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quinta-feira, 28 de julho de 2011

MELODY - QUANDO BROTA O AMOR (Melody) 1971



MELODY – QUANDO BROTA O AMOR (Melody) Inglaterra, 1971 – Direção Waris Hussein – elenco: Mark Lester, Jack Wild, Tracy Hyde, Roy Kinnear, Kate Williams, Ken Jones – 103 minutos.

Conto inocente sobre duas crianças de 12 anos de idade que se apaixonam e decidem se casar.

Uma fantasia romântica retratada sob o ponto de vista das crianças da história, onde os adultos são apenas personagens secundários. Daniel Lattimer (Mark Lester) é amigo do problemático Ornshaw (Jack Wild). Certo dia, Daniel se apaixona por Melody Perkins (Tracy Hyde) e anuncia a seus pais que quer casar, mas não no futuro, e sim no momento presente. Os pais e professores tentam dissuadi-lo, e Ornshaw também não aprova a idéia, pois sente que Melody o está distanciando do amigo. Posteriormente, porém, Ornshaw e os colegas de classe se determinam a ajudar o jovem casal. Eles se reúnem em um local distante, para casá-los, mas os pais os seguem e tentam impedi-los. As crianças distraem os pais, enquanto Melody e Daniel fogem em um carro-de-mão sobre os trilhos, com a ajuda de Ornshaw.

Na época do seu lançamento nos cinemas foi um enorme sucesso, não só pela presença de Mark Lester, que já tinha encantado o mundo com o belíssímo OLIVER!, produção magnífica de 1968, que ganhou o Oscar de Melhor Filme do Ano, mas também pela extraordinária trilha sonora toda com músicas do Bee Gees, que estavam no auge, assim como o seu roteiro simples e tocante que apresentava uma história de amor encantadora.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

CRIAÇÃO (Criation) 2009



CRIAÇÃO (Criation) Reino Unido, 2009 – Direção de Jon Amiel – Elenco: Jennifer Connely (Emma Darwin), Paul Bettany (Charles Darwin), Jeremy Northam, Toby Jones, Jim Carter, Benedict Cumberbatch, Martha West (Annie Darwin), Teresa Churcher, Harrison Sansostri, Zak Davies – 108 minutos.

O naturalista Charles Darwin revolucionou toda a história da humanidade com sua extraordinária obra “A Origem das Espécies”. Suas idéias chocaram a todos, mas foi dentro de sua família, em especial sua esposa Emma, onde ele encontrou os maiores desafios a sua teoria. Ele luta para encontrar um equilíbrio entre suas teorias revolucionárias sobre a evolução e seu relacionamento com a esposa religiosa, cuja fé entra em conflito com o seu trabalho. Darwin viveu um dilema entre fé e razão, amor e verdade.

Um dos episódios mais importantes da história da ciência, o desenvolvimento da Teoria da Evolução, torna-se o pano de fundo para o bonito drama familiar, em CRIAÇÃO. O inglês Paul Bettany e sua mulher Jennifer Connelly interpretam o cientista Charles Darwin e sua esposa Emma, cuja crise no casamento se transforma em mote para o filme dirigido por Jon Amiel.

As descobertas de Darwin, a formulação de seus pensamentos e teoria não ganham muito espaço no filme à medida em que a narrativa avança e o drama familiar toma conta da história. Começando pela morte prematura da filha de 10 anos do casal, Annie (Martha West), que era bastante próxima do pai, e gostava de ouvir histórias de zoologia, das viagens de Darwin a terras distantes e especialmente sua amizade com uma macaquinha. Cenas do passado e do presente se alternam. Pai e filha conversam, e ela parece ser a única que o compreende e realmente se interessa por seus estudos e pesquisas. No presente, o cientista se debate entre sua fé cristã, cada vez mais desgastada depois da morte da filha, e suas formulações científicas, que desafiam o dogma do criacionismo.

Ao contrário de Darwin, sua mulher está cada vez mais apegada a Deus e à religião e preocupada, não sem razão, com a saúde mental do seu marido. As implicações teológicas da teoria dele também a preocupam. A religião é representada pelo pastor local (Jeremy Northan), que nunca bate radicalmente de frente com o cientista, mas tenta dissuadi-lo de suas ideias.

CRIAÇÃO é um filme que surpreende pelos caminhos escolhidos para contar a história. Aqui opta por dar mais espaço para o drama familiar e não em suas pesquisas e descobertas científicas de Darwin, aprofundando na crise com a esposa, pois, na verdade, o cientista viveu um dilema muito grande dentro de casa enfre fé e razão, amor e verdade. O roteiro, assinado por John Collee, baseia-se num livro de Randal Keynes, um descendente direto de Charles Darwin. UM FILME MEMORÁVEL SOBRE UM HOMEM BRILHANTE!!!



EM SETEMBRO - OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

terça-feira, 26 de julho de 2011

LÁGRIMAS DO SOL (Tears of The Sun) 2003



LÁGRIMAS DO SOL (Tears of the Sun) EUA, 2003 – Direção de Antoine Fuqua – elenco: Bruce Willis, Monica Bellucci, Cole Hauser, Johnny Mesner, Malick Bowens, Paul Francis – 118 minutos.

Adrenalina pura, do início ao fim. Nada do que se viu até hoje é comparável. Eletrizante! Empolgante! Espetacular! Os adjetivos são poucos para exaltar esta grande aventura de guerra. O leal comandante veterano da marinha A. K. Waters (Bruce Willis) é enviado para uma região da África (no caso a Nigéria) completamente devastada pela guerra em uma missão super arriscada para resgatar a Dra. Lena Hendricks (Monica Bellucci), uma cidadã americana que administra uma Missão. Quando a atraente doutora se recusa a deixar para trás os 70 refugiados de quem toma conta, o comandante Waters tem que decidir se vai continuar seguindo suas ordens ou sua consciência. Juntos, eles iniciam uma perigosa jornada pelo interior da floresta e são perseguidos por um grupo guerrilheiro cujo único objetivo é assassinar todos os refugiados e o grupo de soldados liderado por A. K. Waters.

O filme é um grande tratado belicista, cheio de aventura e suspense e recheado de seqüências inesquecíveis. Há grandes cenas de ação de tirar o fôlego. Uma seqüência antológica é aquela em que uma milícia dizima uma aldeia inteira. O diretor Antoine Fuqua, o mesmo que nos deu DIA DE TREINAMENTO (2001), aquele filmaço com Denzel Washington e Ethan Hawke, realizou um competente exercício de guerra, com uma fotografia caprichada e imagens fantásticas, além de um elenco correto. Ele também, de forma muito sutil, dá uma porrada no governo norte-americano, e mais, canaliza sua bronca ao descaso dos EUA com o continente africano. O truculento Bruce Willis está original no papel de um soldado boa-praça que se torna alvo de cruéis rebeldes nigerianos, empenhados em promover uma faxina étnica.

