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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (Hacksaw Ridge) Austrália / EUA, 2016 – Direção Mel Gibson – elenco: Andrew Garfield, Richard Pyros, Jacob Warner, Milo Gibson, Darcy Bryce, Roman Guerriero, Hugo Weaving, James Lugton, Teresa Palmer, Kasia Stelmach, Jarin Towney – 139 minutos.

Um filme épico em seu escopo, íntimo em seus detalhes e surreal em suas dimensões

O protagonista – Desmond Doss (Andrew Garfield, em brilhante atuação) - deste grande filme representa uma fusão que parece combinar a estrutura típica do cinema de guerra com o mecanismo tradicional do cinema religioso. Ele é ao mesmo tempo um jovem pacifista, temente a Deus, e um soldado destinado a salvar pessoas no campo de batalha da Segunda Guerra Mundial. Sua única condição: jamais tocar em uma arma, devido a traumas de infância. Como ser um pacifista em meio à guerra? Como lutar contra inimigos armados sem possuir instrumentos de defesa? O drama questiona, portanto, a violência dos “homens de bem”, a incompatibilidade entre amar o próximo como a si mesmo e amar apenas o próximo, mas não o diferente. "Até o Último Homem" é um ótimo exemplo do que acontece quando o material certo cai nas mãos de um realizador sintonizado com seus temas. O filme é um espetáculo grandioso, grandiloquente e enaltecedor. Andrew Garfield vive o protagonista com a doçura necessária para seu papel e Hugo Weaving consegue dar toda a carga dramática necessária para pai dele. O diretor Mel Gibson disse que aqui não é um filme de guerra, mas sim de homens na guerra. Assista aos créditos finais, que trazem cenas reais de Desmond Doss. Embora o filme simplifique a posição do personagem que não quer sequer tocar numa arma, a violência que o cerca o torna uma história fascinante que não tem uma resposta certa sobre significado de ser um não-combatente no meio de um combate. Durante a primeira metade, o cineasta dedica bastante tempo para explicar o tema das implicações religiosas, antes de investir numa segunda metade tão brutal quanto assustadora, mas mesmo assim impressionante.

O grande legado deste filme é o reconhecimento pela admirável certeza das convicções de Desmond Doss e de seus feitos como um homem comum que salvou dezenas de vidas e não tirou nenhuma. "Até o Último Homem" é o trabalho de um diretor possuído pela certeza da realidade da violência como uma verdade profana, porém inevitável. Mel Gibson filma esse caso real de moral exemplar como um diretor de Hollywood faria nos anos 1940, equilibrando ação e emoção em doses calculadas, explorando os tempos dramáticos com precisão e levando sua mensagem a quem desconfia dela. A dor e a violência são uma forma de justificar aquela história e mostrar sua importância, como se diante daquele horror pode ser apresentado uma espécie de iluminação, um milagre divino diante do caos humano. Este grande filme tem, aparentemente, uma justificativa divina para filmar a guerra. Indicado ao Oscar 2017, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator (Andrew Garfield)  Espetacular e grandioso!!


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