DEIXE
A LUZ DO SOL ENTRAR (Un Beau Soleil Intérieur) França / Bélgica, 2017 – Direção
Claire Denis – elenco: Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Philippe Katerine,
Josiane Balasko, Sandrine Dumas, Nicolas Duvauchelle, Alex Descas, Laurent
Grévill, Bruno Podalydès, Paul Blain, Valeria Bruni Tedeschi, Gérard Depardieu
– 94 min.
Engraçado e incrivelmente perceptivo sobre as vidas
e os relacionamentos muito complicados que levamos, principalmente quando
envolvem membros do sexo oposto.
O
novo filme de Claire Denis acompanha a história de Isabelle (Juliette Binoche),
uma bem sucedida artista plástica francesa e mãe solteira de meia-idade, em
busca do amor. Ela está cansada de ser tratada como um objeto sexual e de ser a mulher
que os homens querem por diversão e não para ter um relacionamento sério. Uma jornada de autoconhecimento com
uma das personagens mais intrigantes do cinema da atualidade. Repleto de mise
en scènes, com close-ups em
detalhes bastante expressivos para a cineasta, como um rosto, o movimento de
uma mão e o modo de andar, e com poucas imagens externas, o filme aborda a
temática da mulher em busca do verdadeiro amor com bastante sensibilidade.
Essa artista plástica, divorciada, mãe de uma garota de 10 anos, é um
poço de contradições. Ela viaja ao sabor do momento, em paixões por homens tão
disparatados como um banqueiro (Xavier Beauvois), um ator (Nicolas
Duvauchelle), um tipo rude (Paul Blain) e um empresário mais velho (Alex
Descas) – fora um eterno caso com o ex-marido (Laurent Grévill). É o retrato de
uma mulher madura; mãe, mas não definida por isso – a filha só aparece em uma
cena –; profissional; sexualmente ativa desde a primeira sequência; inserida
num contexto social; que é desejada e deseja; humilha e é humilhada; chora e
goza; revela; mente; busca amar. Não é todo dia que uma personagem assim assume
o protagonismo e nesse sentido o filme evoca excelente trabalho pouco
lembrado de Claire Denis em que o querer feminino é igualmente evidenciado.
Como se poderia esperar de uma diretora habituada à acidez, não se doura
a pílula para um final feliz arrebatador, como um filme americano. O que salta
à flor da pele é uma mulher entregue ao próprio desejo, por mais que ele
conduza a tantas decepções. Importante é que ela não desiste de procurar. Uma
sequência particularmente criativa é a final, que acompanha, em tempo real, a
consulta de Isabelle a um vidente (Gérard Depardieu), que discorre sobre as
chances que ela terá com cada um dos homens que naquele momento frequentam sua
vida. Apoiado
em diálogos sólidos e uma câmera que acompanha magnificamente o estado de sua
personagem, o filme tem a beleza de explorar conscientemente a ingenuidade dos
sentimentos de Isabelle sem menosprezá-los. Claire Denis, uma das mais
talentosas cineastas francesas, consegue produzir uma sensação inédita no que
diz respeito a um único e antigo tema: a busca pelo amor. E ela acredita na
supremacia da forma sobre todo o resto.
O filme é uma sucessão de conversas permeadas por
esperanças, afetos e desafetos, que caminham muitas vezes entre a trivialidade
e o existencialismo.
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