O personagem de Willis é a personificação do Tio Sam, mostrando frieza e desinteresse com as eternas crises africanas. Ao seguir essa linha, o diretor conduz o filme de forma bastante interessante e muito valorizada. Ele se utiliza de uma forma nada ortodoxa, mas altamente eficaz, ao abrir o filme com cenas reais de execuções e torturas. Outra teoria defendida pelo diretor é o engajamento da causa africana como uma causa negra. Ele sugere que os afro-americanos sejam mais ativos na cobrança de uma atitude por parte do governo dos EUA. Mônica Bellucci, que brilhou em MATRIX RELOADED e MATRIX REVOLUTIONS, é a médica ativista e defensora das minorias refugiadas. Entre os coadjuvantes também há boas interpretações. O filme é perfeito, do ponto de vista técnico e sua trama é bem costurada, levando o espectador a pular da poltrona em suas seqüências excitantes do mais puro entretenimento. LÁGRIMAS DO SOL não é um épico por excelência, mas o seu mérito está exatamente aí: o filme se presta a um papel atual. É sobre uma guerra muito mais dolorosa que a disputa militar e política, pois envolve acima de tudo, civis. É uma história fictícia de incansável heroísmo sobre os que lutam com uma esmagadora desvantagem. Muito recomendado!!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

UM DOCE OLHAR (Bal) 2010



UM DOCE OLHAR (Bal / Mel) Turquia, 2010 – Direção Semih Kaplanoglu – Elenco: Bora Altas, Erdal Besikçioglu, Tülin Özen, Alev Uçarer – 103 min.

Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2010, o filme turco "Um Doce Olhar" é a terceira e última parte de uma trilogia assinada pelo diretor Semih Kapanoglu. O título original do filme, "Bal", quer dizer "Mel". Os outros dois longas são "Yumurta" ("Ovo"), de 2007, e "Sut", ("Leite"), de 2008 -- ambos inéditos em circuito comercial no Brasil, mas exibidos em festivais, como a Mostra Internacional de São Paulo.

Em "Um Doce Olhar", o pequeno Yusuf, de 6 anos, mora numa província cercada de montanhas no norte da Turquia. O pai, Yakup (Erdal Besikcioglu), é apicultor, e a mãe, Zehra (Tulin Ozen), plantadora de chá. O menino é de poucas palavras, e, na escola, apresenta dificuldades de aprendizado. Um pedagogo ou psicólogo logo diagnosticaria uma dislexia. Talvez o problema seja apenas uma timidez excessiva. A dificuldade de aprendizagem, relacionamento e a gagueira podem não passar de uma consequência de sua ansiedade.

O pai, Yakup, é o vínculo mais forte para o menino. Juntos, eles saem em busca de lugares onde colocar colmeias para a produção do melhor mel. A floresta é um lugar de encanto, mas também mistério. Nunca se sabe o que pode estar escondido no meio das árvores. E quando Yakup sai para uma viagem sozinho, Yusuf fica isolado em seu próprio mundo.

"Um Doce Olhar" é o filme sobre a perda da inocência, sobre a descoberta do mundo -- especialmente as decepções -- e como isso molda uma pessoa. A beleza visual, a profundidade da narrativa e dos personagens, nada disso funcionaria se Kaplanoglu não tivesse um bom ator no papel de Yusuf. E o pequeno Bora Altas é tão comovente quanto encantador. Seu personagem, com a curiosidade infantil para a qual tudo é novidade, está descobrindo a poesia que existe no mundo, apesar das contrariedades. Eloquente, verdadeiro e fascinante!! O maior sucesso do atual cinema turco!!

domingo, 24 de julho de 2011

OS AGENTES DO DESTINO (The Adjustment Bureau) 2011



OS AGENTES DO DESTINO (The Adjustment Bureau) EUA, 2011 – Direção George Nolfi – elenco: Matt Damon, Emily Blunt, Terence Stamp, Michael Kelly, Anthony Mackie, John Slattery – 96 minutos.

O ponto de partida deste grande filme é dos mais interessantes, aliás, como sempre são os textos do escritor Phillip K. Dick. Parte-se do pressuposto da existência de uma grande equipe de agentes não humanos que há séculos toma conta dos destinos da Humanidade aqui na Terra. São estes agentes que fazem com que todos nós, por exemplo, percamos um ônibus, ou nos atrasemos alguns minutos para um compromisso, ou derrubemos café na camisa… tudo em nome de uma grande ordem já previamente planejada que, assim como todos os grandes planejamentos, necessitam de alguns ajustes aqui e ali, para que tudo continue correndo bem.

Será que somos senhores de nosso destino? Ou o futuro já está traçado e não nos resta outra coisa além de esperar sentados o que está por vir? Para o jovem candidato a senador David Norris (Matt Damon), que acaba de ser derrotado em uma eleição apertada, a resposta a essas perguntas chega a ser angustiante.
O que parece ser apenas uma preocupação filosófica e existencial de um personagem em crise ganha em "Os Agentes do Destino", que marca a estreia na direção do roteirista George Nolfi ("O Ultimato Bourne"), uma dimensão muito maior, quase um complô do qual não podemos escapar. E, para fugirmos das armadilhas do destino, temos que literalmente correr.

David começa a perceber que não consegue tomar as rédeas de sua vida quando os agentes não humanos vestidos de terno escuro e chapéu (um vestuário desatualizado e mais próximo de cidadãos dos anos 1940) tentam impedir que ele se relacione com Elise (Emily Blunt). Na verdade, eles querem impedir que eles se encontrem e possam iniciar uma relação. Isso é perigoso para os planos deles.

O filme não é aquela correria desenfreada que o trailer faz supor, mas sim uma interessante discussão sobre a maneira através da qual nós encaramos (ou fugimos) das várias alternativas e desafios que a vida nos propõe todos os dias. Ou seja, o famoso livre arbítrio. Um filme fascinante e uma verdadeira aula de reflexão!!


sexta-feira, 22 de julho de 2011

A PISTOLA É MINHA BÍBLIA (E Per Tetto Un Ciello Di Stelle) 1968



A PISTOLA É MINHA BÍBLIA (E Per Tetto Un Ciello Di Stelle) Itália, 1968 – Direção de Giulio Petroni – elenco: Giuliano Gemma, Mario Adorf, Magda Konopka

Após um violento assalto a uma diligência, com muitos tiros e ação explosiva, dois pistoleiros Tim e Larry, aparecem do nada, sem nenhuma informação sobre seu passado. Em seu caminho, os dois vigaristas enfrentam muitas aventuras e bandidos rápidos no gatilho.




