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sábado, 31 de dezembro de 2011

SANGUE E HONRA (Ironclad) Inglaterra, EUA, Alemanha, 2011



SANGUE E HONRA (Ironclad) Inglaterra/ EUA / Alemanha, 2011 – Direção Jonathan English – elenco: James Purefoy, Brian Cox, Kate Mara, Derek Jacobi, Paul Giamatti, Charles Dance, Jason Flemyng, Jamie Foreman, Mackenzie Crook, Rhys Parry Jones, Aneurin Barnard, Vladimir Kulich, David Melville, Annabelle Apsion, Steffan Rhodri – 121 minutos.

É o ano 1215 e os barões rebeldes da Inglaterra forçaram o seu desprezado rei João à colocar seu selo real na Carta Magna, um nobre documento que mantinha os direitos dos homens. No entanto, meses depois de prometer à Carta Magna, o Rei descumpriu sua palavra e montou um exército de mercenários, na costa sul da Inglaterra com a intenção de trazer os barões e o país de volta ao seu domínio tirânico. Mas no seu caminho estava o castelo do poderoso Rochester, um lugar que se tornaria o símbolo da luta memorável dos rebeldes por justiça e liberdade. Foi um dos momentos mais violentos e cruciais da Inglaterra do Século 13. A devastadora batalha pelo Castelo de Rochester se tornou uma verdadeira lição de honra, lealdade, verdade, intolerância, ação e emoção. Os seus heróis foram apagados da História... ATÉ AGORA!!



Não faltam sangrentas cenas de batalha nessa produção sobre um personagem histórico pouco explorado nos cinemas: o rei inglês João Sem Terra, que assumiu o trono com a morte do irmão – o amado Ricardo, Coração de Leão. Na lenda de Robin Hood, é João quem persegue o fora da lei com a ajuda do Xerife de Nottingham. A narrativa inicial conta como ele foi obrigado a assinar a Carta Magna, e depois se rebelou contra a mesma. Focalizando os eventos que se seguiram, com a decisão de João de retomar o famoso Castelo de Rochester, que estava sob a custódia de um arcebispo, um lugar que se tornaria o símbolo da luta memorável por justiça e liberdade. Porém, é a presença dos cavaleiros templários, centrados na figura de James Purefoy (que cria um personagem sério, forte e letal), que toma fôlego para revidar o rei tirano. SANGUE E HONRA faz lembrar um pouco CORAÇÃO VALENTE (1995), um filme violento, sério, repleto de batalhas grandiosas, e que não peca na história contada. SANGUE E HONRA tem quase a mesma qualidade, com suas cenas de fúria e diálogos bem orquestrados. ABSOLUTAMENTE PODEROSO, MAGNÍFICO E UM DOS GRANDES FILMES DO ANO!!

ALGUMAS BATALHAS MUDAM O DESTINO DE UMA GUERRA. CONHEÇA A BATALHA QUE MUDOU A HISTÓRIA.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O PALHAÇO - Brasil, 2011



O PALHAÇO – Brasil, 2011 – Direção Selton Mello – elenco: Selton Mello, Paulo José, Larissa Manoela, Giselle Motta, Fabiana Karla, Moacyr Franco, Teuda Bara, Jackson Antunes, Álamo Facó, Cadú Fávero, Erom Cordeiro, Tony Tonelada, Hossen Minussi, Maíra Chasseraux, Tonico Pereira, Ferrugem, Danton Mello, Jorge Loredo – 90 minutos.

É possível enxergar Fellini num filme que beira o onírico, pisca para o bizarro, mas se encerra no realismo. E até Wes Anderson - especialmente seus Tenenbaums (“Os Excêntricos Tenenbaums”) - numa família de gente estranha, cada um com seus talentos e incompreensões. Mas esses e outros diálogos vêm de quem assiste ao filme, pois Selton fez um longa que tem vida própria. Aqui, ele está em jornada tripla. Além de dirigir, atua e é responsável pelo roteiro, escrito em parceria com Marcelo Vindicatto. E, para aqueles que acusam Selton de repetir-se no cinema - uma espécie de personagem de si mesmo -, O PALHAÇO é a prova de seu talento. Dirigindo a si mesmo, o ator é capaz de se reinventar num personagem que foge de qualquer coisa que já o vimos fazer antes. Isso se dá especialmente porque ele tem ao seu lado o grande Paulo José num personagem daqueles maiores que a vida, que ameaça tomar o filme para si. Mas o diretor encontra o equilíbrio e é gratificante assistir a dupla em ação.
Paulo e Selton são pai e filho e também uma dupla de palhaços, com nomes artísticos de Puro Sangue e Pangaré. O rapaz, cujo nome de batismo é Benjamim, nunca conheceu uma vida fora do circo. Ser palhaço, pensa ele, não foi sua escolha, foi uma consequência da vida. Por isso mesmo, quando surge uma rebeldia adolescente tardia ele quer cair no mundo. Descobrir o que há além da tenda do circo é descobrir a si mesmo, mergulhar nas oportunidades, correr riscos e chegar às conquistas. Porque até então a vida de Benjamin não lhe pertencia. Para qualquer personagem, seja no cinema ou na literatura, obter sua independência é uma viagem, que pode ganhar tons metafóricos. Em O PALHAÇO o protagonista cai no mundo em busca de um ventilador e um amor. Desculpas bobas, porque o que ele quer mesmo é encontrar sozinho sua identidade. Fazer essa viagem é abrir mão do velho para abraçar o novo. O palhaço perde o circo para ganhar o mundo. Personagens estranhos cruzam o caminho de Benjamim. Eles são a prova de que, de perto, ninguém é normal. Eles também são a oportunidade que Selton encontrou para resgatar e homenagear ídolos de sua infância.



Entram em cena o ex-garoto-propaganda Ferrugem (ator-mirim que marcou época na década de 1970 e agora reaparece quarentão), como o atendente de uma prefeitura, no papel de um burocrata; Jorge Loredo, aos 86 anos, despe mais uma vez a roupa de seu personagem mais famoso, o eterno Zé Bonitinho, para viver o dono de uma loja de ventiladores que passa as noites contando piadas sem graça para seus funcionários; igualmente digno de nota é a participação de Teuda Bara, uma das fundadoras do grupo de teatro Galpão, que dá um show com os olhos em O PALHAÇO; mais conhecido do grande público, Tonico Pereira completa o time de coadjuvantes que dão sabor especial a esse grande filme. Agora, há que se destacar o brilho de Moacyr Franco, cujo personagem domina sua única cena de tal forma que o ator, aos 75 anos, ganhou o seu primeiro papel no cinema – uma cena de três minutos, na qual interpreta um delegado de cidade do interior às voltas com quatro forasteiros de uma trupe de circo. O texto é tão bom e o seu desempenho tão impressionante que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no último Festival de Paulínia. O filme saiu do Festival com prêmios de roteiro, figurino e direção. O cantor e compositor também usou toda a sua espertisse para ajudar o diretor do filme na seleção de músicas da trilha sonora, que inclui clássicos do cancioneiro brega, nas vozes de Nelson Ned (Tudo Passará), Altemar Dutra e Lindomar Castilho. O desempenho de Moacyr Franco é apenas um dos achados de Selton Mello em sua terceira incursão atrás das câmeras. Como havia feito no curta-metragem “Quando o Tempo Cair” (2006), protagonizado por Jorge Loredo, e no longa “Feliz Natal” (2008), com a participação destacada de Darlene Gloria e Lucio Mauro, o diretor surpreende com várias de suas escolhas. É possível até fazer um paralelo entre Selton e Benjamim. Selton precisou se tornar diretor para se reinventar como ator - fazendo muito bem as duas funções. Benjamim precisa sair do centro do picadeiro para descobrir o seu verdadeiro lugar. Numa jornada, o ponto de partida é tão importante quanto o de chegada. UM DOS MELHORES FILMES DO ANO!!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A ÁGUIA DA LEGIÃO PERDIDA (The Eagle) EUA, 2011



A ÁGUIA DA LEGIÃO PERDIDA (The Eagle) EUA, 2011 – Direção Kevin MacDonald – elenco: Channing Tatum, Jamie Bell, Donald Sutherlhand, István Göz, Bence Gerö, Mark Strong, Denis O’Hare, Paul Ritter, Zsolt László, Julian Lewis Jones, Aladár Laklóth, András Faragó, Douglas Henshall, James Hayes – 114 minutos.

É uma adaptação do romance homônimo de Rosemary Sutcliff e um drama histórico que se passa na Inglaterra do ano 140, 20 anos depois que a Nona Legião Romana enfrentou os Bretões ao norte do país e foi brutalmente vencida, tendo a Águia Romana feita de ouro roubada e jamais recuperada pelos romanos. O Imperador Adriano mandou construir uma fortificação feita de madeira e pedra de 118 quilômetros, com 4,5 metros de altura e 2,5 metros de largura, separando o Império Romano das invasões militares constantes dos habitantes da Escócia como os Pictos e os Escotos, que ficou pronta em 126 D.C. É nesse ambiente que chega a uma fortificação romana próxima à Muralha de Adriano, ou seja ao norte da Bretanha, o jovem Centurião Marcus Flavius Aquilla (Channing Tatum), traumatizado pela perda do pai, que lutara na fatídica luta da Nona Legião e morrera na mesma. Querendo recuperar a honra familiar ele opta por este posto no final do Império, e lá encontra soldados duvidando de seu poder de comando e que ele trazia má sorte. Enfim, logo no início do filme, os bretões atacam a fortificação e Marcus corajosamente enfrenta a horda invasora, mas é ferido gravemente em combate e mandado de volta para a casa de seu tio (Donald Sutherland) ao sul da Bretanha. Lá enquanto se recupera de seus ferimentos e é liberado do Exército Romano a contra-gosto, Aquilla salva da morte um escravo bretão chamado Esca (Jamie Bell), que acaba lhe devendo a vida. Depois de totalmente recuperado de suas lesões, Aquilla resolve ir além da Muralha de Adriano e resgatar a Águia Romana e recuperar a honra de seu pai. E nessa empreitada, segue junto o escravo Esca, que lhe ajudará dentro do terreno inimigo, além de conhecer a língua dos mesmos. Um grande filme que merece ser descoberto, com um suspense e aventura eletrizantes. Poderoso e imperdível!!


domingo, 25 de dezembro de 2011

1º Lugar - LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) Inglaterra, 1962



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

1º Lugar - LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) Inglaterra, 1962 – Direção David Lean – elenco: Peter O’Toole, Omar sharif, Anthony Quinn, Alec Guinness, Anthony Quayle, Jack Hawkins, José Ferrer – 205 minutos.

