O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD (The Best Exotic Marigold Hotel) Reino Unido, 2011 – Direção John Madden – elenco: Judi Dench, Maggie Smith, Dev Patel, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Penelope Wilton, Norman Cousins, Ronald Pickup, Celia Imrie, Tena Desae – 124 minutos.
O terreno cinematográfico está sempre preparado para as comédias ou para os dramas, e ainda mais para a mistura de ambos. Mas a jovialidade é, na maioria das vezes, garantida como certa. A atração do público é mais por gente nova, por caras mais jovens. Normalmente, quando a terceira idade aparece em algum gênero de comédia ou drama é como uma subtrama, sem nunca se colocar a frente do foco principal. Obviamente, algumas exceções fogem a essa regra, e aqui podemos colocar o novo filme de John Madden. O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD aposta exatamente na terceira idade inglesa dialogando com o contemporâneo, descobrindo e se descobrindo a cada cena que se passa. Um dos segredos do diretor é trabalhar com elenco de reputação acima de qualquer suspeita, o que é fácil aqui, já que a própria necessidade da história, adaptada de romance de Deborah Moggach, requer a escalação de veteranos.
Nós costumamos viver a vida apoiados sempre na ilusão de que ela é eterna. Ignoramos qualquer sinal que nos lembre que nosso tempo por aqui é limitado e rechaçamos com veemência qualquer referência ao assunto. Talvez isso explique o papel marginalizado ao qual submetemos os idosos na nossa sociedade: de certa forma eles são lembretes ambulantes do destino que tanto nos empenhamos em ignorar. Assim, constantemente relegamos essas pessoas a um cruel beco sem saída, no qual elas devem aceitar que seu tempo já passou, que já é tarde para pensar em produzir ou conquistar qualquer coisa que seja e que lhes cabem apenas esperar calados o derradeiro fim de suas vidas enquanto nós cuidamos dos afazeres e inconvenientes até lá. Abordar esta complexa questão de maneira sensível é o que o filme oferece de melhor. Traz a história de sete idosos ingleses, cada um com seus conflitos, que viajam para a Índia e se hospedam no hotel do título, um lugar que se diz especializado em receber pessoas de idade avançada. Oferecendo um primeiro ato eficiente que nos apresenta em sequências intercaladas seus personagens, o diretor John Madden consegue captar sutilezas que demonstram a maneira cruel com que tratamos os idosos. Em determinado momento, por exemplo, um vendedor de casas aponta corrimãos e alarmes como uma indiscutível vantagem em sua oferta ao casal interpretado por Bill Nighy e Penelope Wilton, denunciando que os enxerga como dois incapazes. Em outro, o filho da personagem de Judi Dench decide levá-la para morar com ele sem consultá-la antes. Ou ainda quando o simpático velhinho interpretado por Ronald Pickup é imediatamente rejeitado por uma mulher em função de sua idade.
Trazendo cenas locais que indiscutivelmente embelezam e dão charme ao filme, a fotografia trabalha numa lógica simples e eficaz ao desenvolver o contraste de cores entre os atos do filme. Se a Inglaterra surge mais fria e escura, evocando não somente o clima como também o estado desencontrado de seus personagens, a Índia traz um aspecto bem mais colorido e quente, focando a vivacidade daquele país e a jornada dramática vivida por aquelas pessoas. No entanto o filme peca em exacerbar a desorganização do país para gerar situações cômicas, o que denota um reprovável sentimento de superioridade inglesa por parte de seu diretor. O elenco transborda talento. Servindo como centro emocional para aqueles personagens, Judi Dench investe numa serenidade típica de avó ao encarnar uma viúva que decide finalmente tomar as rédeas da própria vida, ao passo que Bill Nighy explora a doçura e gentileza de um homem que se esforça ao máximo para sempre ver o melhor lado das coisas, apesar da negatividade de sua mulher. E se Dev Patel parece acreditar que correr e falar apressadamente é suficiente para encarnar a angústia do rapaz que dirige o estabelecimento, Tom Wilkinson traz aquela que é a figura mais densa e interessante do filme: um homem atormentado que retorna à Índia para encarar seu passado. Já Ronald Pickup e Celia Imrie usam com eficiência seu pouco tempo em tela não só para serem bons alívios cômicos como para dar relevância à busca pelo amor, mesmo em idade avançada. Finalmente, a excelente Maggie Smith tira leite de pedra ao driblar um roteiro que impõe uma improvável transformação em sua personagem. A velhice não pode ser vista como uma mazela, afinal dentre todas as alternativas de futuro ela com certeza é a mais otimista. UM FILME DIVERTIDO E QUE ARRISCA NA EXPLORAÇÃO DA MELHOR IDADE COMO PROTAGONISTA!! MERECE SER DESCOBERTO E APRECIADO!!
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