ELIS
(Elis) Brasil, 2016 – Direção Hugo Prata – elenco: Andréia Horta, Gustavo
Machado, Caco Ciocler, Zécarlos Machado, Lúcio Mauro Filho, Júlio Andrade,
Bruce Gomlevsky, Alex Teix – 110 minutos
UMA VONTADE SINCERA DE
HOMENAGEAR UMA GRANDE CANTORA
O
filme se inicia com uma canção emblemática: “Como Nossos Pais”, um dos grandes
triunfos da carreira grandiosa, porém meteórica, da grande artista. Uma biografia sobre
Elis Regina é um projeto de grande responsabilidade, tanto por sua importância
na cultura nacional quanto pelo temperamento explosivo e pelo fim trágico da
cantora. A decisão de contar a trajetória da adolescência à morte, com uma
única atriz no papel principal, adiciona um risco à narrativa. Como dar conta
de tantas reviravoltas na carreira musical, na vida amorosa, na relação
política com o país? O diretor Hugo Prata faz uma aposta tradicional: destacar os
pontos mais importantes de sua carreira. O elenco conta com grandes atores em papéis
marcantes. Júlio Andrade está excelente num inspiradíssimo Lennie Dale; Caco Ciocler compõe uma ternura comovente a César
Camargo Mariano, Gustavo Machado faz um Ronaldo Bôscoli cínico e perfeito e Lúcio Mauro Filho apresenta um Miéle simples, mas
verossímil. A direção de fotografia se destaca com um belo trabalho de Adrian
Teijido. ELIS, o filme, possui
uma vontade sincera de homenagear a artista. Nota-se
um trabalho de pesquisa esmerado por parte de Andréia Horta, que traz
trejeitos, sorrisos, risadas e toda a presença física da pequena grande
cantora. Não bastou apenas cortar o cabelo parecido e vestir-se igual a ela, a
atriz mergulha na personagem e busca a força daquela mulher notável e aparece
em cena entregue de corpo e alma.
Há momentos musicais emocionantes e de grande
relevo. Felizmente, em boa parte do roteiro, o melodrama não domina o
filme, destacando-se mais o estilo vibrante e “para fora” que caracterizava a
cantora que alterou o paradigma inaugurado por João Gilberto e seguido por Nara
Leão, dentre outros intérpretes da Bossa Nova. O filme teve
alguns pecados que não se pode deixar de mencionar. Em alguns momentos, parecem
haver buracos. Como ela chegou daqui até ali? Alguns exemplos: 1.
Elis se apresenta num bar pela primeira vez e a plateia aplaude. Na cena
seguinte, os produtores do local estão dizendo que “Copacabana é louca por
ela”, e que os shows estão esgotados. Como ela cresceu tão rápido? 2. Elis se
apresenta com Jair Rodrigues no programa O Fino da Bossa. A plateia está cheia,
os aplausos são fartos, mas na cena seguinte o empresário insinua que eles
podem ser demitidos pela baixa audiência, por estarem perdendo espaço para a
Jovem Guarda do Roberto Carlos. Mas o programa não era um sucesso? 3. A relação
entre Elis e César Mariano vai muito bem. Um dia, ele diz que a esposa parece
angustiada. Na cena seguinte, acusa-a de beber demais e vai embora. Ora, nós
nem víamos a cantora beber. A
narrativa também acaba dando ênfase demais no lado pessoal e nos amores da
intérprete enquanto ignora fatos importantes como a parceria dela com Tom
Jobim, que rendeu o clássico "Águas de Março". Mas apesar de
tudo isso, o filme não ficou prejudicado, a transição das fases da vida de Elis
Regina foi bem construída e apresenta um espetáculo que merece ser conferido
não só pelos fãs, mas por todo aquele que é cinéfilo.
ANDRÉIA HORTA SE ENTREGA DE
CORPO E ALMA NA PERSONAGEM
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