Aclamado unanimementemente como o maior filme de toda a história do cinema. Indiscutivelmente é o melhor filme de todos os tempos. Todo filmado durante quase 300 dias, na Jordânia e em outras locações remotas, criou as mais fascinantes imagens do deserto já vistas no cinema. Ele construiu, ao longo de quatro décadas, a reputação de ser um dos mais belos espetáculos cinematográficos. É uma obra popular, mas de altíssima sofisticação intelectual. É o perfeito exemplo de que os filmes épicos conseguem se tornar melhores ainda com o decorrer do tempo. Grandioso e absolutamente belo, conta a história de uma das figuras mais fascinantes e lendárias da História do Século XX: o Tenente Thomas Edward Lawrence, o inglês que na Primeira Guerra Mundial conseguiu o feito de reunir sob o seu comando árabes de tribos diversas contra o domínio turco na região. Ao mesmo tempo em que consegue grandes vitórias, liderando os exércitos beduínos, ele também entra em confronto com seus superiores. Lawrence foi uma das personalidades mais enigmáticas e discutidas de sua geração. Ele se sentia mais à vontade em trajes de beduíno, era um humanista que comandava batalhas sangrentas e um homossexual que nunca assumiu e nem consumou sua condição.



Brilhante aluno de Oxford, arqueólogo, soldado, estrategista, escritor, herói desiludido e motociclista, ele foi um apaixonado pelo deserto que sonhou com a unificação das tribos árabes. Este sonho o levou a conduzi-las à vitória contra o exército turco, que era aliado dos alemães na Primeira Guerra Mundial. O filme é baseado na célebre biografia escrita por ele mesmo: Os Sete Pilares da Sabedoria. Na época do seu lançamento, para poder ter mais sessões, foi cortado em 20 minutos por imposição do produtor Sam Spiegel. Só em 1989, quando foi relançado em Cannes, com uma versão restaurada e minuciosamente recuperada pelo restaurador Robert Harris, foi finalmente apresentado em sua versão integral. Nenhum filme da era digital é páreo para LAWRENCE DA ARÁBIA. Trata-se de um indiscutível momento de superioridade do cinema, da sua magia, da sua grandiloqüência, brilho e sonoridade. Foi indicado a 10 Oscars, ganhou 07, inclusive de Melhor Filme do Ano. Peter O’Toole no papel título tem um desempenho magnífico e é considerado uma das maiores performances do cinema, foi indicado a melhor ator, mas perdeu absurdamente.



Na galeria dos coadjuvantes têm verdadeiras fortalezas: Alec Guinness, Omar Sharif, Anthony Quayle, Anthony Quinn, Jack Hawkins, José Ferrer. Um elenco de superioridade ímpar. O épico é simplesmente monumental, principalmente do ponto de vista de quem observa com detalhes e tem olho clínico para as percepções mais sutis. Ele faz justiça à dimensão quase sobrehumana da personagem. Lawrence possuía um frágil equilíbrio psicológico, perturbado tanto por perdas como por conquistas, um narcisismo quase arrogante e outras vezes quase infantil. É a obra-prima do diretor David Lean e merece lugar de destaque em qualquer filmoteca de colecionador. David Lean foi um dos maiores realizadores do cinema, ele tinha um estilo bastante acadêmico e muito majestoso, e possuía duas qualidades invejáveis nas quais ele era recordista: imaginação e ambição.



Com primorosa maestria, agarrou a chance de deslocar centenas de técnicos, atores e figurantes para paragens tão hostis e distantes, com o propósito de exibir um enigma sedutor, sem a pretensão nem a preocupação de resolvê-lo. É principalmente nisso que repousa a grandeza de Lawrence da Arábia (tanto filme como personagem). O filme se encerra numa atmosfera de desilusão e derrota. Um perceptível tom de dolorosa poesia permeia a narrativa, criando um forte elo entre o filme e o espectador. Mas ele está destinado a permanecer para sempre nas lembranças, primeiro por suas próprias qualidades e, segundo, pela restauração impecável, que trouxe a oportunidade de revê-lo completo e ampliado. LAWRENCE DA ARÁBIA permanece como o maior filme do cinema, a mais fascinante história de um mito, de uma lenda, cheia de controvérsias e mistérios. WINSTON CHURCHILL certa vez fez um comentário célebre: “Considero-o um dos mais maiores do nosso tempo. Eu não o imagino noutro lugar. Seu nome vai viver na história inglesa; permanecerá nos anais da guerra; e viverá nas lendas da Arábia”.

domingo, 18 de dezembro de 2011

2º Lugar - O PIANISTA (Le Pianiste) França, Alemanha, Polônia, Inglaterra, 2002



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

2º Lugar - O PIANISTA (Le Pianiste) França/Alemanha/Polônia/Inglaterra, 2002 – Direção de Roman Polanski – elenco: Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Frank Finlay, Maureen Lipman, Emilia Fox, Ed Stoppard, Julia Rayner, Jessica Kate Meyer, Ruth Platt – 148 minutos.

Para mim, é sem dúvida, o melhor filme do ano de 2002 e um dos dez melhores desta década. Um espetáculo obrigatório, comovente e sensível, de um realismo extraordinário e emocionante até às lágrimas. Um marco na história do cinema! Um triunfo sem precedentes! Adrien Brody está fabuloso numa interpretação apaixonada de um pianista, que sobreviveu à perseguição dos nazistas trocando de esconderijos enquanto Varsóvia era destruída. Sobreviveu durante seis anos, sem sair da cidade, às vezes por causa de sua música, outras vezes por pura sorte. Mostra de forma muito crucial e real como nasceu o Gueto de Varsóvia. Não é nenhuma saga heróica, não há o uso de “mise-en-scène” para provocar lágrimas e nem possui traços de sentimentalismo barato, muito comum em filmes desse gênero, apenas um soberbo e meticuloso trabalho sobre o holocausto.



Este drama poderoso é todo baseado na biografia (publicada em 1946) do polonês Wladyslaw Szpilman, falecido no ano 2000. Em 1939, Szpilman tocava o “Noturno” de Frédéric Chopin num programa de rádio de Varsóvia, quando os alemães tomaram a cidade. A família do pianista era muito bem instruída e vivia muito bem. Ela era formada pelo pai, pela mãe, duas filhas e dois filhos, entre eles Wladyslaw. Não se deixaram levar pelos primeiros sinais de segregação, principalmente quando a Inglaterra declarou guerra à Hitler. Eles acreditaram que logo tudo terminaria bem. E isso, como sabemos, não aconteceu. A Polônia caiu nas mãos dos alemães e uma tragédia de proporções inimagináveis se solidificou. Primeiro veio a limitação das quantias em dinheiro que os judeus podiam guardar. Depois, as braçadeiras com a estrela-de-David, a proibição de entrar em restaurantes, de sentar nos bancos dos parques, de freqüentar escolas. Logo foram transportados para o gueto; depois vieram os trabalhos forçados, a fome, as execuções casuais, os cadáveres largados pelas ruas, a deportação para os campos e o terrível extermínio.



O próprio diretor – Roman Polanski – foi judeu perseguido pelo nazismo, por isso aqui ele faz uma viagem a esse passado, de forma impecável. Muito do filme não passa de memórias do cineasta. É o seu filme mais pessoal. O drama real do pianista polonês se funde com a infância de Polanski, que morava em Cracóvia desde os 03 anos, quando a guerra começou. Polanski ficou celebrizado por filmes de notável qualidade, mas duas obras o consagraram por definitivo: o perturbador O BEBÊ DE ROSEMARY (1968), um dos mais inquietantes filmes do cinema e o eletrizante CHINATOWN (1974). O PIANISTA recebeu 7 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Montagem, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, mas só ganhando nestas três: Melhor Diretor (Roman Polanski, merecidamente), Melhor Ator (Adrien Brody, muito justa a sua premiação, pois ele faz miséria com a emoção do espectador) e Melhor Roteiro Adaptado. Ganhou também a Palma de Ouro no Festival de Cannes; dois Bafta, concedido pela Academia Britânica, além de dezenas de outros prêmios importantes. Lançado originalmente aqui em São Paulo em 03 de março de 2003, foi um enorme sucesso de crítica e de público. O grande mérito deste espetáculo inesquecível é o de transformar uma realidade brutal num filme otimista. Arrebatador e violentamente emocional é um relato íntimo, verdadeiro, real, como nenhum outro sobre o holocausto. Um drama soberbo e poderoso!! Um dos maiores filmes do cinema!!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

3º Lugar - TRILOGIA "O PODEROSO CHEFÃO" (The Godfather Trilogy) EUA, 1972, 1974, 1990



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

3º Lugar - TRILOGIA "O PODEROSO CHEFÃO" (The Godfather) EUA, 1972, 1974, 1990

O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather) EUA, 1972 – Direção Francis Ford Coppola – Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, Richard Castellano, John Cazale, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte, Al Lettieri, Al Martino, Morgana King, Gianni Russo, Abe Vigoda, Sofia Coppola – 171 min.

