SILÊNCIO (Silence) EUA
/ Taiwan / México, 2016 – Direção Martin Scorsese – elenco: Andrew Garfield,
Adam Driver, Liam Neeson, Yôsuke Kubozuka, Tadanobu Asano, Ciarán Hinds, Issei
Ogata, Diego Calderón, Shin’ya Tsukamoto, Yoshi Oida – 161 min
INEGAVELMENTE BELO E
UM DOS DEZ MELHORES FILMES DO ANO!!!
Um dos filmes mais profundos da carreira de
Martin Scorsese. Ele provoca uma sensação que pode ser bastante familiar
naqueles que meditam ou rezam, porque SILÊNCIO é o tipo de filme que você
respeita a princípio, e depois acaba adorando. Ele fica com você e desperta uma
conversa interna inteligente. Uma obra sobre fé, perseverança e perseguição. A
trama acompanha dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew
Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), que viajam até o Japão para investigar o paradeiro de
outro padre, Ferreira (Liam Neeson), numa
época em que o catolicismo foi banido do país e em que os fiéis são perseguidos
brutalmente. O diretor não julga ninguém. Ele não condena nem a fraqueza do
homem, nem, como poderia fazer um de seus mestres, Ingmar Bergman, a
insustentável indiferença de Deus por suas criaturas. Trata-se de um trabalho
impactante, com visual deslumbrante e excelentes atuações, especialmente de
Andrew Garfield. Será difícil encontrar um ator que se preparou tão fortemente,
tanto física quanto emocionalmente, em um só ano como ele. É interessante
analisar o quanto Garfield se doa a esta personagem, nos entregando uma de suas
mais surpreendentes atuações até então.
A religião sempre foi um tema muito importante
pessoalmente e profissionalmente para Martin
Scorsese. O cultuado diretor já deu inúmeras
entrevistas revelando que pensou seriamente em ser padre na sua juventude. Suas
obras, mesmo as mais violentas, geralmente contam com personagens com certa
dose de religiosidade e tradição. É claro, ele também foi responsável por
produções diretamente religiosas, como “A Última Tentação de
Cristo” e “Kundun”. Com mais de duas
horas e meia de duração, e sem nenhuma trilha sonora para aliviar a tensão, SILÊNCIO é austero, espartano e rigoroso. Com
atuações esplêndidas e que exigiram muito dos atores tanto emocional quanto
fisicamente, é um filme que também demanda enorme concentração e esforço por
parte do público. Scorsese não toma partido. Não compromete a visão com
sentimentalismo ou algum sermão desnecessário. Beleza, horror e fé estão juntos
neste que é um dos filmes seminais da temporada. SILÊNCIO é sobre o não dito, sobre a força da ausência e o reconhecer de instintos
maiores. Impor vontades por muito pode ter sido a solução, mas é curioso como
foi olhando para trás que o diretor buscou esse exemplo de resiliência e
resignação, tão apropriado para os dias de agora.
Com ambição e coragem, e ocasionalmente com
grande drama, o filme aborda a crise imperial dos evangélicos cristãos com
energia, seriedade e força comparáveis às de David Lean. Incrivelmente emocionante,
provocador e muito impressionante Scorsese, como cineasta, atingiu o último
estágio da maturidade: a do cinema que se define não apenas por seu estilo, mas
também pelo modo como ele poderia, humildemente, nos ensinar a viver. Possui
discussões interessantes a respeito de choques culturais, supremacia europeia e
até os limites da perversidade humana. SILÊNCIO carrega consigo uma extensão
política: todo império precisa expandir os limites de sua abrangência para
impedir o próprio desaparecimento. Possui direção segura e corresponde
plenamente à potência de suas possibilidades. Scorsese faz o seu melhor filme
em duas décadas. Embora o filme seja extenso, o retrato da intolerância
religiosa, situado quatro séculos atrás, cai bem para os tempos atuais.
Inegavelmente belo e um dos melhores filmes do ano!!!
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