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sábado, 26 de janeiro de 2013

INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of The Southern Wild) EUA, 2012


INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of the Southern Wild) EUA, 2012 – Direção Benh Zeitlin – elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Lowell Landes, Pamela Harper, Gina Montana, Henry D. Coleman – 93 minutos.

O diretor novaiorquino Behn Zeitlin tira do fundo da Louisiana uma história que funde documento, drama e fantasia: em tom documental, filmado quase sem refletores e em película 16 mm, o filme conta a história da pequena Hushpuppy, uma garota residente da Banheira, uma pequena comunidade em uma ilha cercada por águas agitadas que correm o risco de deixar a comunidade debaixo d’água na primeira tempestade forte. Embora o local seja fictício, inspira-se numa ilha real – a Isle de Jean Charles, já na parte da Louisiana que se mistura com o Golfo do México, e que a cada dia perde um pouco mais de espaço para o mar. Em comum, a Isle de Jean Charles e a “Banheira” têm a teimosia dos seus habitantes, que insistem em permanecer em suas casas mesmo com a água na canela. Junto com seu pai, Hushpuppy cresce se esforçando para sobreviver junto com seus vizinhos, todos pessoas perseverantes que adoram o local onde nasceram. Hushpuppy gosta de pensar em si e nos seus vizinhos como bestas da natureza selvagem, indivíduos fortes e de muita fibra moral; seus sonhos e devaneios são povoados constantemente por suínos imensos, peludos e com chifres. O roteiro é simples e funcional: lentamente somos levados a participar de um universo estranho e singular; com a fotografia naturalista em conjunto com seus poucos efeitos especiais para construir a atmosfera próxima porém absurda, o filme revela-se de uma narrativa nem um pouco pesada ou difícil de se assistir: seus personagens são empáticos, curiosos ou apenas engraçados o suficiente para que a conexão com o grande público seja estabelecida de forma rápida.



É com um atraso de sete anos que INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of The Southern Wild) chega para lavar a alma dos afetados pelo furacão Katrina, em 2005; mas o filme – vencedor do Grande Prêmio do Júri em Sundance e do Camera d’Or em Cannes – tira o atraso com impacto, numa mistura de fábula dickensiana com drama apocalíptico. Em 2008, o premiado curta do diretor - “Glory at Sea” – já tocava nos temas que seriam estendidos em INDOMÁVEL SONHADORA: a rotina dos moradores dos pântanos da Louisiana transformada em desamparo depois da passagem do furacão que fez transbordarem as águas do Estado. Antes ainda, em 2005, Benh Zeitlin fizera uma versão animada de “Moby Dick”, no seu curta-metragem de estreia “EGG”. Saber que o diretor novaiorquino – que vistou Nova Orleans pela primeira vez com a família, de férias, aos 13 anos – mantém uma relação de atração com os perigos do mar ajuda a entender o que INDOMÁVEL SONHADORA tem de potente.



O filme, formado por um elenco só de locais e cuja direção é assinada pelo coletivo Court 13, que Benh Zeitlin criou em 2004 em Nova Orleans para mover a produção de cinema independente local, não é um filme fácil. Seu ritmo lento e contemplativo se mostra distante dos grandes públicos, acostumados com algo mais palatável. O tom documental serve para transformar tudo em realidade, mesmo que fantasiosa. A câmera na mão, sempre em movimento, recorta cenas de maneira instigante, encontrando ângulos belíssimos e incomuns, repletos de luz na maior parte do tempo. O diretor iniciante oferece apenas reflexão com sua obra. Apesar da trilha sonora inspirada nos direcionar a um tom melancólico e dramático, o sentimento nunca se completa. Existe certa austeridade no filme, um contraste certamente irônico ao clima mágico estipulado. É realmente desagradável ver toda a sujeira em que estes seres humanos vivem, a forma precária com que se alimentam, a falta de educação etc. E é este incomodo o maior mérito de INDOMÁVEL SONHADORA, pois é ele que nos leva a tamanha reflexão. É um filme que nunca foge do horizonte de expectativas a que se propõe.