O maior fenômeno do cinema na década de 1970! Sacudiu as platéias do mundo inteiro, com uma história forte e intensa, contando a saga da família de Don Vito Corleone (papel soberbo de Marlon Brando, que foi premiado com o Oscar). Em Nova York, em meados dos anos 1940, o líder mafioso Vito Corleone resiste às pressões de outras famílias para que entre no ramo do narcotráfico. Ele quer conquistar respeitabilidade para sua família e seus negócios e confia no filho Michael, saído da Universidade, para sustentar essa fachada “limpa”. Ao contrário de Michael, o filho mais velho, Sonny, é violento e temperamental, mas os papéis dos dois sofrem uma reviravolta no curso da guerra entre famílias mafiosas rivais. Esta obra-prima épica de Francis Ford Coppola apresenta um Marlon Brando magnífico em um papel, que parece ter sido criado para ele. Foi premiado com o Oscar (como já citado acima), como o patriarca da Família Corleone, mas recusou o prêmio, protestando contra a discriminação feita pelo governo norte-americano e por Hollywood aos índios. Além de não comparecer à festa do Oscar, ele enviou uma atriz, cujo nome era Sacheen Littlefeather, que se fez passar por uma índia e leu um protesto. Tal atitude causou um mal-estar, mas Brando nunca voltou atrás. O diretor Francis Ford Coppola é um dos grandes nomes do cinema contemporâneo. Realizou filmes notáveis como AGORA VOCÊ É UM HOMEM (1969), A CONVERSAÇÃO (1974), APOCALYPSE NOW (1979), TETRO (2009) entre outros. Em O PODEROSO CHEFÃO ele mostra um arrepiante retrato da ascensão e queda do clã siciliano na América, magistralmente equilibrando a história entre a Família Corleone e o crime organizado no qual está envolvida. Baseado no livro de sucesso de Mario Puzo e com interpretações que consolidaram a carreira de Al Pacino, James Caan e Robert Duvall, este cruel e brilhante filme recebeu onze indicações ao Oscar e ganhou três, incluindo Melhor Filme do Ano, Melhor Ator (Marlon Brando) e Melhor Argumento (Roteiro Adaptado). Só não levou mais prêmios, porque em 1972 foi um ano forte e na disputa havia CABARET, (com Liza Minelli), que era um candidato fortíssimo e ganhou 09 Oscars. O elenco ainda tem atuações magníficas de Diane Keaton, Tália Shire, Richard Castellano, John Cazale, Sterling Hayden e o bebêzinho era nada menos que a hoje Sofia Coppola. O PODEROSO CHEFÃO é um dos melhores filmes dos anos 1970, na opinião unânime da crítica internacional. É uma verdadeira obra-prima! Um dos maiores filmes do cinema mundial! Imperdível e obrigatório!.



O PODEROSO CHEFÃO – 2ª PARTE (The Godfather – Part II) EUA, 1974 – Direção Francis Ford Coppola – Elenco: Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, John Cazale, Lee Strasberg, Gastone Moschin, Bruno Kirby, Marianna Hill, James Caan, Morgana King, Abe Vigoda, Harry Dean Stanton, Gianni Russo, Danny Aiello, Roman Coppola, Sofia Coppola – 200 minutos.

Na história do cinema é muito raro encontrar seqüências de qualidade admirável. E raridade maior é a seqüência superar o filme original. O PODEROSO CHEFÃO PARTE II foi o primeiro a garantir essa qualidade e reverência sem precedentes junto à crítica e ao público. Coppola realiza sua primeira obra-prima (não desmerecendo a primeira parte da saga) que dá continuidade à história da família mais conhecida e consagrada da história do cinema: Os Corleone. Baseado na obra do escritor Mario Puzo (também co-roteirista), o diretor aplica estratégica e esteticamente a estrutura da narrativa paralela, filmando a origem e a sucessão de dois chefões que lideravam o clã dos Corleone. Desde o início do século XX, relata as raízes e motivações que formaram o primeiro “Don” – Vito Andolini Corleone – aos feitos de seu herdeiro Michael, ao nos revelar suas habilidades “gerenciais” e de “gestão”. Confrontando-se com problemas de “negócios”, que tornaram-no no temido, odiado e solitário mafioso em contraste a seu pai, que fora amado, respeitado e, logo, menos infeliz no comando da Cosa Nostra ítalo-americana, constrói-se aqui uma profunda análise de uma personalidade corrompida pelo dever atávico de proteção dos interesses e de seus entes mais próximos. Nesta seqüência, a ênfase no enredo é sobre Michael Corleone e se dá no período da caça às bruxas do Senado americano contra as facções imperiais do poder “paralelo”, fazendo a limpeza de imigrantes ilegais da honrada e “injustiçada” nação yankee; este momento histórico serve como uma espécie de elemento deflagrador da verdadeira personalidade do outrora patriótico, íntegro e encantador bom moço que, desde o término do primeiro filme, passamos a experimentar animosidade a Michael e seus métodos de execução à sua estirpe. E Vito Corleone é retratado de modo poético e amargamente nostálgico de sua infância na Sicília e nos tempos da imigração à terra da liberdade – uma questão politicamente atemporal –, desvelando as verdadeiras origens e facetas do American Way of Life, sem opacidades de uma realidade histórica que fora por vezes romanceada por seus maquiadores hollywoodianos.



Plasticamente, o filme apresenta, como no anterior, um visual épico e operístico. Sua fotografia característica, somada a uma direção de arte impecável, retrata fielmente o momento histórico e exprime ainda um tom obscuro e ligeiramente granulado, representando as trevas que ambientam as negociações abjetas do submundo norte-americano. Gordon Willis (diretor de fotografia) subexpõe o negativo que resulta, por pouca iluminação e baixa sensibilidade, em uma granulação e escurecimento da imagem, servindo pertinentemente à atmosfera proposta por Coppola. Sem esquecer o material sonoro, a música do filme destaca bem a origem étnica e o tema que sublinha o estilo da família Corleone. Um tema indelevelmente antológico composto por Nino Rota, cujas músicas são constantes nos filmes do também italiano e genial cineasta Federico Fellini. Nesta segunda parte, Carmine Coppola, pai do diretor, acrescenta suas composições à trilha sonora, cuidando especificamente das músicas e canções italianas que marcam a obra, fazendo com que elevem o filme a um status estético de uma ópera siciliana violenta e poética. Poucos filmes alcançam um patamar de obra mestra, que permeia a tênue camada entre arte e cultura de massa nas fitas da Meca do cinema e Coppola o faz magistralmente, entregando-nos história americana, drama e entretenimento popular. Posso afirmar que estes foram os primeiros blockbusters que ainda detinham qualidade artística. Destarte O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II preenche o currículo de um dos maiores mestres e estetas do cinema que estaria, postumamente, a nos oferecer muito mais de seu brilhantismo e talento em suas obras subseqüentes que são, sem exageros, dignas de um consagrado gênio barroco. Absolutamente notável!!



O PODEROSO CHEFÃO – 3ª PARTE (The Godfather – Part III) EUA, 1990 – Direção Francis Ford Coppola – Elenco: Al Pacino, Andy Garcia, Diane Keaton, Talia Shire, Eli Wallach, Sofia Coppola, Joe Mantegna, George Hamilton, Bridget Fonda, Raf Vallone, Franc D’Ambrosio, Helmut Berger, Donal Donnelly, Richard Bright, John Savage, Al Martino, Don Novello, Vittorio Duse – 172 minutos.

Uma das maiores sagas da história do cinema se completa. Nesta terceira parte da trilogia épica dos Corleone, Al Pacino revive de forma brilhante o papel de Michael Corleone, o poderoso líder da família. Agora na casa dos sessenta anos, ele é dominado por duas obsessões: libertar sua família do crime e encontrar um sucessor adequado. O sucessor poderá ser Vincent (Andy Garcia), que também poderá ser a faísca que transformará a esperança de legitimidade de Michael em um inferno de violência mafiosa. Francis Ford Coppola dirige Al Pacino, Andy Garcia, Diane Keaton, Talia Shire, Eli Wallach, Sofia Coppola, Joe Mantegna e muitos outros, nesta empolgante e espetacular sequência, que magistralmente esplora os temas de poder, traição, vingança e amor.

Este é o filme que mostra o ápice e o fim da carreira e trajetória de Michael Corleone. Aqui, o personagem é apresentado já como um importante homem de negócios, da década de 1970-1980, e seu enredo se desenvolve em torno da luta de Michael para se livrar de seu passado ligado à mafia com vistas a procurar se tornar um investidor em nível mundial. Neste sentido, o filme mostra com fidelidade as lutas internas no mercado financeiro, bem como a ingerência de setores da sociedade acima de qualquer suspeita (como a cúpula da Igreja Católica no Vaticano) neste mercado financeiro mundial. O drama de Michael se desenrola na medida em que várias intrigas incluindo até representates do Vaticano o atingem e ele se vê forçado também a procurar reconstruir sua vida pessoal dilacerada por anos de práticas criminosas. Assim, dividido entre dois mundos e entre duas realidades sórdidas (o crime e a economia), toda a ação se concentra. No fim, uma frase que ilustra bem o coroar dessa trajetória está na Bíblia e diz: "De que vale a um homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma". Recebeu 7 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Perdeu injustamente para DANÇA COM LOBOS, que é infinitamente inferior As filmagens começaram na Itália (inclusive na cinecittÁ) no dia 27 de novembro de 1989, onde se estenderam por cinco meses. As demais locações foram em Nova York. O diretor estourou o orçamento previsto, gastou 50 milhões de dólares, sendo que 20 milhões foram para os atores e equipe técnica. Coppola recebeu seis milhões de dólares mais a porcentagem de 15% da bilheteria. É um dos grandes filmes do cinema!! Obrigatório e imperdível!! Uma das mais importantes trilogias do cinema!!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

4º Lugar - A LISTA DE SCHINDLER (Schindler's List) EUA, 1993



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

4º Lugar - A LISTA DE SCHINDLER (Schindler’s List) EUA, 1993 – Direção Steven Spielberg – elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodall, Jonathan Sagall, Embeth Davidtz, Malgoscha Gebel, Shmulik Levy, Mark Ivanir, Beatrice Macola, Andrzej Seweryn – 195 minutos.

