quinta-feira, 18 de agosto de 2011
QUATRO MESES, TRÊS SEMANAS E DOIS DIAS (4 Luni, 3 Saptamini si 2 Zile) 2007
QUATRO MESES, TRÊS SEMANAS E DOIS DIAS (4 Luni, 3 Saptamini Si 2 Zile) Romênia, 2007 – Direção de Cristian Mungiu - Elenco: Anamaria Marinca, Laura Vasiliu, Vlad Ivanov, Alexandru Potocean, Ion Sapdaru, Teodor Corban, Tania Popa, Cerasela Iosifescu, Doru Ana
O grande vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2007, "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", não é um filme fácil. Aliás, não fosse a premiação, o longa de Cristian Mungiu provavelmente custaria a chegar ao circuito brasileiro - especialmente pelo seu tema polêmico e sua estética pouco convencional. "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" faz parte do chamado renascimento que o cinema romeno começou a vivenciar nos últimos anos, que combina forma e conteúdo explorando os horrores da experiência comunista. Alguns exemplos são filmes como "A Morte do Senhor Lazarescu" (2005), "12:08 - A Leste de Bucareste" (2006) e "California Dreamin"', premiado na mostra Un Certain Regard, em Cannes, em 2007. "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" inaugura uma série de filmes que o diretor batizou com o título irônico de "Contos de Uma Era Dourada", referindo-se ao período comunista do país.
No filme, faz-se uma ligação entre a vida de seus personagens e os últimos dias do comunismo na Romênia - ou seja, usa o plano pessoal para falar de um momento histórico. Quem passa por uma verdadeira via crúcis é a personagem Otília (Anamaria Marinca). Jovem moradora de uma república, aos 20 e bem poucos anos, mas com uma certa experiência de mundo, ela terá de enfrentar horrores para salvar a pele de uma amiga, Gabita (Laura Vasiliu), que é ingênua e tem uma tendência a fazer tudo errado. Gabita está grávida e pretende fazer um aborto. A prática é proibida no país desde os anos de 1960, quando o governo queria aumentar o índice de natalidade. Nada na Romênia comunista é fácil - desde comprar um sabonete até encontrar alguém que possa fazer um aborto com segurança. Porém, as garotas vão em frente com seu plano, conseguem dinheiro, um profissional para fazer um trabalho e um quarto de hotel. Só quando as moças estão com Bebe (Vlad Ivanov), o aborteiro, Mungiu revela que o inferno das duas moças está apenas começando.
O cineasta reserva a "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" apenas o essencial, seja na sua composição da narrativa ou no plano visual. A câmera acompanha Otília em sua trajetória, e junto com ela o público assiste a suas experiências - praticamente nenhuma agradável. Às vezes, ela parece cumprir sua missão em estado de choque, quase catatônica, mal esboçando qualquer reação. Como os demais diretores desta renovação do cinema romeno, Mungiu cresceu em meio ao regime de Ceausescu e era adolescente quando o ditador foi executado, em 1989. O cinema produzido por esta geração é o primeiro a poder retratar o comunismo sem ser obrigado a se valer de alegorias. É um cinema baseado num humanismo - o que muito os aproxima dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne ("A Criança") - e que fala do passado, sem se esquecer do presente. Um filme obrigatório!
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