O grande destaque do filme é sem dúvida a atriz mirim Quvenzhané Wallis. Sua naturalidade é algo descomunal, e é o principal motivo de tudo parecer simplesmente realidade. Apesar de poucas falas, ela é a responsável por um tocante voice-over que, hora ou outra, expõe seus pensamentos distantes de nossa concepção, quase sempre pontuados por sentenças imperativas, um reflexo de sua existência movida a costumes e instintos de sobrevivência. O roteiro de Lucy Alibar, em parceria com o diretor Zeitlin, traz simplicidade em sua estrutura, mas se torna complexo devido a ambientação geral. A trilha sonora de Dan Romer, também em parceria com o diretor, é muito importante para o resultado final. Resumindo, é um filme excepcional, que se movimenta por caminhos diferentes, que levam principalmente à reflexão dos problemas de nossa sociedade, com suas diferenças e injustiças, nos fazendo entender a motivação dos sonhos daqueles que aparentemente não tem nada com que sonhar, que já nasceram sem alternativas. Mas contrariando este senso comum, os mesmos são carregados de esperanças, pelo menos enquanto crianças.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD (The Best Exotic Marigold Hotel) Reino Unido, 2011


O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD (The Best Exotic Marigold Hotel) Reino Unido, 2011 – Direção John Madden – elenco: Judi Dench, Maggie Smith, Dev Patel, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Penelope Wilton, Norman Cousins, Ronald Pickup, Celia Imrie, Tena Desae – 124 minutos.

O terreno cinematográfico está sempre preparado para as comédias ou para os dramas, e ainda mais para a mistura de ambos. Mas a jovialidade é, na maioria das vezes, garantida como certa. A atração do público é mais por gente nova, por caras mais jovens. Normalmente, quando a terceira idade aparece em algum gênero de comédia ou drama é como uma subtrama, sem nunca se colocar a frente do foco principal. Obviamente, algumas exceções fogem a essa regra, e aqui podemos colocar o novo filme de John Madden. O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD aposta exatamente na terceira idade inglesa dialogando com o contemporâneo, descobrindo e se descobrindo a cada cena que se passa. Um dos segredos do diretor é trabalhar com elenco de reputação acima de qualquer suspeita, o que é fácil aqui, já que a própria necessidade da história, adaptada de romance de Deborah Moggach, requer a escalação de veteranos.



Nós costumamos viver a vida apoiados sempre na ilusão de que ela é eterna. Ignoramos qualquer sinal que nos lembre que nosso tempo por aqui é limitado e rechaçamos com veemência qualquer referência ao assunto. Talvez isso explique o papel marginalizado ao qual submetemos os idosos na nossa sociedade: de certa forma eles são lembretes ambulantes do destino que tanto nos empenhamos em ignorar. Assim, constantemente relegamos essas pessoas a um cruel beco sem saída, no qual elas devem aceitar que seu tempo já passou, que já é tarde para pensar em produzir ou conquistar qualquer coisa que seja e que lhes cabem apenas esperar calados o derradeiro fim de suas vidas enquanto nós cuidamos dos afazeres e inconvenientes até lá. Abordar esta complexa questão de maneira sensível é o que o filme oferece de melhor. Traz a história de sete idosos ingleses, cada um com seus conflitos, que viajam para a Índia e se hospedam no hotel do título, um lugar que se diz especializado em receber pessoas de idade avançada. Oferecendo um primeiro ato eficiente que nos apresenta em sequências intercaladas seus personagens, o diretor John Madden consegue captar sutilezas que demonstram a maneira cruel com que tratamos os idosos. Em determinado momento, por exemplo, um vendedor de casas aponta corrimãos e alarmes como uma indiscutível vantagem em sua oferta ao casal interpretado por Bill Nighy e Penelope Wilton, denunciando que os enxerga como dois incapazes. Em outro, o filho da personagem de Judi Dench decide levá-la para morar com ele sem consultá-la antes. Ou ainda quando o simpático velhinho interpretado por Ronald Pickup é imediatamente rejeitado por uma mulher em função de sua idade.



Trazendo cenas locais que indiscutivelmente embelezam e dão charme ao filme, a fotografia trabalha numa lógica simples e eficaz ao desenvolver o contraste de cores entre os atos do filme. Se a Inglaterra surge mais fria e escura, evocando não somente o clima como também o estado desencontrado de seus personagens, a Índia traz um aspecto bem mais colorido e quente, focando a vivacidade daquele país e a jornada dramática vivida por aquelas pessoas. No entanto o filme peca em exacerbar a desorganização do país para gerar situações cômicas, o que denota um reprovável sentimento de superioridade inglesa por parte de seu diretor. O elenco transborda talento. Servindo como centro emocional para aqueles personagens, Judi Dench investe numa serenidade típica de avó ao encarnar uma viúva que decide finalmente tomar as rédeas da própria vida, ao passo que Bill Nighy explora a doçura e gentileza de um homem que se esforça ao máximo para sempre ver o melhor lado das coisas, apesar da negatividade de sua mulher. E se Dev Patel parece acreditar que correr e falar apressadamente é suficiente para encarnar a angústia do rapaz que dirige o estabelecimento, Tom Wilkinson traz aquela que é a figura mais densa e interessante do filme: um homem atormentado que retorna à Índia para encarar seu passado. Já Ronald Pickup e Celia Imrie usam com eficiência seu pouco tempo em tela não só para serem bons alívios cômicos como para dar relevância à busca pelo amor, mesmo em idade avançada. Finalmente, a excelente Maggie Smith tira leite de pedra ao driblar um roteiro que impõe uma improvável transformação em sua personagem. A velhice não pode ser vista como uma mazela, afinal dentre todas as alternativas de futuro ela com certeza é a mais otimista. UM FILME DIVERTIDO E QUE ARRISCA NA EXPLORAÇÃO DA MELHOR IDADE COMO PROTAGONISTA!! MERECE SER DESCOBERTO E APRECIADO!!