Este é, sem dúvida, um dos filmes mais importantes da década de 1990 sobre a Segunda Guerra Mundial, porque aborda uma das passagens mais aterradoras do conflito: o HOLOCAUSTO. É o maior triunfo cinematográfico da história!! Em 1939, o industrial tcheco Oskar Schindler compra uma fábrica de esmaltados quase falida na Polônia. Graças a seus contatos na Gestapo, recruta trabalhadores entre prisioneiros judeus do gueto de Cracóvia e passa a fornecer produtos para o exército alemão. Quando os nazistas começam a executar a “solução final”, ele intercede junto ao comandante Amon Goeth, suborna também outros oficiais e garante tratamento diferenciado para seus operários, salvando-os dos campos de extermínio. Steven Spielberg foi atraído pela “Lista de Schindler” em 1982, quando o livro de Thomas Kencally “A Arca de Schindler”, foi publicado e recebido com aclamação pelos críticos. O que fez Spielberg mergulhar no romance foi a ênfase nas experiências individuais das pessoas, dando o suporte emocional ao leitor para os catastróficos acontecimentos do Holocausto. Uma das mais ambiciosas produções já filmadas na Polônia, as filmagens de A LISTA DE SCHINDLER começaram na Cracóvia em 01 de março de 1993. E terminaram 72 dias depois, quatro dias além do planejado. A equipe predominantemente polonesa foi completada por trabalhadores da Inglaterra, Croácia, Áustria, Alemanha, Canadá, Israel e Estados Unidos, incluindo muitos poloneses-americanos. O filme foi realizado inteiramente em preto e branco. Spielberg explicou: “Virtualmente tudo que tenho visto sobre o Holocausto é em preto e branco, assim minha visão do Holocausto é o que vi em documentários e em livros, e que são na ampla maioria imagens em preto e branco”. Essa poderosa obra-prima recebeu 13 indicações ao Oscar 1994, mas ganhou somente sete, incluindo Melhor Filme do Ano, Melhor Diretor (Steven Spielberg), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora. Liam Neeson foi indicado na categoria de Melhor Ator e Ralph Fiennes como melhor ator coadjuvante. Spielberg fez o filme em homenagem a sua mãe, Leah Posner, judia alemã. “É minha primeira obra que sinto ser pessoal”, disse o cineasta, que perdeu parentes nos campos de concentração. Branko Lustig, um dos produtores do filme é um dos sobreviventes dos campos de concentração nazistas e já produziu alguns outros filmes que abordavam este tema, como A ESCOLHA DE SOFIA (1982). Como Spielberg não obteve autorização para filmar em Auschwitz, as cenas do campo de concentração foram filmadas em um set construído em um dos estúdios da Universal, construído à imagem e semelhança do real Auschwitz. Ao término do filme, quem coloca as flores nas pedras que representam os mortos em Auschwitz é o ator Liam Neeson.



Na sua biografia, o cineasta austríaco Billy Wilder faz uma revelação surpreendente. Ele garante que, se tivesse podido escolher qual o último filme que assinaria, teria dirigido A LISTA DE SCHINDLER. Mas faz uma ressalva: afirma não ter certeza de que conseguiria realizá-lo tão bem quanto Steven Spielberg. Uma afirmação dessas, dita por um dos mais geniais diretores de todos os tempos, pode ajudar a dar a dimensão do grande triunfo de técnica e emoção que é o longa-metragem do diretor de O RESGATE DO SOLDADO RYAN. Spielberg equipara-se a lendas como Alfred Hitchcock, William Wyler, John Ford e o próprio Wilder na habilidade de compor significado com os diferentes elementos do filme. Os cinco, na verdade, possuem uma capacidade quase sobrenatural de unir diálogos, movimento de câmera, montagem, cores, atuações, roupas e cenários para fazer o espectador pensar que consegue extrair um significado único, individual, de cada seqüência, quando na verdade ele está descobrindo justamente o que o cineasta deseja que descubra. Isso tem um nome: TALENTO. Spielberg, que é judeu e doou todo o cachê à fundação que coleta depoimentos dos sobreviventes do Holocausto, não queria dirigir o filme. Chegou a oferecer o projeto a Wilder (que escreveu o primeiro tratamento do roteiro, mas já tinha saúde frágil demais para a empreitada) e a Roman Polanski. Esse último recusou a oferta porque acreditava ser impossível dar conta de uma história tão pessoal. Curioso é que Polanski faria depois O PIANISTA (2002), que compartilha muita coisa com A LISTA DE SCHINDLER e chega a narrar os mesmos episódios, num filme tão bom quanto o antecessor. O trabalho mostra Spielberg em grande forma técnica e narrativa. No plano técnico, destacam-se a tocante trilha sonora de John Williams e a fotografia em preto-e-branco de Janusz Kaminski, que eliminou o verde dos cenários para tirar os tons cinzentos e conseguir imagens de maior contraste, obtendo um resultado cheio de espaços negros, que resultam tão sombrios quanto espetaculares. Aos poucos, as elegantes seqüências compostas por longas tomadas e movimentos sutis de câmera vão dando lugar ao grotesco da guerra, quando a câmera passa a vibrar e depois sacolejar, como se fizesse parte de ação. O comandante nazista Amon Goeth (Ralph Fiennes, 13 quilos mais gordo, em bela interpretação) surge aos 51 minutos de projeção, e sua brutalidade psicopata oferece o contraponto perfeito à crescente incredulidade do empresário. Ao contrário da complexa personalidade de Schindler, Goeth é mostrado de forma objetiva, unidimensional: um sádico violento, beberrão e autoritário. “A guerra traz à tona o pior em cada um de nós”, resume Oskar Schindler, na frase mais repleta de significado dos 195 minutos do longa-metragem.



Spielberg apela para as lágrimas do espectador em grandes momentos. A despedida final dos operários na Tchecoslováquia, é um exemplo emotivo. Há também a intrigante menina do vestido vermelho, um dos dois únicos momentos do filme em que a cor aparece (o outro é a chama de uma vela). O que representaria a menina? Talvez a consciência de Schindler, que parece ser o único personagem na tela a perceber que a criança possui algo de diferente e se emociona ao vê-la, nos dois momentos em que ela aparece. Quando ele se emociona, não se engane, a platéia também o faz. O final do filme tem o impacto de um soco. Os operários sobreviventes caminham para a liberdade, formando uma linha no horizonte que vai se aproximando da câmera. Um corte seco, a imagem ganha cores, e a platéia percebe que está olhando para os verdadeiros sobreviventes. Se você não sentir um nó na garganta, belisque-se. Só para garantir que sangue ainda corre nas suas veias. É aterrador pensar que Israel possa agir com tanta brutalidade com os palestinos após uma experiência tão macabra e irracional. As filmagens utilizaram a verdadeira fábrica de Schindler e um dos apartamentos onde ele viveu. Steven Spielberg espera que A LISTA DE SCHINDLER renove no público a atenção sobre o Holocausto e ajude a encorajar as pessoas a explorar seu legado na sociedade moderna. “Ninguém pode fazer nada para consertar o passado – aquilo já aconteceu”, disse o diretor. “Mas um filme como este pode nos impactar, trazendo a lição para que essas coisas nunca mais aconteçam”. Indiscutivelmente, é o melhor filme da década de 1990 e um dos maiores de toda a história do cinema. É um dos mais emocionantes dramas de todos os tempos!! Um magnífico trabalho!! Um espetáculo soberbo, sem precedentes e obrigatório!!!!


domingo, 11 de dezembro de 2011

5º Lugar - TRILOGIA "O SENHOR DOS ANÉIS" (The Lord of The Rings) EUA / Nova Zelândia, 2001, 2002, 2003



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

TRILOGIA: “O SENHOR DOS ANÉIS” (The Lord of the Rings) EUA / Nova Zelândia, 2001, 2002, 2003 – Direção Peter Jackson - A SOCIEDADE DO ANEL (The Fellowship of the Ring) - 2001; AS DUAS TORRES (The Two Towers) - 2002; O RETORNO DO REI (The Return of the King) - 2003 – elenco: Elijah Wood, Ian McKellen, Viggo Mortensen, Orlando Bloom, Cate Blanchett, Dominic Monaghan, Sean Bean, Liv Tyler, Hugo Weaving, Christopher Lee, Sean Astin, Karl Urban, Ian Holm, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Andy Serkis, Miranda Otto, Alexandra Astin, Sala Baker, Brad Dourif, Mark Ferguson, Bernard Hill, David Wenham, Timothy Bartlett, Robyn Malcolm, Noel Appleby, John Bach, Bruce Hopkins, Ian Hughes, Lawrence Makoare, Sarah McLeod, John Noble, Paul Norell, Bruce Phillips, Thomas Robbins, Harry Sinclair, Sadwyn Brophy, Alistair Browning, Marton Csokas, Alan Howard – 567 minutos.

