INTERNET, O FILME – Brasil, 2017 – Direção Filippo
Capuzzi Lapietra – elenco: Rafinha Bastos, Felipe Castanhari, Pathy dos Reis, Gusta
Stockler, Cellbit, Julio Cocielo, Maurício Meirelles, Gabi Lopes, Thaynara
Oliveira Gomes, Christian Figueiredo, Igão Underground, Lucas Teddy Olioti, PC
Siqueira, Victor Meyniel, Cauê Moura, Mr. Catra, Raul Gil, Jacaré Banguela,
Palmirinha Onofre, Mr Poladoful, Tacio Schaeppi, Paulinho Serra – 97 min
EM UM MUNDO DE WEBCELEBRIDADES TUDO PODE
ACONTECER
Acima
de questões técnicas, é preciso encarar este filme como o retrato de uma época.
Goste-se ou não, os youtubers são uma realidade e, de certa forma, é até
natural que se busque algum modo de migrar (e lucrar) tamanha fama para as
telas de cinema - basta lembrar os vários astros da TV que seguiram o mesmo caminho.
A grande questão é que, dentro desta migração, são transferidas não apenas
pessoas, mas também vícios estilísticos e de linguagem - e, neste caso, a
decisão é bem ame ou odeie. O filme é recheado de bons números de humor
feitos por profissionais, mas ele tem um ponto fraco. O ponto fraco é que, como a maioria das
webcelebridades não tem experiência, as atuações são engessadas. E há piadas
boas e inteligentes, mas que são ofuscadas pelo roteiro fraco e machista.
Na
sinopse, vários influenciadores e seus fãs estão reunidos em um hotel de São
Paulo, para uma grande convenção que acontecerá nos próximos dias. É o gancho
para um imenso painel representativo do universo de youtubers, que surgem em
suas variadas facetas: o arrogante, o que esconde o rosto, o casal que faz
sucesso, o que depende da fama de um animal, a que fala verdades a todo
instante, o vulgar, o que sempre xinga, o feito em animação e por aí vai. Mais
do que glorificá-los, o filme tem por objetivo identificá-los em um misto de
apresentação aos leigos e reconhecimento daquele meio aos entendidos, até mesmo
com uma certa autocrítica. Neste ponto, o filme funciona a contento.
Com histórias variando entre o ameno e o constrangedor
(especialmente a que envolve o cachorro Brioco), pontuado por algumas piadas escatológicas,
INTERNET – O FILME consegue
ser uma boa comédia. Uma delas está no pós-créditos, na divertida cena
envolvendo Mr.
Catra como
Deus, e nas espertas piadas envolvendo as provocações a Felipe Neto, o suposto
casal formado por Kéfera e Alexandre
Frota e
a breve aparição do frame típico da Jequiti Cosméticos, nas transmissões do
SBT. São momentos como este, em que ri do próprio universo retratado, que o
filme encontra um caminho a seguir. Como nem tudo
poderia ser apenas bom humor e alto nível, há momentos de homofobia, gordofobia
e afins – algo que parece vir no pacote de nove entre dez das comédias
nacionais. Há também momentos (na verdade, boa parte deles) nos quais os atores
parecem estar se divertindo mais do que o público. A
direção de Filippo Capuzzi Lapietra sabe
utilizar muito bem do material que têm em suas mãos. Há uma clara intenção do
diretor em remeter a estética do filme à do Youtube, mais jovial e
dinâmico. A inclusão de memes e uma edição mais ágil é perfeitamente encaixada
no longa, que tem desde a sua abertura um público alvo determinado. Auxiliado
com o roteiro de Rafinha Bastos, algumas piadas mais referenciais são bem
engraçadas. A participação de PC Siqueira, no arco de Cellbit, é muito boa e
bem feita. A inclusão de memes mais antigos como a presença ilustre dos
cantores da versão original de “Para Nossa Alegria”, é uma jogada de risco, que
funciona exatamente por ser arriscada. Mas no geral, o filme pode lhe arrancar
uma quantidade boa de risadas, ainda mais se o espectador estiver enraizado
nessa cultura e for capaz de entender todas as referências.
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