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

VIOLETA FOI PARA O CÉU (Violeta Se Fue a Los Cielos) Chile, 2011


VIOLETA FOI PARA O CÉU (Violeta Se Fue A Los Cielos) Chile, 2011 – Direção Andrés Wood – elenco: Francisca Gavillán, Thomas Durand, Christian Quevedo, Gabriela Aguilera, Roberto Farías, Marcial Tagle, Juan Quezada, Sergio Piña, Daniel Antivilo, Pedro Salinas, Ana Fuentes – 110 minutos.

Um mergulho na vida de Violeta Parra, o maior nome da música chilena. Esta cinebiografia conta a história de mais uma artista incompreendida, que quis a todo custo espalhar e ensinar a sua arte. Uma mulher que teve tudo o que quis, de amantes mais jovens ao reconhecimento de mineiros e políticos chilenos, passando pela burguesia cultural francesa, tudo foi alcançado por uma mulher insatisfeita por natureza e voluntariosa ao extremo.



Um filme absolutamente sensível e muito bem filmado, do chileno Andrés Wood, que encontra o equilíbrio entre a Violeta segundo a visão europeia e a Violeta chilena, que se interessava por cantigas das pessoas simples do interior de seu país e que, mais tarde, se tornou famosa no mundo todo - inclusive no Brasil, com gravações feitas por Elis Regina e Milton Nascimento. Ganhador de diversos prêmios, entre eles o de Melhor Filme de Cinema Mundial no Festival de Sundance 2012, VIOLETA FOI PARA O CÉU recupera a figura de uma das personalidades mais instigantes e importantes da América Latina. Poderia ser mais uma história de artista apaixonada e destruída, mas o diretor soube como trazer à tona as dores e artes de Violeta Parra, que encontrou na atriz Francisca Gavillán a sensibilidade necessária para uma investigação da alma feminina.



Francisca Gavillán se transfigura no papel de Violeta Parra, acompanhando algumas décadas na vida da artista. Sua transformação física a aproxima da personagem real, com maquiagem, figurinos e afins, mas é a compreensão do lado emocional que a atriz demonstra ter da artista que injeta densidade em sua bela interpretação. A própria Francisca canta com garra as músicas como se fossem dela mesma. Baseado no livro de memórias homônimo do filho da artista, Ángel Parra. O que ela vê em sua mente, e que dá estrutura ao filme, são flashes de sua vida, momentos marcantes, como a morte do pai, a apresentação itinerante de autos religiosos com a irmã, a apresentação na Polônia comunista, um conturbado romance com o músico suíço Gilbert Favre (Thomas Durand); e os últimos dias no seu centro de artes nos Andes. Os fragmentos são mostrados fora da ordem, ora seguindo a sequência cronológica, ora interrompidos por algum flashback do passado, da infância. No entanto, o arco narrativo nunca se torna confuso, pelo contrário, o passado ilumina o presente, que, muitas vezes, o reverbera. Aclamado entre os melhores filmes do ano, MERECE SER VISTO E REVISTO!!


sábado, 5 de janeiro de 2013

MOONRISE KINGDOM (Moonrise Kingdom) EUA, 2012



MOONRISE KINGDOM (Moonrise Kingdom) EUA, 2012 – Direção Wes Anderson – elenco: Jared Gilman, Kara Hayward, Edward Norton, Bruce Willis, Frances McDormand, Bill Murray, Tilda Swinton, Jason Schwartzman – 94 minutos.