As três maiores obras-primas do cinema! A mais poderosa saga do cinema mundial. Uma trilogia que é um fenômeno sem precedentes. Os três filmes estão entre os mais vistos da história. Filmada de uma só vez na Nova Zelândia, a trilogia levou oito anos da vida do diretor Peter Jackson e mais quatro dos atores e da equipe técnica. A grandiosidade do espetáculo é simplesmente insuperável e de uma beleza jamais vista em toda a história do cinema. O SENHOR DOS ANÉIS trouxe de volta fatores que pareciam perdidos no cinema atual, como os efeitos espetaculares dividindo espaço com miniaturas e truques de câmera antigos para valorizar a história, épicos com três horas de duração e o senso de aventura. Um majestoso mundo imaginário, com um universo habitado por hobbits e elfos, além de seres fantásticos e outras personagens estranhas, assim é a Terra-Média, que lembra muito a Europa Medieval. Na sua geografia predomina cadeia de montanhas azuis, nebulosas, brancas, cinzas e de mordor; além das planícies de Rohan, Dagolard e Lithlad; e mais, colinas e terreno acidentado – é o mais comum tipo de solo na Terra-Média, com várias falhas e altas colinas. A riqueza de seus personagens é ímpar: a irmandade do anel, com Frodo - o portador do Anel; Sam; Pippin; Merry; Gandalf – o Cinzento; Aragorn – o futuro rei; Legolas – o Elfo da Floresta Tenebrosa; Boromir e o Anão Gimli; entre os nobres da luz destacam-se Galadriel - a Élfica de Noldor; Théoden – o Homem de Rohan; Denethor – o Homem de Gondor; a Élfica Arwen; o hobbit Bilbo Baggins etc; entre a força das trevas destaque para Sauron – o Senhor das Trevas; o Lorde da Torre Negra, o maiar Saruman; Smeagol – o Gollum, além de vários Orcs etc. O livro O SENHOR DOS ANÉIS foi publicado em 1954 os dois primeiros volumes, e o terceiro só saiu em 1955. Seu autor, o inglês J. R. R. Tolkien, ou John Ronald Reuel Tolkien, participou de guerras e viveu experiências que se refletiram na criação de uma das maiores mitologias da literatura mundial. Ele viveu boa parte de sua vida em Oxford, uma típica cidade universitária inglesa: pequena, verde, repleta de pubs e colégios. Com ruas muito estreitas, cheias de muros, que viram dezenas de mudanças sociais, mas é aí que ele se sentia em casa, onde ensinava, estudava e escrevia. Morreu em 02 de setembro de 1973, aos 81 anos de idade, em decorrência de complicações geradas por uma hemorragia no estômago. Essa trilogia é um marco, uma obra de arte que terá para sempre um impacto devastador como o mais eletrizante espetáculo já produzido. O SENHOR DOS ANÉIS usa os mais complexos efeitos digitais para complementar a trama, dar vida ao universo de Tolkien. As cenas de ação são de notável talento. As imagens belíssimas da Nova Zelândia é o sonho de qualquer diretor de fotografia. É um orgulho fazer parte de uma geração que tem a oportunidade de apreciar algo tão belo, grandioso, fascinante e sem paralelo na história do cinema.



O SENHOR DOS ANÉIS – A SOCIEDADE DO ANEL (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring) EUA/Nova Zelândia, 2001 – Só há uma exclamação: Um Senhor Filme! É o mais fantástico e eletrizante de todos os tempos. É a adaptação da maior fantasia da história, escrita pelo inglês John Ronald Reuel Tolkien. O diretor conseguiu aquilo que era tido como inalcançável: honrar o universo de Tolkien e se sustentar sobre os próprios pés. É um dos filmes que mais se aproximam da perfeição em toda a história do cinema. É uma saga heróica, na linha dos mitos nórdicos. Nela revela-se que o anel é o instrumento no qual o Senhor das Trevas, Sauron, concentrou toda a sua malignidade. Para reconquistar a Terra-Média, ele precisa reaver seu tesouro – e é a missão do hobbit Frodo (Elijah Wood), o jovem primo de Bilbo, destruir o anel, levando-o até o inferno onde Sauron mora. Todas as forças do mal se levantam contra Frodo. A seu lado, ele tem os povos que ainda resistem às sombras. É a Sociedade do Anel, formada pelo elfo Légolas (brilhante composição de Orlando Bloom), os homens Aragorn (Viggo Mortensen), remanescente de uma nobre linhagem de humanos e Boromir (Sean Bean), o anão Gimli (John Rhys-Davies), o mago Gandalf (Ian McKellen, brilhante) e outros três hobbits. Gandalf decide que o anel do hobbit Frodo é uma arma muito poderosa para cair nas mãos do maligno Sauron. A partir daí, a irmandade é formada e começa uma viagem para destruir a jóia. O interessante é que o diretor resolveu rodar os três filmes juntos, só depois fazer os trabalhos de montagem e lançá-los separadamente (2001, 2002 e 2003), pois assim os gastos seriam menores. O filme recebeu 13 (treze) indicações ao Oscar e ganhou injustamente apenas 04 (quatro). Perdeu escandalosamente o Oscar de Melhor Filme. O diretor, que perdeu a mãe e o pai durante as filmagens, não se deixou derrubar, cumpriu quase tudo aquilo que havia prometido. Dos campos do Condado às cenas de batalhas, em que multidões de orcs, elfos e homens se enfrentam, as imagens de “A SOCIEDADE DO ANEL” são estarrecedoras. Há seqüências arrepiantes, como aquela em que a sociedade atravessa uma montanha por dentro. Sem sombra de dúvida é o filme mais caro, ousado e esperado da história do cinema, possuidor de seqüências memoráveis. O visual é arrebatador e impressionante, com uma fotografia jamais apresentada. Definitivamente é o filme que vai mudar para sempre a história do cinema. Obrigatório.



O SENHOR DOS ANÉIS – AS DUAS TORRES (The Lord of the Rings: The Two Towers) EUA / Nova Zelândia, 2002 – O segundo episódio da mais espetacular saga de toda a história do cinema é uma continuação à altura do anterior. Gigantesco, magnífico e absolutamente monumental, possui um excitamento visual jamais visto na grandeza do cinema. AS DUAS TORRES começa alucinante, seguindo Gandalf na luta mortal contra o Balrog de Moria. A seqüência seguinte nos leva em direção a Mordor, onde encontramos os hobbits Frodo e Sam e a criatura conhecida por Gollum, indiscutivelmente o mais perfeito personagem criado por um computador. Nesta continuação, o diretor sentiu-se livre para criar uma trama mais sombria, violenta e universal. A volta para a Terra-Média é marcada por sangue e batalhas impressionantes. Há seqüências de grande impacto e uma das mais exuberantes levou três meses para ser filmada: é a seqüência do Abismo de Helm. É a batalha mais tensa, cruel e violenta de todo o cinema. Um confronto entre dez mil orcs e uma centena de humanos e elfos. Para essa cena, o diretor inventou um software em que soldados digitais não são clones, como de hábito. Eles sabem diferenciar inimigos de aliados e tomam suas próprias decisões. O efeito é absolutamente realista. É algo tão grandioso e arrebatador, que se quer ver e rever mais de uma vez. Outra grande seqüência e que impressiona muito é a que mostra o diálogo entre Wormtongue (Brad Dourif), o único humano a se aliar com as forças do mal, e Éowyn (Miranda Otto), a sobrinha do rei de Rohan, que chora a morte de seu primo – forte e emocional. Há ainda a aparição das Ents, criaturas semelhantes a árvores gigantes, e seu ataque à fortaleza de Saruman é impressionante e gigantesco. As cenas de lutas são belíssimas e eletrizantes, principalmente quando Legolas (Orlando Bloom, maravilhoso) assume o comando. O filme não tem um começo e nem um fim propriamente ditos, exatamente por ser o filho do meio, ou seja, a parte dois da trilogia. Além do mais traz tanto enredo a cobrir que simplesmente não há tempo para recapitulações. O filme mergulha na ação desde o primeiro minuto para, três horas depois, fazer com que a platéia deixe o cinema num estado de suspense, que só se resolve no terceiro episódio. Os efeitos especiais continuam primorosos, proporcionando uma incrível experiência cinematográfica. Peter Jackson filmou os três filmes de uma tacada só, ao longo de quase um ano e meio, o que garantiu o custo comparativamente baixo da produção (300 milhões de dólares) e a unidade no visual e na atuação sempre notável do seu elenco. AS DUAS TORRES deixa de lado o tom pastoral de A SOCIEDADE DO ANEL para mergulhar de fato no universo épico, profundamente marcado pela mitologia nórdica. O resultado é o mais empolgante espetáculo de toda a cinematografia universal, que ressalta as trevas com grandeza e a luta da raça humana com bravura.



O SENHOR DOS ANÉIS – O RETORNO DO REI (The Lord of the Rings: The Return of the King) EUA/Nova Zelândia, 2003 – O fim da saga grandiosa de Peter Jackson é, sem sombra de dúvida, a melhor parte da trilogia. Graças ao trabalho fantástico do diretor, que manteve uma consistência assombrosa, equilibrando com talento e vigor sem igual todos os aspectos da trilogia – do fabuloso e surpreendente trabalho técnico ao apuro narrativo, passando por uma direção de atores impecável e uma capacidade inigualável de criar seqüências extraordinárias. Um filme de tamanha qualidade que nem parece de verdade. É o mais assustador e assombroso de todos os filmes do cinema, com cenas de um impacto devastador e jamais realizado em toda a cinematografia mundial. O filme possui seqüências inimagináveis, magníficas e inacreditáveis, como a batalha com um exército de mortos que devasta os inimigos; a batalha de Sam contra a aranha gigante Laracna, uma das cenas mais tensas, fortes e assustadoras até a alma, de toda a trilogia; a batalha nos campos de Pelennor, a capital da Terra-Média, não têm paralelos na história cinematográfica, dura pelo menos cinqüenta minutos, desde o cerco de Minas Tirith, passando pela arrepiante chegada dos cavaleiros de Rohan. É BEN-HUR (1959) e OS DEZ MANDAMENTOS (1956) elevado à nona potência; o último foco de resistência do exército de Gondor às portas de Mordor; a chegada dos Olifantes, a queda de um deles apenas pelas mãos de Legolas (Orlando Bloom) é o grande momento de ação do ano; e o clímax que revela o destino do Um Anel no limiar das chamas que o forjaram. São seqüências de cair o queixo, é muito excitamento visual para os nossos olhos. O trabalho de Andy Serkis é estupendo, fazendo Gollum. A fotografia de Andrew Lesnie continua mágica e só a seqüência dos faróis de Gondor já valeria um Oscar. O RETORNO DO REI é um triunfo gigantesco, só comparável à grandiosidade de Minas Tirith, a capital do reino de Gondor. Ganhador de onze Oscar, iguala o recorde de BEN-HUR (1959) e TITANIC (1997). Premiar o filme na categoria Melhor Filme do Ano foi uma das mais acertadas e justas consagrações. Foi um ano de grandes filmes, mas nenhum dos outros quatro concorrentes tinham chances, salvo se a Academia quisesse cometer mais uma daquelas injustiças que sempre marcaram a festa do Oscar ao longo dos seus mais de 80 e tantos anos. A premiação é o reconhecimento absoluto de um trabalho consistente que passou de aposta arriscada ao maior triunfo da história do cinema. Além disso, a vitória foi um reconhecimento merecido para um elenco que trocou o ego individual por um esforço coletivo soberbo. O filme não precisava de Oscar para a sua consagração, mas ao ser premiado acabou com o preconceito da Academia contra “filmes de fantasia”.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