É um grande filme, que fez enorme sucesso na época do seu lançamento. Nos cinemas foi lançado com o título acima, ou seja, A PISTOLA É MINHA BÍBLIA. Em DVD recebeu o ridículo título de QUEM DISPARA PRIMEIRO?

Sua fúria... Seu ódio... Sua violência... explodem quando um bando de foras-da-lei tenta superar seu gatilho!!!!

Para os fãs de Giuliano Gemma, que querem recordar, é um bom programa. Um filme repleto de aventura que marcou toda uma geração!!!!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

MIMI, O METALÚRGICO (Mimi Metallurgico Ferito Nell' Onore) 1972



MIMI, O METALÚRGICO (Mimi Metallurgico Ferito Nell’Onore) Itália, 1972 – Direção Lina Wertmüller – Elenco: Giancarlo Giannini, Mariangela Melato, Turi Ferro, Agostina Belli, Luigi Diberti, Elena Fiore, Tuccio Musumeci, Ignazio Pappalardo, Gianfranco Barra, Livia Giampalmo, Rosaria Rapisarda, Umberto Lentini, Salvatore Savasta, Ottorino Russo, Giovanni Cori – 121 minutos.

Em 1973, MIMI, O METALÚRGICO, de Lina Wertmuller, foi retirado às pressas de cartaz em todo o território nacional. Motivo: a censura do Regime Militar de Exceção considerou o filme nocivo à sociedade. Uma afronta à arte e à cultura por um regime ridículo, que de nada adiantou tamanha repressão. Os anos passaram e os seus generais também.

O clássico político de Lina Wertmuller depois de uma longa espera agora existe em DVD. É uma bela notícia. A diretora italiana conseguiu falar da realidade de seu país, em 1972, com humor, graça, drama e sensualidade sem perder o foco. Giancarlo Gianinni é Mimi, um operário da construção civil na Sicília controlada pela Máfia. O partido comunista luta para ganhar a prefeitura, mas os mafiosos controlam os votos mediante ameaças. Mimi se deixa convencer por um amigo que o voto é secreto e ele pode votar na esquerda sem medo. Não era verdade. Numa comunidade pequena, os "capos" tinham como saber e ele perde o emprego. Sem opção de trabalho, escapa para Milão, a capital industrial do país. Lá descobre que quem manda também é a máfia.

Durante um episódio sangrento, que causa a morte de um operário, Mimi resolve peitar um dos gerentes do crime organizado e quase é morto, mas ao informar seu nome completo e sua origem siciliana, descobre que é parente distante de uma família de capos e sua vida muda. Aí é o momento em que o filme dá um salto de qualidade. Mimi quer o amor, depois que encontra a bela Agostina Beli, quer lutar pela esquerda, filiando-se ao PC, quer associar sua vida a de seus companheiros, mas sua vaga origem o joga constantemente para o outro lado. Outros aspectos pouco saudáveis do homem italiano também não passam despercebidos para Lina. Ela denuncia o patriarcado que aflora em vários momentos nos atos de Mimi. Sua ingenuidade diante dos modelos de comportamento fica clara. O título original, “Mimì metallurgico ferito nell'onore”, se refere, especificamente à noção de honra que o protagonista sente ferida, sem perceber que é a mesma honra da máfia, dos patrões, dos machões e dos bandidos. Imperdível!!

terça-feira, 19 de julho de 2011

MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris) 2011



MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris) Espanha/EUA, 2011 – Direção Woody Allen – elenco: Owen Wilson, Rachel McAdams, Adrien Brody, Kathy Bates, Michael Sheen, Carla Bruni, Marion Cotillard, Kurt Fueler, Mimi Kennedy, Tom Hiddleston, Alison Pill, Yves-Antoine Spoto, Marcial Di Fonzo Bo, Corey Stoll, Nina Arianda – 90 minutos.

Na pele de um roteirista, chamado Gil Pendler, cujo sonho é trocar Hollywood pela literatura, Owen Wilson assume seu costumeiro ar entre ingênuo e abobado, que cai bem, no entanto, a um personagem que descobre por acaso uma porta fantástica no tempo, que lhe permite trocar figurinhas com uma lista invejável de alguns dos maiores artistas da História. Entre os ilustres estão Scott e Zelda Fitzgerald (Tom Hiddleston e Alison Pill), Ernest Hemingway (Corey Stoll), Gertrude Stein (uma impagável Kathy Bates), Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Henri Matisse (Yves-Antoine Spoto) e Salvador Dalí (uma breve e inspiradíssima participação de Adrien Brody).

A porta mágica fica dentro de um calhambeque Peugeot, no qual Gil embarca numa noite em que se perdeu pelas ruas de Paris - depois de deixar a noiva Inez (Rachel Adams) sair com outro casal de amigos, em que um deles é Paul (Michael Sheen), um pseudo-intelectual pedante que Gil simplesmente não aguenta mais ver pela frente.
Cabe a ninguém menos do que a primeira-dama francesa, Carla Bruni, abalar a pose de Paul, bem no momento em que ele montava um discurso com algumas imprecisões sobre a vida de Auguste Rodin. Carla interpreta a guia do museu da obra do célebre escultor, um dos locais mais belos de Paris, e tem três cenas no filme, duas ali mesmo e outra num banco diante da catedral de Notre-Dame. Para quem ama Paris, como o diretor e a maioria da humanidade, o filme é um prazer desde as primeiras sequências, que percorrem alguns dos pontos cardeais da paisagem afetiva da cidade que já foi descrita como uma festa. Esse foi o título aliás, de um livro do próprio Hemingway, um dos expatriados americanos em Paris que participam ativamente da fantasia viva de Gil.

É numa personagem fictícia, no entanto, Adriana (Marion Cottilard), musa de Picasso, que o filme sintetiza a fantasia romântica que abala Gil mais profundamente, levando-o a reavaliar seu noivado com Inez - a quem cabe, o tempo todo, a função de desmancha-prazeres do noivo sonhador. Nenhum elemento desta boa receita funcionaria, no entanto, sem um equilíbrio entre a beleza, a poesia, o humor e umas pitadas de discussão sobre o sentido da vida, de estarmos aqui, nesta época, sonhando sempre com outra, geralmente no passado e que idealizamos o bastante para acreditar que foi melhor.

