MANCHESTER
À BEIRA-MAR (Manchester By The Sea) EUA, 2016 – Direção Kenneth Lonergan –
elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Lucas Hedges, Ben O’Brien (o jovem Patrick), Kyle Chandler, Liam McNiall, C. J. Wilson, Matthew Broderick, Tate Donovan, Kenneth Lonergan, Susan Pourfar, Robert Sella,
Ruibo Qian, Anna Baryshnikov, Josh
Hamilton, Christian Mallen, Oscar Wahlberg, Ellie Teeves, Chloe Dixon, Tom
Kemp, Gretchen Mol, Mary Mallen, Lewis
D. Wheeler, Anthony Estrella, Ben Hanson – 137 minutos
CASEY AFFLECK ENTRA PARA O
PANTEÃO DOS GRANDES ATORES
O
FILME QUE NUNCA SENTE A NECESSIDADE DE EXPLICAR DEMAIS!!
UM
PROFUNDO ESTUDO DO SUJEITO E DE SUA MAIOR ANGÚSTIA: A MORTE
O novo trabalho do cineasta Kenneth Lonergan é o
tipo de filme que não parece estar caminhando para lugar nenhum durante a maior
parte do tempo. E então, quase inesperadamente, ele chega. A
eternidade do luto e a esperança de redenção são temas tão antigos quanto a
própria dramaturgia, mas eles raramente são apresentados através do turbilhão
extraordinário de amor, raiva, ternura e humor seco que é aqui dissecado.
Desde
o início, procura realizar um profundo mergulho dentro de cada personagem,
realizando assim, um estudo do sujeito e de sua maior angústia: a morte.
O
cineasta evita ao máximo momentos catárticos e cria um ambiente angustiante e
de uma tristeza tão reprimida que abala o espectador. Os efeitos
da perda e do luto são retratados de maneira ao mesmo tempo muito particular e
universal, apoiando-se na excelente atuação do elenco e na espetacular
performance de Casey Affleck, que já apresentou grandes interpretações, entre
elas o extraordinário “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”.
Em “Manchester à Beira-Mar” ele é Lee Chandler, um personagem reprimido,
traumatizado e pouco expressivo. Mas pouco expressivo na medida em que não se
desespera, pois diz muito através de seu olhar. A dinâmica com o sobrinho é
brilhante, principalmente pela revelação que é Lucas Hedges. O jovem é bastante
carismático e se sai bem nos momentos dramáticos e também nas cenas em que deve
agir como adolescente rebelde.
Passado numa cidade litoral, durante um inverno
pesado, o filme absorve um clima de frieza e isolamento, e passa para boa parte
dos personagens. É uma obra que não grita, mas fala com uma agonia
desesperadora, sem deixar de lado aquele bom humor típico de quem tenta aliviar
um cenário de dor e perda. A direção de fotografia de Jody Lee Lipes é belíssima
e consegue estabelecer uma diferença clara nas sequências do presente e do
passado. É interessante como a imagem transmite um cenário mais alegre nos flashbacks, em contrapartida a
toda frieza da linha do tempo principal, por mais que seja no passado que
aconteça o evento mais traumático. Passa bem a ideia de que a partir daquele
ponto, a vida de nenhum dos personagens foi a mesma. É um belo filme sobre
perda e recomeço, contando com um roteiro que transborda sensibilidade e
humanidade. Trata-se de uma obra extraordinária sobre a vida e seus percalços.
Sobre o amor, mas também sobre a dor, que por vezes é tão insuportável que
transforma pessoas. Destaque à organicidade do transcorrer análogo ao
comportamento do mar, ou seja, alternando agitações e calmarias. Uma direção
extremamente atenta, que entrelaça as temporalidades e os gêneros (drama e
comédia), com um domínio excepcional tanto do trabalho do roteiro quanto da
direção. Só pecou um pouco na longa duração, deixando o filme um pouco
arrastado. Mas há outras compensações, entre elas a sequência mais trágica da
história, a da sequência do Adágio de Albinoni. O filme é, antes de tudo, o fim
do abismo e uma ode à observação. Bonito de se ver!!!
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