6º Lugar - CRUZADA (Kingdom of Heaven) EUA, Inglaterra, Espanha, 2005



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

6º Lugar - CRUZADA (Kingdom of Heaven) EUA/Inglaterra/Espanha, 2005 – Direção Ridley Scott – Elenco: Orlando Bloom, Liam Neeson, Eva Green, Edward Norton, Jeremy Irons, Michael Sheen, Nathalie Cox, Marton Csokas, Brendan Gleeson, Alexander Siddig, Jon Finch, Ghassan Massoud, David Thewlis, Michael Fitzgerald, Khaled El Nabaoui, Ian Glen, Eriq Ebouaney, Jouko Ahola, Philip Glenister, Bronson Webb, Martin Hancock – 145 minutos.

De uns anos para cá, os épicos voltaram com força total em Hollywood. Contando com a avançada tecnologia em efeitos especiais, diretores e produtores conseguem, hoje em dia, recriar o passado com perfeição. E é exatamente o que Ridley Scott, um dos cineastas mais festejados de todos os tempos, conseguiu ao assinar CRUZADA, produção grandiosa que mostra um dos períodos mais ricos da História – e curiosamente esquecido pelo cinema. A produção gira em torno de um ferreiro que vive no Oriente Médio e descobre que seu pai é um cavaleiro. Com a morte dele, o jovem herda seu título, o que causa inúmeras reviravoltas em sua vida: além de viver um romance proibido, torna-se inimigo de alguns dos nobres que participam da campanha cristã no Oriente Médio – que se recusam a reconhecer a nobreza do jovem ferreiro -, e assume a responsabilidade pela defesa de Jerusalém, sob domínio cristão e à beira de um violento ataque. Como é costume no gênero, as cenas de batalha são primorosas, mas Scott, experiente, sabe que a grande força de um filme está em sua história. Exatamente por isso o roteiro é conduzido com perfeição, abrindo espaço para o diretor trabalhar cada personagem – com intérpretes de peso, como Orlando Bloom, Liam Neeson, Edward Norton e Jeremy Irons. O filme tem algumas curiosidades: Mais de 1.500 soldados do exército marroquino foram contratados como extras para as cenas de batalha; 14.000 peças de roupa, três torres de cerco e quatro catapultas foram criadas para o filme; Edward Norton (que interpreta o Rei Baldwin, coberto por uma máscara de metal lavrado e com uma atuação notável), mesmo sem mostrar o rosto, é um dos personagens mais importantes da trama. Esta nova superprodução de Ridley Scott conta como aconteceram algumas das lutas antológicas entre cristãos e muçulmanos. Orlando Bloom é muito esperto. Ao cercar-se de talento de primeira, ele teve coragem de assumir suas limitações e aprender. As lições são colocadas em prática quando ele assume o elenco desta grandiosa, envolvente e heróica produção e mostra que já é um ator de primeira, e está mais do que pronto para deixar os papéis juvenis de lado e assumir sua maturidade. Como Balian, protetor de Jerusalém durante o cerco à cidade no século XII, ele mantém-se como foco das atenções mesmo ao lado de grandes nomes do cinema como Jeremy Irons e Edward Norton. Mas CRUZADA é mais do que isso, é um épico com coragem de assumir seus momentos mais contemplativos, foi o primeiro grande filme do ano 2005, ou seja, o mais importante lançamento. Em CRUZADA, Ridley Scott retoma os temas de GLADIADOR (2000), mas distancia-se do rótulo de “filme de guerra”. “É um filme sobre tolerância”, declara o diretor. Os épicos estão em moda, novamente, após ficarem anos acumulando poeira nas estantes dos estúdios. Hollywood passou a olhar melhor para esse gênero a partir de 2000, com o sucesso estrondoso e o Oscar de GLADIADOR. Wolfgang Petersen realizou o magnífico TRÓIA (2004) e Oliver Stone escancarou o mito de ALEXANDRE (2005). Isso sem falar na poderosa Trilogia O SENHOR DOS ANÉIS (2001, 2002, 2003). Mas foi preciso um cavaleiro de verdade – e, não por coincidência, o homem que devolveu o estilo “areia e sandálias” aos cinemas com GLADIADOR – para retratar o tempo das cruzadas com o equilíbrio certo entre as seqüências grandiosas e um estudo no homem da época. CRUZADA é polêmico, romântico, edificante e, talvez seu maior triunfo, Orlando Bloom mostrando que está pronto para se tornar um protagonista de mão-cheia, caminhando rumo a um megaestrelato mais do que merecido. Sem paralelo no cinema atual, é o filme mais belo do ano. Grandioso, magnífico e exuberante, com cenas de um impacto delirante, é o novo e maior espetáculo que está eletrizando o mundo.



Esse filme poderoso mostra que é possível fazer um épico sem sacrificar a inteligência e a história. CRUZADA é prova de que a criação visual, para o diretor, não só antecede todo o resto, como é a razão primordial para que o filme exista. No momento em que começa a rodar, Ridley Scott está apenas dando forma ao que já estava vivo e completo em sua imaginação. Quando um diretor tem uma formação assim sólida – no caso de Scott, sete anos na Real Academia de Arte – e uma visão tão coesa, é difícil que ele cometa erros flagrantes. Lembrando de 1492 – A CONQUISTA DO PARAÍSO (1992) e de FALCÃO NEGRO EM PERIGO (2002), percebe-se uma grande vitalidade. Mas em CRUZADA tudo supera. Os acertos são fantásticos. O visual da fotografia é esplêndido e de insuperável beleza. A escolha do tema foi muito acertada: o momento das Cruzadas, em 1187, em que uma “détente” real poderia ter prevalecido – e a partir de uma crise. Na década de 1180, o Reino Latino de Jerusalém atravessava uma fase delicada. O rei Balduíno IV estava sendo devorado pela lepra e desafiado por um baronato cada vez mais manhoso. Os muçulmanos, pressentindo essa fraqueza, mantinham a pressão no máximo. Qualquer passo em falso seria catastrófico para os cristãos. E não tardou para que ele fosse dado, pelo cavaleiro Reynald de Châtillon (Brendan Gleeson), que atacou uma caravana na qual viajava a irmã do sultão Saladino. Na confusão que se seguiu, Saladino convocou uma “jihad”, exterminou os exércitos inimigos numa batalha estupidamente provocada pelo sucessor de Balduíno e cercou Jerusalém. No interior das muralhas havia cerca de 60.000 pessoas e praticamente nenhum cavaleiro além de Balian de Ibelin (Orlando Bloom, soberbo e inesquecível). Balian sagrou algumas dezenas de cavaleiros às pressas e comandou uma resistência engenhosa, cujo propósito era tão-somente conduzir Saladino à mesa de negociações e entregar Jerusalém em troca da vida dos sitiados. O curioso dessa sinopse é que ela corresponde, tal e qual, à história – caso inédito na Hollywood de orçamentos milionários. A maior escapadela do roteiro de William Monahan é a romantização das origens de Balian, até porque pouco se sabe sobre ele. E seu maior achado é ressaltar a admiração, de estadista para estadista, que equilibrou o jogo entre Balduíno e Saladino. “O que o filme pode fazer é mostrar que a diplomacia ainda é a solução mais benéfica para os conflitos do Oriente Médio, diz o ator e dramaturgo sírio Ghassan Massoud, que se revela uma presença magnética no papel de Saladino. Massoud é apenas um entre o grande contingente de atores e figurantes recrutados no mundo árabe para CRUZADA. Uma das exigências do diretor foi que os personagens muçulmanos fossem, sem exceção, entregues à atores da mesma fé. Massoud, em especial, foi de enorme valia para o diretor. “Ao ensaiarmos cada cena, ele nos instruía em questões relativas a atitude, motivação ou protocolo. Sua participação foi muito além da atuação. Foi indispensável”, disse o diretor. CRUZADA deveria ter recebido várias indicações ao Oscar (esperava-se justiça), não só pela sua notável realização e riqueza de detalhes, mas pela concepção verdadeira e fiel aos fatos recontados pelo diretor. Imperdível e obrigatório!



