terça-feira, 1 de novembro de 2011
41º Lugar - AS VINHAS DA IRA (The Grapes of Wrath) EUA, 1940
OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!
41º Lugar - AS VINHAS DA IRA (The Grapes of Wrath) EUA, 1940 – Direção John Ford – Elenco: Henry Fonda, Jane Darwell, John Carradine, Charley Grapewin, Dorris Bowden, Russell Simpson, Zeffie Tilbury, O. Z. Whitehead, John Qualen, Eddie Quillan, Grant Mitchell – 128 minutos.
Nos Estados Unidos após a Grande Depressão, milhões de americanos passaram a viver na miséria, tendo suas fazendas vendidas aos grandes bancos. A vida era horrível, e um senso de grande desumanidade era imperativo para essas pessoas. Vivendo como gado, indo e vindo atrás de um trabalho qualquer, por míseros centavos ao dia – o suficiente para poderem sobreviver, mas às vezes, nem isso! Um cenário de vida infeliz, é o que Tom Joad (o sempre inesquecível Henry Fonda, possivelmente no melhor papel de sua carreira) descobre logo no início de sua jornada. Voltando da prisão por homicídio depois de quatro anos, ele descobre a fazenda de seus pais abandonada, e descobre que eles estão prestes a se mudar para a Califórnia, terra das laranjas e do emprego fácil.
Este é um dos melhores trabalhos da lenda John Ford e detém uma poderosa mensagem humanitária que identifica a qualidade e prestígio deste longa rotulando-o como um filme de alta categoria e conotação clássica. Baseado na obra literária de John Steinbeck, seu ritmo é cadenciado e muito bem transposto para a tela; sua linha de raciocínio é moldada em detalhes técnicos e interpretativos que exigem do expectador uma percepção sentimental aguçada para compreender perfeitamente qual a proposta a ser discutida ou seja, o filme foi feito para um público de nível intelectual refinado e um senso apurativo complexo e abrangente.
AS VINHAS DA IRA apresenta uma fotografia magnífica que ambientaliza um EUA pós-depressão e traz à tona imagens esplendorosas que dissecam rodovias, plantações, alojamento dos acampados etc. Tudo fielmente concebido através de uma adaptação de roteiro exemplar e precisa, necessário ao estilo melancólico imposto pela linha narrativa da obra. Com certeza é um dos mais belos road movie do cinema! Atravessando vários Estados com esperança de emprego, toda a família de Joad – e mais um ex-padre – sobe em um pau-velho de um caminhão com tudo que pôde carregar da velha fazenda e parte em busca de um futuro melhor. Mal sabem eles que quanto mais andarem, mais difíceis vão ficar as coisas. O filme tem uma linha do tempo e um ritmo praticamente perfeitos nesse ato. Méritos de um roteiro bem adaptado. Os acontecimentos são fortes, vividos com intensidade, por causa de um dos melhores elencos que o cinema já viu.
Henry Fonda como o sofrido, mas sempre forte Joad, mostra as várias caras que uma interpretação histórica deve possuir. Suas últimas falas no filme são antológicas para o cinema. John Steinbeck diz-se encantado pela sua interpretação após assistí-lo. Todos os integrantes da família têm cenas muito boas, mostrando o cuidado que o roteiro teve ao desenvolver cada um de seus personagens. Até as duas crianças, mesmo com tempo limitado na tela, têm passagens muito bonitas. O filme é praticamente perfeito, apesar de John Ford ter sido um diretor que sempre exagerava no sentimentalismo. Os vilões – os exploradores donos das terras – e os mocinhos – todos os explorados – estão, como sempre nos filmes do diretor, bem definidos. Até mesmo o fato de Joad ter cometido homicídio é cuidadosamente bem justificado, para não haver dúvidas de seu caráter.
A parte técnica é igualmente esplendorosa às interpretações e ao roteiro. O filme é um retrato belíssimo dos Estados Unidos na primeira metade do século passado. As paisagens amplas, rios largos, plantações enormes, estradas longínquas, são todos elementos que embelezam e o tornam ainda mais especial e imperdível de se assistir nos dias atuais. A trilha sonora também é magnífica, com belos temas que fortalecem as imagens e também as interpretações. AS VINHAS DA IRA concorreu ao Oscar na categoria de Melhor Filme, mas perdeu absurdamente para REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL, do mestre Alfred Hitchcock. REBECCA é um bom filme, mas é uma obra menor e mais pessoal. Os seus personagens complexos não chegam perto do desenvolvimento que todos os personagens de AS VINHAS DA IRA possuem. A parte técnica do filme de John Ford também é muito superior e, finalmente, o próprio roteiro é mais sólido e bem montado. Alguns críticos e especialistas em cinema acreditam que a Academia não premiou o filme, porque um ano antes um outro filme sobre pobreza americana havia ganho, o belo e extraordinário ...E O VENTO LEVOU. Particularmente, não acredito nessa hipótese. A Academia de Hollywood tem um compromisso com a injustiça quase que todo ano, é só olhar a história do prêmio. No ano seguinte, como uma espécie de pedido de desculpas, COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941), também de John Ford, ganhou o Oscar de Melhor Filme (derrotando o favorito CIDADÃO KANE), e John Ford, Melhor Diretor. Aliás, John Ford ganhou nos dois anos consecutivos e, desde então, seu nome não saiu mais da história do cinema. AS VINHAS DA IRA é um filme amplamente mais lembrado que aquele trabalho posterior do diretor, provando, de certa forma, sua superioridade em todos os sentidos. A comovente fala da mãe (Jane Darwell em formidável atuação, que lhe valeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) ao final é belíssima. Para evitar problemas, o filme foi anunciado como apolítico, e não um documento social, mas claro que hoje ele sobrevive como um autêntico documentário sobre a história norte-americana. Uma realização soberba que melhorou com o tempo!! Definitivamente é um dos melhores e mais belos filmes do cinema!! Obrigatório e indispensável!!
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