O OVO DA SERPENTE
(Das Schlangenei / The Serpent’s Egg) Alemanha/EUA, 1977 – Direção de Ingmar
Bergman – elenco: David Carradine, Liv Ullmann, Gert Fröbe, Heinz Bennent (Hans
Vergerus), James Whitmore (o Padre), Glynn Turman, Georg Hartmann, Edith
Heerdegen, Fritz Strassner, Hans Quest, Paula Braend – 120 minutos
UM BRILHANTE
ENSAIO DE SUSPENSE QUE ASSUSTA E PREOCUPA, PRINCIPALMENTE PELO MOMENTO ATUAL
POR QUE PASSA A HUMANIDADE
Há 41 anos, nos fins de 1977, o genial Ingmar
Bergman, falecido em de 30 de Julho de 2007, apresentou o filme O OVO DA
SERPENTE. A ação se passa na Berlim de novembro de 1923 que vive a euforia
do fim da Primeira Guerra. Nesse ambiente de liberdade, um médico,
aparentemente apostado na cura, contribui com as suas experiências
pseudo-científicas para destruir seres humanos. Faltava ainda muito para surgir
o nazismo, mas já se entreviam os traços do monstro em gestação. Como através
da membrana transparente do ovo da serpente. Do ponto de vista político, a grande contribuição de
Ingmar Bergman para o cinema internacional é este – O OVO DA SERPENTE (1977) -,
filmado no período em que ele esteve como que refugiado na Alemanha por causa
de problemas com o fisco sueco. Unindo os resultados de sua leitura do
emblemático livro “1984”, do escritor inglês George Orwell (aquele que criou o
Big Brother, o grande irmão que tudo vê e tudo controla) e de sua observação direta sobre as conseqüências
funestas do nazismo alemão, Bergman analisa em profundidade como as pessoas são
manipuladas por estímulos das mais diversas ordens.
Toma como cenário
de suas teses a história viável do que teria ocorrido, nos anos 1920 e
início dos anos 1930, em pequenas vilas alemãs, onde as pessoas eram
estimuladas por gases, com suas reações analisadas e posteriormente
controladas. Eram permanentemente vigiadas
por câmeras em seus locais de trabalho. Ali estava a origem (o próprio
ovo da serpente) do geral condicionamento do povo alemão contra os judeus, ao
tempo do nazismo de Adolf Hitler, com as
atrocidades hoje conhecidas como o genocídio dos campos de concentração. Os
acontecimentos expostos em O OVO DA SERPENTE tornaram-se corriqueiros e
consentidos nos dias de hoje, em que é evidente a dominação soft das ações humanas pelos meios de comunicação e por órgãos
governamentais. Considerado o maior
diretor de cinema de nosso tempo pela Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas dos Estados Unidos pelo conjunto de sua obra, Ingmar Bergman,
nascido em 1918, teve uma vida das mais
movimentadas, cujos episódios mais marcantes estão fixados também em outros filmes que produziu e dirigiu, como MORANGOS SILVESTRES (1957),
GRITOS E SUSSURROS (1972), A FLAUTA MÁGICA (1975).
Bem observada, a trama não
se resume à denúncia das origens do nazismo. Na verdade, a experiência alemã
serve de base para uma reflexão bem mais profunda: os regimes de exceção,
baseados na administração das frustações e do ódio, não são criados da noite
para o dia, pelo contrário, são gestacionados com técnica e persistência. Seus
discursos precisam ser testados ao limite, para depois serem legitimados, são
formas de experimentar e preparar a aceitação de parâmetros ideológicos que
justifiquem agressões à democracia. O OVO
DA SERPENTE é um filme forte, pujante, corajoso e obrigatório, principalmente
no momento atual no Mundo!!