Rodado na Espanha e no Marrocos com o orçamento de US$ 135 milhões, o filme é de longe uma das empreitadas cinematográficas mais ousadas dos últimos tempos. Numa época em que a paz mundial depende do frágil equilíbrio do Oriente Médio, é preciso muita coragem para produzir um filme que trata, precisamente, do conflito entre o cristianismo e o Islã. O roteiro faz um retrato equilibrado de cristãos e muçulmanos e mostra que havia heroísmo e crueldade em ambas as trincheiras. “CRUZADA será uma fascinante aula de história”, é o que disseram os produtores do filme. E ao assistí-lo temos que concordar, mesmo indo de encontro a professores e intelectuais de plantão, que ficam questionando a obra e procurando encontrar defeitos. Orlando Bloom está fabuloso como Balian de Ibelin. No filme, ele começa a vida como um humilde ferreiro na Europa. Após a morte da esposa e do filho, viaja para a Terra Santa e se torna o último defensor de Jerusalém. O verdadeiro Balian, porém, era da aristocracia francesa da Palestina. Balian ajudou no tratado de paz entre Saladino e Ricardo, Coração de Leão, ao fim da Terceira Cruzada. Balian morreu em 1193. CRUZADA é, indiscutivelmente, o melhor filme do ano e o mais belo dos últimos dez anos. Com cenas poderosas e de inigualável beleza, pode ser considerado o apogeu do cinema. Grandioso, fabuloso, espetacular, magnífico, envolvente, faltam adjetivos para engrandecer esta monumental e gigantesca obra-prima.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

7º Lugar - ...E O VENTO LEVOU (Gone With the Wind) EUA, 1939



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

7º Lugar - ...E O VENTO LEVOU (Gone With the Wind) EUA, 1939 – Direção Victor Fleming – elenco: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Leslie Howards, Hattie McDaniel, Thomas Mitchell, Barbara O’Neil, Evelyn Keyes, Ann Rutherford, Butterfly McQueen, George Reeves, Fred Crane, Victor Jory, Everett Brown, Howard C. Hickman, Alicia Rhett, Rand Brooks, Caroll Nye – 241 minutos.

Baseado na obra inesquecível de Margaret Michell, é o retrato mais fiel e humano da terrível Guerra Civil que assolou os Estados Unidos. Com cenas de realismo palpitante, cenários exuberantes e o incomparável desempenho de Vivien Leigh e Clark Gable, esse belíssimo filme não tem rival na história do cinema. Ao longo dos seus 72 anos, completados em 2011, arrebatou uma legião de fãs incodicionais no mundo inteiro. A despeito do glamour do cinema da época dos anos 1930/1940, tornou-se um patrimônio de valor inestimável. Mais do que uma obra cinematográfica, o filme ganhou estatura de animal mitológico. Seus diálogos são daqueles lembrados na ponta da língua. E a música de Max Steiner é sempre reconhecida nos primeiros acordes. Por trás de tudo, o sonho inquebrantável de um dos maiores fabricantes de sonhos de Hollywood: David O. Selznick. Ou melhor, o gênio do sistema da época de ouro do cinema norte-americano. Foi sob a autoridade desse homem que foi possível a transposição para às telas do romance de Margaret Mitchell. Na sua realização, Selznick despediu e contratou roteiristas e diretores ao seu bel prazer. Scott Fitzgerald e Ben Hecht escreveram trechos do filme, mas o único a assinar foi Sidney Howard. Victor Fleming ganhou o crédito de diretor, mas George Cukor, Sam Wood, Sidney Franklin e o diretor de arte William Cameron Menzies responsabilizaram-se por muitas seqüências.



No entanto, apesar de todo esse entra e sai, de vira e mexe da produção, não se pode dizer que falta coerência a esse épico magnífico. Muito pelo contrário. Desde a concepção pictórica - amparada num fantástico uso do Technicolor pelos fotógrafos Ernest Haller e Ray Rennahan - às interpretações do elenco coadjuvante, o filme é de um primor absoluto. Mas, o que faz a sua grandeza é, principalmente, a maneira como um passado do país é representado e a cativante dupla de protagonistas, interpretados por Clark Gable e Vivien Leigh. Leigh, que venceu uma batalha entre muitas atrizes para ficar com o papel, faz uma Scarlett O'Hara magnífica. E nem é temerário afirmar: Scarlett O'Hara é uma das mais cativantes personagens femininas da história do cinema. Mimada, manipuladora e instável, ela é o que se pode chamar de uma mulher complexa. Clark Gable, que faz o aventureiro Rhett Butler, foi uma escolha natural de Selznick. Ele empresta humor e muita testosterona ao seu papel. Mesmo com essa sedução extremada, não dá para fechar os olhos diante de um filme que é também um monumento ao racismo e ao machismo. Olivia De Havilland esbanja talento no papel inesquecível de Melanie, e, completando o quarteto principal do elenco, Leslie Howard está correto e convincente como Ashley Wilkes, o primogênito de Twelve Oaks, a fazenda vizinha. Foi lançado um DVD Especial de Colecionador, com quatro discos e esse DVD leva a vantagem de ter saído de um master original que teve suas gloriosas cores em Technicolor recentemente remasterizadas digitalmente. O master é o mesmo que a New Line usou para relançar o filme em 1998. A trilha sonora também foi remixada para Dolby Digital (mas, para os mais saudosos, o original mono também está disponível no disco). Outro ponto importante é que o aspecto ratio também é o mesmo da estréia (1:33) e não o widescreen que rodou nos cinemas durante muitas reapresentações (inclusive em 70mm). É imperdível para quem ama o filme e quer conhecer detalhes da produção.



O figurino da personagem Scarlett O'Hara - cheio de volume, brilhos e acessórios no começo - vai empobrecendo na medida em que a guerra assola a fazenda Tara, mas sem perder a elegância, graças ao trabalho do figurinista Walter Plunkett. O filme ganhou dez Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção e entrou para a história como um dos romances mais famosos de todos os tempos. Margaret Mitchell, autora do livro em que foi baseado o filme, escreveu o romance entre 1926 e 1929. Sua intenção original era dar à protagonista o nome de Pansy O'Hara. Apenas um mês após o livro de Mitchell ter sido lançado, o produtor David O. Selznick comprou os direitos de sua adaptação para o cinema por US$ 50 mil, a mais alta quantia já paga até então pela adaptação do primeiro livro de um autor. Mais de 1400 atrizes foram entrevistadas para o papel de Scarlet O'Hara, sendo que mais de 400 chegaram a fazer leitura do roteiro. As filmagens propriamente ditas de iniciaram-se a 26 de janeiro de 1939 por George Cukor, que dirigiu cerca de 4% da fita. Cukor principiou também a sequência do baile de Atlanta e, nessa ocasião, afastou-se da equipe. Depois por escolha de Clark Gable, o diretor escolhido foi Victor Fleming, que dirigiu aproximadamente 45% do filme. Em meados de abril, esgotado pelos aborrecimentos seguidos com Vivien Leigh (que, a exemplo de Olivia de Havilland, ia ensaiar, em sigilo, na casa de Cukor), e insatisfeito com as reclamações de Selznick, Fleming sofreu um colapso nervoso. Sam Wood assumiu a direção a 1º de maio, iniciando seus 15% de participação no filme. Quando Fleming recuperou-se e voltou, os dois diretores continuaram na direção, mas em horas e sets diferentes. Apenas após o início das filmagens foi escolhida a intérprete de Scarlett O'Hara, uma das protagonistas do filme. A escolha de Vivien Leigh foi feita pelo próprio produtor David O. Selznick. Bette Davis chegou a ser convidada para o papel de Scarlet O'Hara, mas o recusou por achar que teria que contracenar com Errol Flynn, que terminou também não fazendo parte do elenco.



A primeira cena a ser filmada foi a do incêndio em Atlanta. Foram rodados 113 minutos de metragem, sendo que o que pegou fogo realmente foram sets de filmes antigos, como alguns da primeira versão de KING KONG (1933). Mas o fogo provocado foi tão intenso que vários moradores próximos ao local ligaram para os bombeiros, pensando que o próprio estúdio da MGM estava pegando fogo. Eloqüente exemplo de pioneirismo de Menzies é a seqüencia em que Scarlett caminha entre os corpos de sobreviventes da batalha de Gettysburg. A câmera acompanha a personagem num impressionante traveling aéreo, conseguido graças à utilização de um guindaste de 43 metros de altura, que rolava por uma rampa de cimento armado. Cerca de mil extras misturados com outros tantos bonecos de cera, contribuiram para a magnificência da tomada citada acima. O restante são efeitos especiais e transparência desenvolvidos por Jack Cosgrove, Lee Zavits e equipe. Vivien Leigh trabalhou nos sets de filmagem por 125 dias e recebeu por isso a quantia de US$ 25 mil. Já Clark Gable trabalhou por 71 dias e ganhou US$ 120 mil. Em 1º de julho de 1939 terminaram as filmagens e Selznick tinha diante de si uma montanha de celulóide revelado - cerca de 60.000 metros de filme, equivalente a 28 horas de projeção. Trancado dia e noite com o montador Hal C. Kern e seu assistente, James Newcom, o produtor montou a fita sem consultar nenhum dos diretores que nela tomaram parte e ordenou a filmagem de cenas adicionais, como aquela em que Scarlett se esconde debaixo da ponte numa tempestade, enquanto uma tropa da União passa sobre a mesma. A produção custou pouco mais de US$ 5 milhões aos cofres da MGM. Quatro anos depois de seu lançamento, a renda obtida pelo filme nas bilheterias já superava a marca dos US$ 32 milhões. Hattie McDaniel não pôde comparecer na première do filme em Atlanta porque era negra. Uma situação estúpida e vergonhosamente preconceituosa para uma sociedade que se achava inteligente e evoluída. É o filme épico mais adorado de Hollywood! O filme mais popular da América! Enorme e espetacular em todos os sentidos! ...E O VENTO LEVOU é uma das mais felizes adaptações da literatura norte-americana para as telas. E sem dúvida nenhuma , uma das maiores e mais fascinantes realizações do cinema. Imperdível e extraordinário!!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

8º Lugar - O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet) Suécia, 1956



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

8º Lugar - O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet) Suécia, 1956 – Direção Ingmar Bergman – elenco: Max von Sydow, Gunnar Bjornstrand, Nils Poppe, Bibi Andersson, Bengt Ekerot, Inga Gill, Maud Hansson, Inga Landgré, Gunnel Lindblom, Bertil Anderberg, Gunnar Olsson, Anders Ek, Erik Strandmark – 100 minutos.

