O
TESOURO (Comoara) Romênia, 2015 – Direção Corneliu Porumboiu – elenco: Toma
Cuzin, Adrian Purcarescu, Nicodim Toma, Corneliu Cozmei, Radu Banzaru, Florin
Kevorkian, Laurentiu Lazar, Dan Chiriac, Ana Maria Stegaru, Clemence Valleteau –
89 minutos
Uma
visão bem lúdica, sem deixar de lado o realismo característico do cinema
romeno. A temática do filme é um notável estudo sobre a solidão. É interessante
como o filme insere em um universo adulto uma noção quase que infantil de busca
ao tesouro. É curiosa a relação do personagem principal com seu filho. Ele
conta uma história pesada para o menino, ao mesmo tempo que, em sua vida
pessoal, investe em uma trama de sonhos. Situado num cenário de crise
econômica, a narrativa se apresenta bastante realista mas prevalece a aura de
fábula. Com um troque amargo e, às vezes, cômico, um funcionário público e um
vizinho arruinado se unem para buscar um provável tesouro, que estaria enterrado
na casa de campo do avô de um deles. O plano tinha tudo para dar errado, até
porque estamos numa sociedade em que ninguém parece plenamente confiável, basta
perceber que um ladrão arrombador é quem presta serviços para a polícia. O mais
absurdo é que a história é baseada em lendas familiares da vida do avô do ator
Adrian Purcarescu. Sua família, que era nobre, tinha terras em Islaz, região
que viveu uma breve revolução em 1848. Décadas depois, as terras foram
desapropriadas pelo governo comunista, mas com a queda do regime, foram
requisitadas e devolvidas à família do ator. É interessante destacar que o
funcionário público (brilhantemente interpretado por Toma Cuzin), é na verdade
um assalariado romeno pai de família absolutamente comum numa versão de um dos
heróis mais clássicos de todos os tempos – Robin Hood.
Corneliu
Porumboiu é um dos mais notáveis cineastas do atual cinema romeno, e reconhecido
internacionalmente pelo seu senso de humor satírico e muito crítico em relação
aos problemas sociais e econômicos do seu país. Basta lembrar de dois dos seus
filmes mais aclamados: A LESTE DE BUCARESTE (2006) e POLÍCIA, ADJETIVO (2009),
ambos premiados no Festival de Cannes. É curiosa a maneira como o diretor
constrói o cenário por onde sua história acontece. Não há nenhuma pressa em
relatar sua fábula, ele só deseja contar o que ele mesmo ouvia quando era
criança. O filme, na verdade, torna-se um discurso arrojado de verdade, forte,
contundente e, ao mesmo tempo, sublime, leve e sem catequeses. Promete pouco,
mas apresenta muito mais do que o esperado ao longo do seu desenrolar. O
desfecho é poético e significativo ao som da Banda iugoslava Laibach, com uma
cena que vale o filme inteiro. Resumindo, há duas forças importantes que
conduzem essa obra emblemática: a ficção-histórica, onde o contexto
sócio-político passado e presente da Romênia é visitado, e a fantasia, onde a
trama consuma o desejo de aproximação do pai para com seu filho.
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