A enternecedora e hilária história de dois adolescentes desajustados que tentam vivenciar um amor impossível, é o novo grande filme de Wes Anderson. Ele é um dos diretores mais originais do atual cinema mundial. Enquanto a maioria faz filmes realistas, e aí se incluem outros grandes cineastas, ele é um dos poucos capazes de criar um mundo próprio. MOONRISE KINGDOM é um filme cativante, principalmente para o público que curte histórias e personagens incomuns. Sua raridade excêntrica, no entanto, é também universalmente atraente e capaz de dialogar mesmo com o público mais afeito a tramas naturalistas e convencionais. É preciso certo desapego à realidade e capacidade de mergulhar sem hesitação em universos que transitam entre o crível e o totalmente surreal. Locais povoados de personagens nonsenses que, muitas vezes, beiram o ridículo, mas que criam identificação imediata com o público por exporem sem disfarces, e muitas vezes de maneira patética, aquilo que escondemos por trás das tolas convenções sociais.



Aqui, temos Suzy (Kara Hayward) que parece ser muito mais madura do que seus 12 anos de idade. Encontrar em cima da geladeira da família uma cópia do livro "Como Lidar Com Uma Criança Perturbada" é a gota d'água para que ela fuja de casa, juntando-se ao escoteiro Sam (Jared Gilman, em brilhante atuação), que conhecera tempos antes, quando ela participava, na igreja local, de uma ópera baseada na Arca de Noé. Essa ópera chama-se "Noye's Fludde" e foi criada por Benjamin Britten, no final dos anos 1950, para ser montada de forma amadora em igrejas. O coro é formado por animais da arca. Por isso, não é surpresa que haja um dilúvio iminente no filme, que sempre coloca os personagens em estado de alerta. O grupo de escoteiros usado no filme, na verdade, é uma sátira sutil ao militarismo. Por sinal, o filme, é pontuado de críticas perspicazes à sociedade moderna, mesmo sendo ambientado na década de 1960. A pequena ilha retratada funciona como um microcosmo do mundo, onde muitas de nossas incongruências se evidenciam de forma caricata.



Durante um bom tempo a produção se detém no jovem casal em fuga e suas descobertas. Os dois atores, ambos estreantes, estão excelentes e têm sintonia cênica perfeita. Os diálogos, por sua vez, são um destaque à parte. Quando se beijam pela primeira vez, numa das muitas sequências impagáveis do filme, ambientada na praia, Sam vira a cabeça e cospe. Em seguida, impassível, garante a Suzy que é só porque tinha areia na boca. Nestes momentos MOONRISE KINGDOM esquece da sátira e é apenas uma bela evocação do amor jovem e pueril, uma representação da América inocente. UM DOS MELHORES FILMES DO ANO!! OBRIGATÓRIO, INESQUECÍVEL E BELO!! A GRANDE SURPRESA DO ANO!!


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A RAINHA MARGOT (La Reine Margot) França / Alemanha / Itália, 1994