Um dos mais importantes filmes da história do cinema! É uma parábola sombria sobre a solidão do homem diante da morte e da incerteza acerca da existência de Deus. O próprio Bergman sugeria aos espectadores que fizessem um paralelo entre a situação descrita no filme e a do homem contemporâneo, descrente e perplexo diante da possibilidade do fim do mundo. O filme surgiu como uma peça (“Pintura Sobre Madeira”, em 1954). Bergman pensava em encenar uma peça para alguns jovens, e como não encontrou nada que o agradasse, resolveu ele mesmo escrever. Quando fazia o teatro, ocorreu-lhe que deveria transformar a peça em filme e tudo aconteceu naturalmente. Apenas alguns elementos foram aproveitados no roteiro final do filme: o medo da peste, a queima da feiticeira, a Dança da Morte. Mas a partida de xadrez entre a Morte e o Cavaleiro não havia, e, nem existia o artístico-bufanesco "santo casal" Jof e Mia com seu bebê. Somente Jons, o Escudeiro, não sofreu mudanças. Bergman retornou à Suécia, reescreveu o roteiro e reuniu a equipe. Deram-lhe trinta e cinco dias e um orçamento apertado, até minúsculo pelos padrões vigentes no Reino Unido. Foram gastos cerca de 150 mil dólares e o diretor manteve-se dentro do cronograma e do orçamento. O filme foi feito em 1956 e estreou na Suécia em fevereiro de 1957. Ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e significou a definitiva consagração internacional do diretor. Ele mesmo declarou que sua principal inspiração para O SÉTIMO SELO foi o filme A CARROÇA FANTASMA (1920), de seu compatriota Victor Sjöstrom. O título do filme refere-se ao livro dos segredos de Deus, lacrado por sete selos. Os questionamentos religiosos e existencialistas estão sempre muito presentes. O cavaleiro está perturbado com a possibilidade de morrer, chegando ao ponto de considerar que aquele vazio que sente dentro de si é causado pela falta de significado da própria vida e sua religiosidade. Antonius considera que sua vida fora em vão, mas espera, com esse tempo que conquistara ao desafiar a Morte, adquirir a maior quantidade de conhecimento possível, desejo expresso também na lenda do Fausto, que vende a alma ao Diabo em troca desta realização - a coincidência entre o caso destas duas personagens é algo que merece certa reflexão. O Cristo que aparece alternadamente aos planos feitos do cavaleiro, nos dão a idéia da menção de uma plena discussão sobre o real estado de espírito de Jesus quando descobriu que seu sacrifício era iminente. Será que absorvera sereno, ou discutiu sua sanidade, destino e o futuro que lhe era desenhado e que estaria sendo usurpado por seus juízes? O filme possui inúmeros planos belos e funcionais contidos nessa obra-prima, dentre eles o de um crânio seguro por mãos, cobrindo a tela, tendo em segundo plano os braços entrelaçados dos suplicantes religiosos. Também a chama que brota por trás do cavaleiro e seu escudeiro, iluminando o fundo como um fogo do inferno, pronto para acender as lascas que queimarão a jovem sacrificada. Outro que merece atenção, principalmente pela quebra do simbolismo seguido dentro do filme, é o do homem desesperado por estar morrendo por causa da peste e que agoniza ocupando somente um canto de tela, deixando o resto preenchido pela floresta e o negrume da noite. O SÉTIMO SELO foi aclamado internacionalmente como uma obra-prima cinematográfica! Um dos melhores filmes de todos os tempos!!!!!



O filme possui enquadramentos clássicos, tipicamente renascentistas, utilizando demasiadamente o centro de tela ou, ao menos, uma triangulação simétrica, que dão um tom quase religioso à peça que, na realidade, torna-se uma discussão sobre a existência, o divino, a religião e os desígnios do Homem. É impossível não comentar a cena clássica, no belíssimo plano em que sentam, frente a frente, de perfil para o espectador, o cavaleiro e a Morte, iniciando a disputa estratégica, tendo no centro o tabuleiro com as peças pretas e brancas, e no fundo aquele céu tenebroso e escuro. A partir desse momento em que Antonius encontra-se face a face com a Morte, iniciam nele questionamentos a respeito de sua própria existência e, na verdade, sobre Deus. Percebendo a dificuldade que seria o encontro com o Senhor, há momentos em que procura o contato com o Demônio, achando que este seria o maior possuidor de informações sobre o primeiro, devido à proximidade entre eles. O temor da morte e as incertezas causadas pela sua presença estão atuantes durante todo o filme, seja em Antonius, seja no saltimbanco que acaba morrendo na floresta de maneira curiosa, ou na população que está encarando a Peste, sendo acusada pelos sacerdotes de ser a culpada por sua sina, graças à sua descrença e mundanismo. A religião é um alento, uma castração ou uma realidade? Bergman discute através de diversas situações, retratando a suposta bruxa que deve ser sacrificada num auto-de-fé, fazendo os cavaleiros se questionarem sobre quem cuidará de sua alma: Deus, o Demônio, os Anjos ou o Vazio? Há os momentos em que a Morte encontra-se presente no plano físico, sempre numa figura eclesiástica, como um padre que escuta as confissões do cavaleiro e acaba induzindo-o a contar-lhe a estratégia de jogo para derrotá-la sobre o tabuleiro. Também há o saltimbanco que seduz uma mulher casada, após vê-la através de um pequeno espelho, imagem esta que podemos vislumbrar, mesmo a grande distância, num belíssimo plano. É exatamente aquele que acaba como cadáver na floresta pelas mãos da Morte. A montagem do filme, apesar de sutil, tem função primordial. Além de escolher certas fusões em determinados momentos, no intuito de dilatar o tempo e nos passar a sensação de solidão do período, também constrói seqüências que manipulam nossos sentidos, como, por exemplo, quando coloca sucessivamente vários rostos na tela, testemunhas da procissão, em meio ao incenso que vai cobrindo a paisagem, reagindo de maneiras similares ao terror da religião, culminando no plano próximo do Cristo crucificado, carregado pelos penitentes de joelhos lacerados.



O filme revela uma alegoria em preto e branco sobre a busca infinita pelo sentido em um mundo caótico: o mundo do século XIII, devastado pela Peste Negra. Antonius Block (Max Von Sydow, numa performance exuberante) retorna das Cruzadas e encontra sua vila destruída pela doença, pela peste. A Morte aparece para levá-lo, mas Block se recusa a morrer sem ter entendido o sentido da vida. Propõe então um jogo de xadrez, em uma tentativa de burlar a única certeza que o habita. Apesar de perder o jogo de xadrez, a Morte continua a perseguí-lo enquanto viaja pela Suécia medieval. Block descobre os aspectos mais repugnantes do fervor religioso: a tortura, a caça às bruxas, o espectro da Morte alimentando-se da fraqueza humana. Block também toma quatro pessoas sob sua proteção: o ateu Squire Jons, os jovens Mia e Jof e seu bebê. Alguns críticos associam os nomes e a presença quase imune à morte do casal à Sagrada Família. O filme é terrivelmente íntegro na investigação da fé. O fundamentalismo assassino de hoje é a celebração nefasta do mundo evocado em O SÉTIMO SELO. Nas palavras do próprio Bergman sobre o filme, " a idéia de um Deus Cristão tem algo de destrutivo e terrivelmente perigoso. Ele faz emergir um sentimento de risco iminente, e por consequência, traz à luz forças obscuras e destrutivas". O SÉTIMO SELO pode ser interpretado como uma alegoria do século XX e do mundo que ainda vivemos, em forma de lenda medieval. "O tema é bastante simples" – completa o diretor –, "o homem e sua procura eterna de Deus, tendo apenas a morte como única certeza." Participando das Cruzadas e testemunhando aquele mundo intolerante e degradado, o cavaleiro Block quer uma explicação, seja qual for, para entender que tudo aquilo que fez e que está presenciando não é uma completa perda de tempo. Em suma, ele deseja saber, e não crer.



Ingmar Bergman é o diretor mais famoso da Suécia. Realizou muitos filmes célebres, dentre eles MORANGOS SILVESTRES (1957), A FONTE DA DONZELA (1959), ATRAVÉS DE UM ESPELHO (1961), PERSONA (1966), GRITOS E SUSSURROS (1972), SONATA DE OUTONO (1978) e FANNY & ALEXANDER (1983). Acabou consagrado como diretor (já era reconhecido como excelente roteirista) exatamente por O SÉTIMO SELO, quando ganhou o Prêmio Especial do Juri no Festival de Cannes de 1957. Ele morreu em 30 de julho de 2008, aos 89 anos, foi enterrado 18 dias depois, na Ilha de Faro - Suécia. Este é um dos filmes mais profundos que o cinema já realizou. E suas discussões existenciais são ainda emolduradas por um estilo brilhante, com a intensidade dramática já inerente ao tema, sendo ampliada pela interpretação dos atores, pelo roteiro enxuto e cortante, pela cenografia fiel à época, nas composições e tomadas de câmara experimentais, além da música ora sussurrante, ora impactante que pontua as diferentes situações da obra. Mas o filme não termina como uma reflexão pessimista da condição humana, que a nada restaria a não ser se corroer de dúvida ante a fatalidade da morte. Isso porque, uma espécie de esperança é vislumbrada, na presença do jovem casal de artistas e seu bebê. O amor partilhado e a valorização de fatos simples e solidários, conferem, assim, uma espécie de significado concreto à nossa curta passagem pela Terra. E se na primeira vez que vi o filme, fiquei cheio de dúvidas e melancolia, ao vê-lo de novo, me senti existencialmente mais reconfortado, ao compreender um pouco melhor a réstia de esperança concreta que Bergman transmite, especialmente na ambígua e até lírica cena final desta obra-prima. O SÉTIMO SELO é um dos filmes mais importantes de toda a história do cinema, não só pela sua temática que ao longo dos séculos aterroriza e questiona o homem, sobre a existência da Vida e da Morte, mas também pela sua impecável realização.