Sem sombre de dúvida, aqui está uma grande obra do genial Woody Allen. Êxtase é o adjetivo perfeito para definir o durante e o depois da sessão. Com sofisticação, charme e sem amarras quanto ao realismo, esta comédia desenrola um interessantíssimo comentário sobre a relação com o passado e o deslocamento com o presente, passando por uma descarada homenagem a feras da música e literatura, com destaque para o genial Cole Porter. Para encerrar, um olhar muito particular sobre a capital francesa, a qual já vimos centenas de vezes em centenas de filmes. Acredite: a Paris deste filme de Woody Allen é diferente. UM FILME OBRIGATÓRIO!!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O MURO DAS MARAVILHAS (Wonderwall) 1968



O MURO DAS MARAVILHAS (Wonderwall) Inglaterra, 1968 – Direção Joe Massot – Elenco: Jack MacGowran, Jane Birkin, Iain Quarrier, Brian Walsh, Irene Handl, Richard Wattis – 92 minutos.

O cinema inglês concilia aqui o velho e o novo numa narrativa moderna e profundamente diferente. Representou o cinema de seu país no II FIF do Estado da Guanabara (na época do lançamento era o nome do Estado do Rio de Janeiro). O ator Jack MacGowran, que Roman Polanski utilizou em ARMADILHA DO DESTINO (1966) e A DANÇA DOS VAMPIROS (1967), é um professor solitário e ocupadíssimo, que um belo dia descobre algo de novo e insuspeitado em sua existência. Por razões extra-cinematográficas Jane Birkin, a grande estrela do filme, ficou muito famosa. O diretor era estreante e o filme ficou conhecido como um espetáculo muito curioso. Fez muito sucesso na época de seu lançamento. Aqui, em São Paulo, aconteceu em outubro de 1969, no extinto Cine Palmela, na Rua Pamplona. No Brasil, ainda não foi lançado em DVD e só se consegue uma cópia do filme na Internet. Em 1969, quando foi lançado só se sabia que era algo estranho e muito surreal.

A trilha sonora ficou por conta de George Harrison (numa época que os Beatles eram tudo). Alguns críticos disseram que não existe razão para ver o filme se o espectador não for fã de George Harrison, ou dos Beatles, mas isso não procede. O filme merece ser descoberto e visto, porque retrata bem as idéias de 1968, um ano que ficou para sempre na história do Século XX; apresenta a onda psicodélica da época com graça e beleza, e vale também por toda a efervescência cultural, social, política, dos anos dourados de 1960. Lá nos EUA foi restaurado e remasterizado e foi relançado com a promessa de permanecer para a eternidade, pela simples razão de ter tido a colaboração de um Beatle. Com certeza, um deleite reflexivo!!



EM SETEMBRO - OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

domingo, 17 de julho de 2011

BRAVURA INDÔMITA (True Grit) 2010



BRAVURA INDÔMITA (True Grit) EUA, 2010 – Direção Joel e Ethan Coen – Elenco: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper, Elizabeth Marvel, Paul Rae, Ed Corbin – 110 minutos.

Para quem conhece o "Bravura Indômita" de 1969, de Henry Hathaway, com John Wayne como protagonista - existe em DVD e Blu-Ray -, a história é certamente muito semelhante, mas com diferenças que assinalam a personalidade da nova encarnação. Os Coen voltaram à fonte original, ou seja, o romance de Charles Portis de 1968, e fizeram a sua própria leitura.

O trio principal, certamente, está lá - a garota Mattie Ross (a impressionante novata Hailee Steinfeld, indicada ao Oscar), aos 14 anos empenhada na vingança do assassinato do pai; o oficial beberrão Rooster Cogburn (Jeff Bridges), que ela contrata para caçar o assassino; e LaBoeuf (Matt Damon), um Texas Ranger também na cola do mesmo criminoso, por causa de uma recompensa.

Se a trama que une os três é a mesma, o tom da história não é. Muito menos a maneira como os três atores se apropriam de seus personagens. A maior atualização recai sobre a figura de Mattie, nesta nova versão muito mais dura e realista do que a meiga Kim Darby de 1969. Um detalhe que aproxima mais Hailee de Mattie é que ela realmente tem 14 anos - enquanto Kim era uma moça de 21. Boca-dura, voluntariosa e muito esperta, Hailee tem o maior desafio - encaixar-se num mundo adulto e convencer Cogburn e LaBoeuf de que ela não abre mão de participar pessoalmente da captura de Tom Chaney (Josh Brolin). E ela dá conta espetacularmente bem do recado. A cena em que ela veste as roupas e coloca o chapéu do pai e se põe a caminho do território indígena, onde se esconde Chaney, neste sentido, é emblemática. Mattie realmente está deixando a infância para trás e definitivamente tornando-se adulta. Ela nem sabe ainda o quanto.



Jeff Bridges dá um show de interpretação. Está muito bem como Rooster Cogburn, um sujeito endurecido, forjador das próprias leis e que não costuma fazer prisioneiros, só cadáveres. O seu brilho é tão bom quanto o papel de John Wayne em 1969, ambos estão insuperáveis. Na encarnação sutil de Matt Damon, igualmente o texano LaBoeuf torna-se mais interessante, menos dândi e mais cowboy. Depois de mencionar essas três figuras, não há como deixar de citar o Josh Brolin, que está fantástico como o criminoso Tom Chaney, que matou o pai de Mattie. Sua interpretação com convicção é um primor de coadjuvante.

Uma outra diferença a favor desta versão é aprofundar mais o contexto. No filme de 1969, apesar de se passar em território indígena, não se vê um índio. Aqui há vários, começando pela cena inicial do enforcamento - em que ao único condenado nativo é negado o direito das últimas palavras. Há outras situações que denotam o tratamento politicamente incorretíssimo destinado aos donos da terra pelos valentões brancos de passagem. Os tipos estranhos que povoam esse tipo de cenário, descritos no livro, aqui entram em cena - como Bear Grit (Ed Corbin), um estranho curandeiro, vestindo pele de urso, que cruza o caminho de Cogburn e Mattie. São detalhes que reforçam a atmosfera, criando verossimilhança.



