também aqui
não há distinção entre humor, sexualidade e terror, sob o peso da crueldade e
da solidão humanas. Para o diretor, não há salvação ou complacência entre uma
vida esmaecida e o êxtase da imaginação. Luís Buñuel é, sem dúvida, o maior
expoente do cinema surrealista e essa sua obra-prima é um clássico que discute
a sexualidade feminina numa época em que se começava a descobrir o que
exatamente vinha a ser isso. Surpreendentemente, foi um grande sucesso de
bilheteria e unanimemente elogiado pela Crítica. Lançado no Brasil em 1968, o
filme despertou bastante controvérsia e debates psicanalíticos. Pierre
Clementi, considerado um ator “maldito” e de filmes de arte, tem uma atuação
notável. A BELA DA TARDE foi o grande vencedor do Leão de Ouro no Festival de
Veneza de 1967. É talvez um dos momentos mais marcantes na carreira de
Catherine Deneuve. Obrigatório e imperdível neste ano que se comemora os 50
anos deste grande filme!!!!
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