EU
SOU CARLOS IMPERIAL – Brasil, 2014 – Direção Ricardo Calil e Renato Terra – Documentário
– Participação de Tony Tornado, Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Carlos Imperial,
Paulo Silvino, Wilson Simonal, Clara Nunes, Tim Maia, Elis Regina – 90 minutos
CAFAJESTE,
MARQUETEIRO, IMORAL, MENTIROSO, LOUCO!!!
Depois de “Uma noite em 67”, Renato Terra e Ricardo
Calil sobem mais um degrau de qualidade ao resgatar com extrema eficiência
verdades, mentiras e polêmicas que sustentaram a vida de Carlos Imperial. A
dupla conduz a narrativa misturando fato e lenda, mas de maneira que o
espectador separe as duas coisas. O apresentador,
compositor, diretor e ator Carlos
Imperial é uma figura icônica e polêmica da cultura brasileira muito ativa entre
as décadas de 1960 e 1980, com uma personalidade impossível de se imaginar nos
dias de hoje. Amoral, escrachado, radical, nada politicamente correto, ele não
passaria perto da televisão nacional nos dias de hoje. Mas ainda há espaço para
ele nos cinemas, como comprova este excelente documentário. Uma coleção de depoimentos bem selecionados dão conta de narrar as
peripécias do biografado. Tudo isso permeado com falas do próprio, em imagens
de arquivo. Os diretores do filme conseguiram levar para a tela
exatamente aquilo que ele representava, o lado bom e o ruim, sem poupar o documentado
e o público. Por causa disso, o longa acabou recebendo classificação 18 anos,
pois conta com cenas fortes de pornochanchadas estreladas por ele nos anos 1980.
O
filme traça um panorama amplo da carreira do artista, unindo imagens de arquivo
e depoimentos, sem nunca parecer formulaico ou quadrado. Conta com um
personagem tão fascinante e absurdo que também funciona quase como comédia,
afinal algumas atitudes de Imperial são quase que alienígenas, como assumir a
autoria de canções de domínio público que não tinham autores definidos. Carlos Imperial revelou diversos
nomes da música brasileira, como Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Elis Regina, Tim Maia, Tony Tornado e companhia. O
espectador vai gostar de descobrir histórias por trás de tais ídolos, como também
ouví-los em depoimentos. O documentário é importante para manter em
evidência um personagem significativo da nossa cultura. Concordando ou não com
suas atitudes, teve importância inquestionável em um grande período cultural do
país. O documentário faz uma acertada opção pela simplicidade e
pela objetividade narrativa, abrindo mão de eventuais arroubos estilísticos
e/ou criativos que poderiam desviar a atenção do que realmente importa: a ímpar
figura do seu objeto. Também traz uma
entrevista grande feita com o Imperial já nos anos 1990, pouco antes de sua
morte aos 56 anos. E tenta balancear os dois
lados da vida do homem: dá a devida importância ao seu trabalho, sem deixar de
lado o escracho da sua figura pública.