Outra diferença essencial está nas cores do filme. Onde vibrava o technicolor da produção de 1969, aqui predominam os cinzas e azuis, fieis à paisagem invernal - com muita neve à vista. A primeira incursão de Joel e Ethan Coen no western resulta num filme belo e extraordinário. A direção conscienciosa e eficiente dos irmãos aliada a uma fotografia primorosa (o filme concorreu ao Oscar nessa categoria) presenteiam o espectador com imagens que se imprimem profundamente em nossas retinas e memórias afetivas, sem função meramente plástica e ornamental. Elas dialogam conosco, sugerem-nos coisas sobre as situações e personagens. Os diretores confiam nas imagens e se apoiam firmemente nelas. Sabem que são fundamentais para contar uma boa história. UM DOS DEZ MELHORES FILMES DO ANO!! ABSOLUTAMENTE ESPETACULAR!! IMPERDÍVEL PARA QUEM GOSTA DE VER UMA BOA HISTÓRIA BEM CONTADA NO CINEMA!!

sábado, 16 de julho de 2011

A DEFESA DO CASTELO (Castle Keep) 1969



A DEFESA DO CASTELO (Castle Keep) – EUA, 1969 – Direção Sydney Pollack – elenco: Burt Lancaster, Patrick O’Neal, Jean-Pierre Aumont, Peter Falk, Astrid Heeren, Bruce Dern, Scott Wilson, Tony Bill, James Patterson, Al Freeman Jr. – 107 minutos.

Uma história forte de um grupo de homens do Século 20 que amam como deuses e lutam como demônios num castelo do Século 10.

Uma superprodução do renomado diretor hollywoodiano Sydney Pollack, com a ação passada na Bélgica durante a Segunda Guerra Mundial e girando em torno de um esquadrão norte-americano comandado por um dos maiores e mais importantes atores da era de ouro de Hollywood - Burt Lancaster, em brilhante atuação - fazendo o papel do Major Abraham Falconer, que vai parar num castelo do Século X, de propriedade de um conde sofisticado e impotente (brilhantemente interpretado por Jean-Pierre Aumont). Este, precisando de um herdeiro, a fim de continuar na posse do castelo e dos objetos de arte nele existentes, tudo faz para que sua esposa Therese (a estreante Astrid Heeren, que está muito bem no papel) tenha relações com o Major Falconer. E em meio a essa intriga tão “peculiar” há a ameaça nazista. As tropas nazistas avançam e cercam a edificação.



O diretor Pollack não só se deixou atar pelo entretenimento espetacular, como procurou apresentar uma obra de empenho artístico. Com uma direção primorosa e um elenco de primeira, é um espetáculo obrigatório para aqueles que são fãs de filmes que tratam do assunto da Segunda Guerra Mundial. Merece destaque no elenco Patrick O’Neal como o Capitão Lionel Beckman, Peter Falk como o Sfc. Rossie Baker e Bruce Dern como o Lt. Billy Byron Bix. Um filme espetacular, com grandes cenas de ação, uma fotografia esplêndida e reconstituição de época magnífica. Vale a pena conferir.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

EU SOU A LENDA (I Am Legend) 2007



EU SOU A LENDA (I Am Legend) EUA, 2007 – Direção de Francis Lawrence – Elenco: Will Smith, Alice Braga, Emma Thompson, Salli Richardson, Charlie Tahan – 101 minutos.

Nesta ficção futurista, Will Smith, assume mais uma vez o papel de herói. O ano é 2012. Nova York tornou-se uma cidade deserta, onde as suas largas avenidas transformaram-se em matagais, seus imensos edifícios, em estruturas abandonadas. Nas ruas atulhadas de detritos, um único carro, um possante Shelby Mustang GT-500, passa a toda velocidade. Dentro dele, Robert Neville (Smith), e sua cadela, a pastora alemã Sam. Médico virologista, Neville é o único habitante humano sadio de Manhattan. Todos os demais ou morreram ou foram transformados em pavorosos zumbis canibais, que saem à noite à caça de carne. Apesar de não serem exatamente vampiros, eles também têm pouca resistência à luz. Neville, portanto, só circula durante o dia à procura de algum outro ser humano que possa ter sobrado da maciça contaminação que varreu o país, quem sabe o mundo. O culpado: um vírus que surgiu de um tratamento pioneiro que, anos atrás, erradicou o câncer, mas gerou este terrível efeito colateral. Quando a tarde cai, Neville e Sam recolhem-se à sua casa na Washington Square, fechando portas e janelas previamente fortalecidas com barras metálicas. Tudo para resistir aos ataques das hordas canibais. No subsolo, o virologista realiza experiências com animais - e, quando consegue, com algum zumbi -, procurando chegar a uma vacina, a uma fórmula que reverta os efeitos da epidemia. Por uma incrível coincidência, ele é, misteriosamente, o único ser humano imune, ainda que seja mordido pelos canibais. Fora os sucessivos fracassos com seus experimentos científicos, a solidão está enlouquecendo Neville, que perdeu a mulher e a filha em circunstâncias que o filme revela aos poucos. Em "flashbacks", traça-se o histórico do surgimento da doença, a quarentena da cidade e o mergulho no caos.

EU SOU A LENDA é a terceira adaptação cinematográfica do livro homônimo de Richard Matheson, lançado em 1954. A primeira foi em 1964, em MORTOS QUE MATAM, de Sidney Salkov, tendo como protagonista Vincent Price. A segunda, em 1971, A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA, de Boris Sagal, estrelada por Charlton Heston. Durante anos se pensou numa refilmagem com Ridley Scott e Arnold Schwarzernegger, mas sairia muito cara. Até que, finalmente, o desenvolvimento dos efeitos digitais que permitem criar tanto os vampiros quanto limpar a cidade de Nova York de vestígios de vida permitiu levar o projeto às telas. Se não for um dos melhores filmes do ano, pelo menos tem uma das melhores histórias! Sucesso no Brasil e no Exterior esta ficção científica estrelada por Will Smith, que se confirma como um dos maiores astro de cinema da atualidade, é uma competente aventura futurística, ao qual se assiste com atenção. Um filme imperdível e empolgante!!


terça-feira, 12 de julho de 2011

BRAVURA INDÔMITA (True grit) 1969



BRAVURA INDÔMITA (True Grit) EUA, 1969 – Direção Henry Hathaway – Elenco: John Wayne, Glen Campbell, Kim Darby, Jeremy Slate, Robert Duvall, Dennis Hopper, Alfred Ryder, Strother Martin, Jeff Corey, Ron Soble, John Fiedler, James Westerfield, Donald Woods – 133 minutos.

