O ESGRIMISTA
(Miekkailija) Finlândia / Estônia / Alemanha, 2015 – Direção Klaus Härö –
elenco: Märt Avandi, Ursula Ratasepp, Hendrik Toompere, Lembit Ulfsak, Kirill
Käro, Liisa Koppel, Andres Lepik, Joonas Koff, Maria Klenskaja, Kaspar Tõnisson
– 99 minutos
Para se programar para o futuro,
é preciso se estabelecer com o passado.
O ESGRIMISTA
é sensível e muito delicado ao abortar um tema muito em voga hoje, que é a
situação do refugiado político, ainda que seja dentro de seu próprio país. É
impossível ficar imune à história de Endel após se propor a assistir ao filme. Retratando
a história real de Endel Nelis (Märt Avandi), um famoso mestre da esgrima na
Estônia, que foi obrigado a voltar a seu país, depois que a Rússia o invadiu.
Endel volta para ser um professor de educação física, numa afastada
cidadezinha, e utiliza de suas habilidades para ensinar uma turma de crianças
de uma escola carente, a arte da esgrima, mas o diretor da instituição, começa
a não gostar do sucesso do professor e busca um modo de mandá-lo embora,
investigando sua vida, até que surge um campeonato exatamente em sua cidade de
origem que está dominada por soldados russos, deixando o professor indeciso se
leva seus alunos ou fica protegido na cidadezinha que está refugiado, a decisão
se torna mais dolorosa pela relação amorosa e de cumplicidade que alunos e
professor estabeleceu ao longa do tempo.
Märt Avandi
que vive o mestre Endel é muito seguro e contido, na medida correta, em sua
atuação, ele sem grandes sobressaltos consegue a olho nu, mostrar ao
espectador, que seus alunos estão o transformando como ser humano. O elenco
infantil também é magnifico, principalmente a garotinha Liisa Koppel, que vive
a Marta, ela consegue apenas em seu doce olhar, transmitir muito conteúdo e por
ter essa forte e marcante expressão o diretor o usa em diversas passagens ao
longa da projeção. O diretor finlandês Klaus Härö, consegue empregar sua
identidade cinematográfica, usando momento de criatividade e de pura poesia,
sem se tornar incompreensível para um leigo espectador. Seu grande mérito é
conseguir dar para sua obra um caráter popular sem se tornar uma cópia
americana de blockbuster. Härö com essa obra se mostra um exímio contador de
histórias, arrebatando completamente a plateia para sua proposta do início ao
fim da narrativa. Foi inscrito pela Finlândia para concorrer a uma vaga ao
Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro.
O roteiro da finlandesa Anna Heinämaa preferiu usar uma narrativa épica,
além de copiar a estrutura de filmes comerciais onde o embate entre um revolucionário
(o professor) enfrenta o conservador (o coordenador da escola). Retratada como
um esporte de pouco interesse para o regime, a esgrima, além de não ser
considerada educativa para crianças, era perigosa. Além disso, ela também
era vista como um esporte medieval, fazendo uma alusão ao passado comunista e
soviético da Estônia. Para reforçar esta visão obtusa, a ambientação em uma
cidade distante e quase abandonada, onde seus habitantes são regidos
por um excesso de burocracia dentro de uma ditadura, foi pontual. O roteiro
mostra claramente que havia mais divisão do que igualdade naquele microcosmo da
sociedade soviética. No entanto, a grande força do roteiro reside no
protagonista. Endel é um personagem denso não somente pelo passado obscuro que
ele reluta em nos revelar, mas também pela dúvida que carrega entre fugir
do passado ou criar uma nova vida ajudando as crianças daquela escola. E a
virada mais interessante do roteiro está no fato de que é justamente a vida
nova, as crianças, que o ajuda a enfrentar o passado de que ele tanto foge em
Leningrado. É a mensagem do roteiro de que, para se poder viver plenamente o
presente e se programar para o futuro, é preciso se estabelecer com o passado.
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