A RAINHA MARGOT (La Reine Margot) França / Alemanha / Itália, 1994 – Direção Patrice Chéreau – elenco: Isabelle Adjani (Margot) , Vincent Perez (La Môle), Daniel Auteuil (Henrique de Navarra), Virna Lisi (Catarina de Médicis), Jean-Hughes Angladé (Rei Carlos IX), Jean-Claude Brialy (Coligny), Miguel Bosé (Guise), Pascal Greggory (Anjou / Henrique III da França), Dominique Blanc (Henriette de Nevers), Thomas Kreschtmann (Nançay), Claudio Amendola (Coconnas), Asia Argento (Charlotte de Sauve); Julien Rassman (Alençon), Jean-Philippe Écoffrey (Condé) – 154 minutos. Este grande filme, um verdadeiro clássico do cinema francês, baseado na obra imortal de Alexandre Dumas (de 1844), retrata um período histórico marcado pela violência praticada em nome da fé e do amor. Com seu enredo emocionante e sua galeria de personagens memoráveis, A RAINHA MARGOT, é um filme fantástico e um dos mais belos e poderosos dos anos 1990. Causou grande impacto, pelas cenas de violência e de sexo. Lançado em 1994, foi aclamado no Festival de Cannes, dando a Virna Lisi o prêmio de Melhor Atriz por sua performance assombrosa, uma presença maligna e ambiciosa, que rouba todas as cenas do filme. Foi aclamada internacionalmente entre as melhores atuações de toda a história do cinema. Premiado também como Melhor Filme pela imprensa especializada. Ganhou cinco César (o Oscar francês).
A história se passa em 1572, quando as guerras de religião dilaceravam a França. Por conveniência política, uma princesa católica de dezessete anos - bela e culta, considerada a mulher mais fascinante de seu tempo - é obrigada a se casar com o rei protestante de Navarra, um pequeno país ao sul. Ela é Margarida de Valois, ou Margot, simplesmente; ele, o jovem Henrique de Navarra. Ao promover esse casamento sem amor, Catarina de Médicis, mãe da noiva e de Carlos IX, rei da França, espera obter a paz entre católicos e protestantes. Ocorre, porém, o contrário do esperado. Sobrevêm episódios terríveis, como a noite de São Bartolomeu, um dos massacres religiosos mais conhecidos de toda a história. No centro do conflito está Margot, interpretada pela grande musa do cinema francês, Isabelle Adjani, num papel que parece ter sido criado só para ela. Indiscutivelmente, A RAINHA MARGOT é o melhor filme já realizado sobre a histórica “Noite de São Bartolomeu”. Absolutamente belo e deslumbrante, é um filme histórico brilhante, com imagens delirantes e o mais arrebatador do gênero. Não existe na história do cinema, nada mais extraordinário sobre esse episódio sangrento da história.
A Noite de São Bartolomeu, massacre de mais de três mil protestantes, ocorrido em 24 de agosto de 1572, marca as sangrentas lutas religiosas que atrasaram a consolidação do absolutismo francês. Esse acontecimento caracteriza a fase final da dinastia Valois, que governava a França desde a Idade Média. O casamento forçado entre Margot, irmã de Carlos IX (rei da França) e o protestante Henrique de Navarra (Bourbon), não paralisou as lutas religiosas entre católicos e protestantes. Com a Noite de São Bartolomeu, ressurgia o combate, estimulado pelo Papa, envolvendo várias regiões européias. Com a morte de Carlos IX, sobe ao trono seu irmão Henrique III da França, iniciando-se uma guerra civil conhecida como “a Guerra dos Três Henriques”, entre Henrique de Guise, que fundou com líderes católicos franceses a Liga Católica e Henrique III, que contou com o apoio de seu cunhado Henrique de Navarra. Os dois últimos lideram o cerco sobre Paris em 1589, quando Henrique III é assassinado. Henrique de Navarra assume então o trono francês como Henrique IV, convertendo-se ao catolicismo – “Paris bem vale uma missa”, pronunciou a famosa frase – mas publicando o Edito de Nantes que dava liberdade de culto aos protestantes. Seu governo marca o início da dinastia Bourbon, que conhecerá o apogeu do Estado absolutista no longo reinado de Luiz XIV (1661-1715) o “rei sol”, para depois nos reinados de Luiz XV e Luiz XVI, conhecer a decadência e crise, que culminou com a Revolução Francesa em 1789, acontecimento que marca o início da Idade Contemporânea.
O filme mostra os propósitos do casamento, as tentativas da família real francesa de manter o trono em domínio de um rei católico, os amores proibidos da rainha e a perseguição aos protestantes durante a cerimônia do casamento. Este drama histórico poderoso também fala da manipulação dos homens; as tentativas fracassadas de assassinato; palavra em falso do outro que é dito para iludir e enganar; a lealdade a uma promessa de amor; a quebra de uma promessa de honra em nome de salvar a própria vida; o inusitado nascimento de um amor que pode render e salvar, mas que também pode dar a vida pela do outro. Há uma dissecação impecável sobre a vida de um nobre, onde muitas vezes o poder pode ser uma sentença de morte. Este épico assombroso repleto de suspense e beleza é interpretado por alguns dos melhores atores franceses de sua geração. Ao lado da impressionante caracterização de Virna Lisi e a estonteante atuação de Isabelle Adjani, temos ainda Vincent Perez, no auge sua beleza, numa impecável composição como o amante da Rainha Margot; o excelente Jean-Hughes Angladé brilha como o fraco Rei Carlos IX; Daniel Auteuil, como Henrique de Navarra dá um show particular; Pascal Greggory, como Anjou / Henrique III da França, dispensa comentários, numa magnífica representação; Miguel Bosé, brilhante como Guise está notável. Fotografado com grande beleza e precisão delirante por Phillipe Rousselot - que amplia a escuridão dos palácios e das ruas de Paris para reiterar as trevas que circundam as personagens – e com uma reconstituição de época impressionante e impecável (com ênfase no figurino indicado ao Oscar de Moidele Bickel), o filme conquista justamente pelos motivos que incomodaram os críticos sem abdicar dos elementos próprios de sua cinematografia (nudez frontal masculina ainda era um tabu em Hollywood) e absorvendo o melhor do cinema norte-americano, ele é um filme que serve tanto como entretenimento quanto como história, ainda que disfarçada de romance. OBRIGATÓRIO E BELO!!