Em 1970, John Wayne ganhou um Oscar por sua inigualável performance como o bêbado, grosseiro e totalmente destemido comissário Rooster Cogburn. O rabugento Rooster é contratado por uma decidida garota (Kim Darby) para encontrar o homem que matou seu pai e fugiu com as economias da família. Quando a nova patroa de Cogburn insiste em acompanhá-lo na empreitada, voam faíscas. Mas a situação vai de problemática a desastrosa quando o inexperiente, mas entusiasmado, Texas Ranger (Glen Campbell) entra na festa. Risos e lágrimas pontuam a movimentada aventura neste extraordinário western que apresenta ainda Robert Duvall e Strother Martin no elenco.

Além de premiado com o Oscar de Melhor Ator (John Wayne), foi também vencedor na categoria de Melhor Canção Original ("True Grit"). Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator - Drama (John Wayne), além de ter sido indicado em outras duas categorias: Melhor Canção Original ("True Grit") e Melhor Revelação Masculina (Glen Campbell). Recebeu uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Revelação (Kim Darby).

Este é o único filme pelo qual John Wayne ganhou um Oscar. Por insistência do próprio John Wayne foi ele mesmo, e não um dublê, quem realizou a cena a cavalo em que este pula uma cerca. O filme ficou famoso por trazer o ator num premiado papel de um pistoleiro bêbado e caolho, de certa forma uma paródia de si mesmo. Um grande filme que merece ser visto!! Foi recentemente realizado o seu remake pelas mãos competentes de Joel e Ethan Cohen.



EM SETEMBRO - OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

domingo, 10 de julho de 2011

O DISCURSO DO REI (The King's Speech) 2010



O DISCURSO DO REI (The King’s Speech) Reino Unido / Austrália / EUA, 2010 – Direção Tom Hooper – elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Guy Pearce, Michael Gambon, Timothy Spall – 118 minutos.

DOIS MUNDOS QUE SE UNIRAM PARA DAR À NAÇÃO UMA SÓ VOZ!!

Esta é a história do rei George VI (nascido Albert Frederick Arthur George), cuja gagueira torna-se um empecilho toda a vez que ele vai se dirigir à nação. Em tempos de paz isso já seria um problema. Em tempos de crise, isso coloca uma espada sobre sua cabeça.

Interpretado com perfeição por Colin Firth que, por ser inglês, não precisa fingir o sotaque, mas teve trabalho para criar seu personagem, e por isso acabou ganhando o Oscar de Melhor Ator. O filme foi o campeão de indicações deste ano, com 12, ganhando também de Melhor Filme e Melhor Diretor (Tom Hooper).

Albert tentou diversos métodos para superar seu problema, mas nada funcionou. Sua mulher, Elizabeth (Helena Bonham Carter), descobre um sujeito com métodos nada ortodoxos. Mas, para quem já tentou falar com a boca cheia de bolas de gude, nada poderá ser mais radical. O sujeito é Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta que mais com falação do que ação pode ser capaz de curar o futuro monarca. Como esse é um filme de visão intimista, a política é reduzida ao básico, apenas para dar tom à trama. A questão central é George falar à nação e, com sua voz potente, ajudar os ingleses a superar um período conturbado e sobreviver à guerra que se avizinha.

Um filme absolutamente irretocável!! A direção de arte reconstroi cenários, figurinos e opta por uma luz que recorde os anos 1930 de forma colorida. A direção é discreta e competente. O roteiro, com diálogos perspicazes, desenvolve a história de forma correta. E o trio principal de atores – Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter – brilha e engrandece o filme de forma muito rica.

A Academia de Hollywood acabou dando o Oscar de Melhor Filme ao O DISCURSO DO REI, porque a história de um homem que supera seus problemas e, além de tudo, governa um império, tem mais o perfil da Academia do que o de um jovem nerd que cria um espaço na internet onde pessoas "vivem" relacionamentos virtuais, retratado no concorrente mais forte A REDE SOCIAL. Merece ser visto, mas é para público inteligente e selecionado!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O CONFORMISTA (Il Conformista / Le Conformiste) 1970



O CONFORMISTA (Il Conformista/Le Conformiste) Itália/França, 1970 – Direção Bernardo Bertolucci – elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda, Pierre Clementi, Gastone Moschin, Enzo Tarascio, Fosco Giachetti – 115 minutos.

Marcello Clerici (Jean-Louis Trintignant) quer ser normal, igual a todo mundo. Esse desejo foi se transformando em obsessão ao longo de uma vida enfadonha e burguesa, a qual nos é apresentada por meio de flashbacks, extraídos da mente do protagonista no decorrer de uma misteriosa viagem de carro. Na realidade, Marcello é a efígie de uma geração narcotizada pelo fascismo de Mussolini, no fim dos anos 1930. Contudo, isso não explica sua busca desenfreada pela normalidade. As lembranças, que vão sendo pouco a pouco reveladas, tentam esboçar o perfil psicológico do rapaz — perfil entremeado por uma sexualidade mal resolvida, uma ideologia política resignada, uma ausência latente de fé e um ambiente familiar sem qualquer solidez.

Crescido, segue não encontrando apoio ou exemplos positivos nos pais — a mãe é um fantasma dos tempos áureos da Itália pré-fascista, uma mulher que vive de aparências e artificialidades; o pai é uma figura doente e letárgica, aprisionada em um sanatório. Curiosamente, a concepção máxima de normalidade, para ele, é o matrimônio. Marcello então se casa com a rica e pouco inteligente Giulia (Stefania Sandrelli), apesar de não amá-la.

Adaptado do livro de Alberto Moravia, o roteiro (indicado ao Oscar) unifica uma série de detalhes numa composição cíclica: uma experiência homossexual na juventude é relatada após uma cena em que Marcello, já adulto e noivo de Giulia, se insere na Polícia Secreta do "Duce". Em seguida, vemos a proposição de uma tarefa arriscada: matar um dissidente que agora vive em Paris. O sujeito, no caso, é o Professor Quadri (Enzo Tarascio), com quem Marcello, aliás, teve aulas na época da faculdade. Acusado de subversão pelos "camisas negras", Quadri conseguiu escapar da execução na Itália. Exilado agora na França, ele aceita a visita do ex-aluno, ignorando por completo o trágico destino que o aguarda. Bertolucci propõe aqui um trabalho de tensão sexual bastante refinado. A bissexualidade dos personagens principais — Marcello e Anna (Dominique Sanda), a bela esposa do Professor Quadri — é somente sugerida, nunca escancarada ou explicada. Um seduz o outro por meio da frágil e inocente Giulia.

