Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

sábado, 22 de abril de 2017

SÃO PAULO EM HI-FI – Brasil, 2016 – Direção Lufe Steffen – Documentário – com a participação de Elisa Mascaro, Celso Curi, João Silvério Trevisan, Kaká Di Polly, Darby Daniel, o jornalista Mario Mendes, Miss Biá, Sérgio Moreira (Manon), Adelson Moreira, Beto de Jesus, James Green, Leão Lobo, Greta Starr, Samuel de Oliveira, Laura Bacellar, Fátima Tassinari, Eddie Benjamin, Danilo Blitz, Gil Veloso, Lula Ramires, José Victor, Franco Reinaudo, Rita Moreira, Paulo Reis  - 101 minutos

        UM FILME IMPERDÍVEL PARA BALADEIROS DE TODAS AS GERAÇÕES 

Imagine um elefante descendo a Rua Augusta, coração boêmio de São Paulo, com a Wilza Carla em cima. Rumo a uma casa noturna em que o brilho dos holofotes se confundia com o dos vestidos longos das transformistas — na época, ninguém usava o termo 'drag queen'. Essa é uma das cenas hilárias descritas pelos personagens de SÃO PAULO EM HI-FI, filme que vale cada centavo do valor do ingresso para ver na tela uma aula sobre a noite gay no mais importante polo de baladas do país. Exibido no Festival Mix Brasil 2013, o documentário apresenta histórias das noites gays em São Paulo nas décadas de 1960, 1970 e 1980, período que foi marcado por fases tão distintas como o glamour, o exagero e a liberação sexual, personificadas por figuras como Ney Matogrosso, Dzi Croquettes David Bowie etc. Fazendo uma viagem ao passado, os personagens mostram as histórias das dançarinas e transformistas que se apresentavam nas famosas casas noturnas (Medieval, Homo Sapiens, Corintho, Nostro Mundo etc), que marcaram época e tudo o que elas tiveram que passar, como a imposição da ditadura e a famosa explosão da Aids, que marginalizou a comunidade gay de uma maneira muito triste e cruel. Dirigido por Lufe Steffen, o público é levado pelas mãos com os relatos de gente que testemunhou nascimento e morte de casas lendárias de uma São Paulo que, infelizmente, não existe mais. Entre esses nomes ilustres da noite de outrora estão Elisa Mascaro, empresária que foi dona, dentre outros estabelecimentos, da Medieval e da Corintho, e o jornalista Celso Curi. A Medieval, criada em 1971, recebia plateias de ricaços de todas as orientações sexuais para ver os shows das travestis. Chiquinho Scarpa era um deles e, se o espetáculo já tivesse começado quando ele e seus amigos chegassem, pagava o cachê dos artistas para começarem tudo de novo.
O rol de entrevistados contém protagonistas de grandes momentos, como Darby Daniel, que chegou a uma noitada vestida de Branca de Neve, num caixão de vidro, carregado por sete anões. Através dessa volta emotiva ao passado, o filme é um estudo social e cultural extremamente impressionante do que foi o auge de uma liberdade em todos os sentidos, em plena era de ditadura militar. Através de depoimentos de ícones do período retratado o diretor, produtor e roteirista Lufe Steffen, mescla as lembranças narradas pelos entrevistados com raríssimos registros de performances das grandes casas noturnas gays das décadas apresentadas e essas performances em geral são como se fossem uma vinheta para os comentários que vão surgindo, ou seja, Steffen conecta os depoimentos num formato que parece um grande conto com pausas musicais sobre o tema e as histórias desses personagens são narradas de forma linear. Começamos conhecendo uma que talvez seja a primeira transformista de São Paulo e vamos até o auge da AIDS, que interrompe uma trajetória de conquistas do movimento gay que começava a se tornar forte e representativa na cidade. Por falar nisso, esse documentário é uma obra importante já que o cinema também tem o papel de eternizar personagens ou momentos que foram fundamentais para conquistas atuais, algo que o cinema norte-americano, já faz a um bom tempo.
Apesar de em alguns momentos o documentário sugerir um tom melancólico e saudosista do passado, ele reforça o porquê o termo gay é sinônimo de alegre, afinal, os personagens que são entrevistados mostram o carinho e ao mesmo tempo uma felicidade indescritível de ter vivido esse capitulo de nossa história e de muitos serem pioneiros em muitas conquistas até hoje aproveitadas por todos. Para quem acompanha a atual cena gay internacional, precisamente um recorte do famoso reality RuPaul’s Drag Race, vai ficar impressionado com a vanguarda noite de São Paulo apresentada. O programa norte-americano fica “minúsculo” diante do que aconteceu na cidade, não é exagero, é quase surreal o que acontecia nas ruas do centro da cidade e também nas famosas e históricas pioneiras casas noturnas. SÃO PAULO EM HI-FI é um documentário fundamental para quem gosta de história, seja qual for sua orientação sexual, é daquelas obras necessárias, já que nos faz refletir sobre o presente e o que podemos esperar do futuro em âmbito social, cultural e sexual. O documentário é mais do que uma sucessão de 'causos'. É o resgate de uma época, uma homenagem a gente que tinha como ofício a arte de brilhar.  "Muita gente das novas gerações não conhece o que aconteceu. E o pessoal mais velho se sente lisonjeado, imortalizado", comenta o diretor. Além de um importante registro histórico da comunidade LGBT paulistana, SÃO PAULO EM HI-FI é um interessante recorte da história da cidade. De uma época em que o glamour, o sonho e a fantasia, pelo menos no mundo gay, eram realidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário