O
PROCESSO – Brasil, 2018 – Direção Maria Augusta Ramos – Aparições de Lindenberg
Farias, Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, José Eduardo Cardozo, Jean Wyllys –
Documentário – 140 minutos
UM
VERDADEIRO EXERCÍCIO DE COMPREENDER NÃO APENAS O NOSSO PAÍS
Maria Augusta Ramos possui em seu histórico
documentários que discutem o sistema judiciário brasileiro, como Justiça (2004)
e Juízo (2007). Em “O Processo”, a diretora segue pelo mesmo caminho, por
tratar o impeachment como algo que parte de um procedimento político-jurídico,
permeado por um jogo repleto de brechas, onde reina a insuficiência de
discursos imparciais, dado o recorte proposto, que investiga esse momento
histórico do Brasil com certo comedimento, mas sem a omissão de sua visão
política. Em seus primeiros minutos, o filme nos mostra a votação na Câmara dos
Deputados sobre o desligamento da então presidente Dilma Rousseff, cujo
processo de impeachment foi uma chantagem explícita de Eduardo Cunha, que mais
tarde teria o seu mandato cassado pelo plenário da Câmara. A falta de apoio da
oposição levou o político a ameaçar o Partido dos Trabalhadores a esse ponto,
colocando a Chefe de Estado na linha dos bombardeios mais estrondosos, tendo
como principal munição uma carga elevada do ódio mais inflamável. (Observatório
do Cinema)
A cineasta não busca grandes sacadas de montagem, nem a criação de
efeitos poéticos, metafóricos, ou ainda a captação de imagens externas ao
universo político. O espectador fica focado da primeira à última cena nos
mesmos personagens, os mesmos corredores, criando uma exaustão pertinente ao
circo de absurdos. A propósito, um político evoca “O Processo”, de Franz Kafka,
no qual o personagem principal também é condenado sem crimes, num julgamento
orquestrado e sem possibilidade de defesa justa. Com este projeto, Maria
Augusta Ramos não traz revelações bombásticas sobre os bastidores da política
nacional, nem apresenta imagens esteticamente deslumbrantes. Sua preocupação se
encontra na articulação de uma quantidade imensa de informações de modo lógico,
claro, e capaz de retratar ambos os lados sem caricaturar a oposição – embora
tenha um posicionamento crítico evidente. Este é um cinema político assumido
como tal, de vocação progressiva, libertária, de esquerda. Acima de tudo, é um cinema
que acredita no valor da argumentação, elemento cada vez mais raro na sociedade
e na mídia atualmente. (Bruno Carmelo – Adoro Cinema)
A diretora Maria Augusta Ramos teve a
difícil (para não falar iluminada!) tarefa de desenvolver um documentário que
mostrasse a realidade e os bastidores do que levou ao processo de impeachment
da ex-presidente Dilma Rousseff, que durou de 2015 à agosto de 2016, de forma
não-imparcial, afinal, sua visão para os fatos é única e exclusivamente para
expressar o golpe de estado que o país sofreu e como foi articulado
minuciosamente. Difícil e ousado, definitivamente. No fim das contas, “O
Processo” se torna uma obra histórica, com toda sua contemporaneidade,
daqueles filmes que serão exibidos nas escolas quando a hora certa chegar. E há
de chegar. Afinal, a mentira tem perna curta e a verdade sobrevive através do
tempo para ser documentada em um filme como este, que busca te fazer refletir,
não apenas sobre a queda de um partido político, como muitos irão enxergar, mas
também sobre a essência de um país. (Thiago Muniz – Cine Pop)
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