Muito mais do que uma alegoria política, é uma obra ímpar. O filme faz apelo para discussões filosóficas sobre o amadurecimento de um indivíduo em meio a uma sociedade reprimida pela ditadura. O protagonista esconde dentro de si uma angústia que o faz sofrer em silêncio desde a infância. É um filme deslumbrante e de alta categoria. Possui as mais impressionantes e barrocas imagens que sempre se desejou ver; com um estilo cinematográfico rico e poético, além de uma minuciosa e soberba descrição da média burguesia em decadência. Com um requintado visual, que recria cuidadosamente a década de 1930 e a ascensão do fascismo na Itália, esta obra-prima é um interessante estudo sobre o papel da ideologia como suporte identificatório para uma estrutura de ego desorganizada e frágil. Poucas vêzes um filme tão individualizado conseguiu transmitir tanto sobre uma tragédia coletiva e um trágico período histórico!


quinta-feira, 7 de julho de 2011

OS DOCES BÁRBAROS (1976)



OS DOCES BÁRBAROS – Brasil, 1976 – Direção de Jom Tob Azulay – elenco: Gal Costa, Maria Bethânia, Baby Consuelo, Caetano Veloso e Gilberto Gil – 100 minutos.

Depois de 28 anos da estréia do documentário OS DOCES BÁRBAROS, do diretor Jom Tob Azulay, seu relançamento em outubro de 2004, nos cinemas, trouxe um misto de nostalgia e empolgação naqueles que presenciaram o sucesso do quarteto formado por Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil. São duas horas de música e entrevistas que culminam na canção hino hippie/tropicalista "Os Mais Doces Bárbaros", que não apenas evoca um grupo ícone da cultura nacional, mas remonta a idéia festiva e metafórica de contraste à efervescência política e engajada dos anos 1970.

Pelas lentes de Azulay, o espectador é transportado para a turnê nacional realizada pelo grupo em 1976, a mesma que gerou o único álbum do quarteto. Este detalhe é importante, pois os discos ao vivo ainda eram raros na época, e o registro sonoro deficiente era compensado por farto material inédito. Assim, toda a confecção desse trabalho é apresentada para o público por meio do filme. E lá estão todos os clássicos do quarteto: "Atiraste uma Pedra", "Pássaro Proibido", a homenagem a Rita Lee "Quando", entre apresentações no Canecão, no Rio de Janeiro, e no Anhembi, em São Paulo. A lista de canções e coreografias emocionantes se completa ainda com "Esotérico" e "Um Índio". Música, dança, drogas, álcool, composição, coreografias, tudo, enfim, é captado pelo olhar do diretor em seu polêmico filme. Mesmo a interrupção imprevista, em Florianópolis, quando Gil foi preso, julgado e condenado por porte de maconha - fazendo com que o grupo ficasse um mês sem apresentações -, está na produção, que agora foi relançada em versão remasterizada, com cenas inéditas.

A qualidade do som é um trabalho à parte. Depois de um ano e meio, o que a princípio era mono, tornou-se, agora, dolby digital (5.1). Uma transformação que garantiu uma qualidade superior à produção, perceptível já nos primeiros minutos de filme. Um investimento obrigatório, ao ser analisado o potencial comercial do filme. Se em 1976 OS DOCES BÁRBAROS foram recebidos com críticas pelo tom escapista que adotavam, na contracorrente da resistência da MPB ao regime militar, hoje eles se reencontram nas telas escuras do cinema, divertindo um público afeito aos devaneios metalinguísticos de Gilberto Gil e à ferocidade fisionômica e verbal de Bethânia. Caetano e Gal, à parte, fazem coro. Um filme documentário extremamente belo e inesquecível! Uma verdadeira obra-prima do nosso cinema brasileiro! Imperdível e obrigatório!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

RÉQUIEM PARA UM SONHO (Requiem For a Dream)



RÉQUIEM PARA UM SONHO (Requiem for a Dream) EUA, 2000 – Direção Darren Aronofsky – elenco: Jared Leto, Ellen Burstyn, Jennifer Connelly, Marlon Wayans – 102 minutos.

O segundo filme do celebrado Darren Aronofsky é uma perturbada e frenética história de personagens que se envolvem com seus sonhos e vícios. O ponto de partida é um romance de Hubert Selby Jr., o mesmo de “Noites Violentas no Brooklin”. Dois pólos da vida - juventude e velhice -, afastados emocional e afetivamente, reencontram-se tragicamente sob o signo (destrutivo) das drogas. Um pós-adolescente mergulha nas "delícias" da cocaína e da heroína e embarca na trajetória (geralmente sem volta) do vício. Do outro lado, sua mãe afunda-se no "pesadelo" das anfetaminas quando resolve fazer de tudo para emagrecer.

A premissa é boa: o sonho americano é transformado em pesadelo sob o impacto de drogas, tanto ilícitas quanto lícitas. Há uma insistência em sobrecarregar as imagens, mas mesmo assim é uma obra memorável. Como o filme é uma tradução visual das "alterações de consciência", situa-se freqüentemente no limite do "insuportável".

A maioria dos filmes contém entre 600 e 700 cortes. RÉQUIEM PARA UM SONHO possui mais de 2000 cortes. Os atores estão excelentes, pois toparam uma parada dura e conseguiram não cair no "overacting". Jared Leto está perfeito no papel de Harry Goldfarb, um viciado em heroína. Ele emagreceu doze quilos para interpretar esse personagem. Ellen Burstyn, que faz a sua mãe, dá um show no papel de "senhora anfetaminada".

A gênese do vício desfila aos nossos olhos. O enfoque apaixonado do diretor nos permite mergulhar nessa profunda investigação da dor, da vulnerabilidade e da busca pelo prazer. Afinal, o que faz de um vício pior do que o outro? Um dos filmes mais intensos, perturbadores e honestos já realizados!!



EM SETEMBRO - OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS

terça-feira, 5 de julho de 2011

UM AMOR PARA RECORDAR (A Walk To Remember)



UM AMOR PARA RECORDAR (A Walk to Remember) EUA, 2002 – Direção de Adam Shankman – elenco: Shane West, Mandy Moore, Daryl Hannah, Peter Coyote, Lauren German, Clayne Crawford, Al Thompson – 100 minutos.

Este é o filme mais teen da década! Definitivamente é o brilhante filme da meninada! É o mais amado e cultuado da garotada!! Para os eternos namorados é uma doce e sincera história de amor! Baseado no best-seller de Nicholas Spark, essa é a comovente história de Landon Carter (bonita atuação de Shane West), o rapaz mais popular da escola, numa pequena cidade da Carolina do Norte, que é punido por ter provocado uma brincadeira de mau gosto com um dos colegas, deixando-o paralítico. Como castigo, ele é obrigado a prestar serviços comunitários e participar de uma peça teatral, onde conhece uma jovem por quem se apaixona. Ela é Jamie (interpretação leve e sensível de Mandy Moore), a menina simples e conservadora que vive em outro mundo. Juntos, eles descobrem que são opostos. Ele é rebelde, desajustado, sem fé e agressivo. Ela é séria, estudiosa, compenetrada e pensa no futuro. É uma moça religiosa, de costumes bastante diferentes do seu pretendente e tem um pai que é um pastor severo, o Reverendo Sullivan (Peter Coyote). Ela achava que não iria se apaixonar, mas o destino resolveu uní-los, e em seguida lhes pregar uma peça.

Parecido com outros filmes adolescentes, lembra um pouco até o clássico LOVE STORY (1970), que sensibilizou toda uma geração. A semelhança está a partir do momento em que o romance abre espaço para o drama, com a mesma doença; a moça pobre etc. Aliás, é a partir desse momento que o filme realmente adquire identidade. As muitas situações enfrentadas pelo casal e a mudança no caráter de algumas personagens, mostram de forma bastante única o lado leste da história. Um outro lado onde o sentimento despido de ambição, despojado, dá lugar à sinceridade e, infelizmente, até à fatalidade. Não ao fatalismo barato, mas àquele universo fatalista que o cinema consegue transpor de forma convincente e realista.

Destaque para Daryl Hannah, que faz a mãe de Landon, simplesmente espontânea. Mandy Moore, conhecida cantora pop lá na América do Norte, está elegante no papel, tinha apenas 17 anos quando fez o filme. Shane West nasceu na Louisiana – EUA, já trabalhou em alguns filmes famosos como, por exemplo ONZE HOMENS E UM SEGREDO (2001), A LIGA EXTRAORDINÁRIA (2003), DRÁCULA 2000 (2000), RUAS DE LIBERDADE (1999) etc. É um rapaz muito bonito, pena que não fez carreira; mas deu conta do recado nesse filme tocante e emocionante. Uma sensível história de amor, de um jovem que a cada primavera recorda a sua juventude, quando conheceu a garota que mudou a sua vida. Bonito, tocante e belo!!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

BONEQUINHA DE LUXO (Breakfast at Tiffany's)



BONEQUINHA DE LUXO (Breakfast at Tiffany’s) EUA, 1961 – Direção de Blake Edwards - elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Martin Balsam, Mickey Rooney, VillaLonga, Buddy Ebsen -

Baseado num livro de Truman Capote, BONEQUINHA DE LUXO é mais um delicioso e cativante filme com a inesquecível Audrey Hepburn. Realizado pelo cineasta Blake Edwards, conta a história de uma jovem meio perdida à procura do amor na grande metrópole.

O diretor apresenta um ótimo trabalho, ajudado por um roteiro muito bem adaptado por George Axelrod, pela maravilhosa trilha sonora de Henry Mancini, com destaque para "Moon River", ganhadora do Oscar de Melhor Canção, e pela presença da Audrey. Fala-se que Blake Edwards pensava em dar o papel principal à Marilyn Monroe. Embora seja o tipo de filme que cairia muito bem nas mãos de Marilyn, depois que a gente vê Audrey no papel principal, fica difícil imaginar outra atriz interpretando a personagem Holly Golightly.

A doce e radiante Audrey Hepburn está perfeita, roubando todas as cenas nas quais se apresenta. Com George Peppard, demonstra uma grande química na tela. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz, perdeu a estatueta para Sophia Loren, por sua atuação extraordinária em DUAS MULHERES.

Vários são os momentos marcantes de BONEQUINHA DE LUXO, como a festa realizada no apartamento de Holly, as seqüências finais com os dois principais protagonistas na chuva e principalmente a cena em que Holly, sentada na janela que dá para a escada de incêndios, canta "Moon River". Há que se destacar o figurino deslumbrante e impecável de Audrey, que mudou os rumos da moda para sempre. O filme é um luxo e merece ser visto várias vezes. Um clássico absolutamente inesquecível!!



domingo, 3 de julho de 2011

ASSASSINO A PRECO FIXO (The Mechanic) 2011



ASSASSINO A PREÇO FIXO (The Mechanic) EUA, 2011 – Direção Simon West – elenco: Jason Statham, Ben Foster, Tony Goldwyn, Donald Sutherland – 93 minutos.
Este é um daqueles grandes filmes de ação que merecem ser vistos. Em 1972, quando Charles Bronson interpretou Arthur Bishop, o assassino frio que cumpria ordens de uma organização para eliminar criminosos incômodos, o britânico Jason Statham tinha apenas dois meses de idade. Hoje, 39 anos depois, coube a ele ser o protagonista do remake, e o faz com competência.

Dirigido por Simon West com grande maestria, o filme chega a ser tão bom quanto o original, com excelentes cenas de ação e um elenco competente - como o próprio Statham, Ben Foster e Donald Sutherland, que interpreta seu mentor, Harry McKenna, intermediário entre a organização que encomenda as mortes e o executor, conhecido pelo apelido de "o mecânico", uma metáfora para simbolizar o profissional eficaz que mantém as engrenagens em perfeito funcionamento. Ben Foster, que está entre os grandes atores da nova geração, é Steve, filho de Harry, que conhece as habilidades de Arthur Bishop e pede que ele o treine na "arte de matar".

A primeira cena acompanha um traficante colombiano, escoltado por seguranças armados, num carro blindado, que passa por uma favela até chegar a sua mansão. No caminho, seus capangas espancam um homem, provavelmente algum viciado que não saldou suas dívidas. A câmera segue esse criminoso nos seis minutos que o separam da morte, na piscina de sua mansão. No melhor estilo James Bond, Bishop executa sua tarefa de forma rápida e consegue fugir sem ser percebido. A longa sequência, sem nenhum diálogo - nem mesmo os gritos de agonia do moribundo - mostra a que veio o personagem.

Explosivo, com excelente ritmo e belas locações em Nova Orleans, o filme pode ter alguns defeitos, mas é muito bom ficar o tempo todo torcendo pelos “bandidos”, mesmo porque no filme “mocinho não tem nenhum”. De uma coisa ASSASSINO A PREÇO FIXO (2011) não pode ser acusado: desonestidade. O espectador sai do cinema com a sensação de que viu um eficiente filme de ação, tiroteio, bastante honesto, bem produzido e bem interpretado. Vale o ingresso!!