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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

INTOCÁVEIS (Intouchables) França, 2011

INTOCÁVEIS (Intouchables) França, 2011 – Direção Olivier Nakache e Eric Toledano – elenco: François Cluzet, Omar Sy – 112 minutos. Um dos filmes mais belos do ano conta a história de Phillipe, um rico aristocrata, que após um acidente de parapente, contrata Driss, um jovem recém-saído da prisão para ser seu cuidador. Juntos, eles irão misturar Vivaldi e a banda "Earth, Wind and Fire", dicção elegante e jazz de rua, ternos e calças de moletom. Dois mundos vão colidir e chegar a um acordo para que nasça uma amizade tão louca, cômica e forte quanto inesperada.
Boas surpresas vão surgindo numa história cujo andamento contraria muitos clichês habituais em produções hollywoodianas envolvendo deficientes físicos ou personagens de origem social ou racial diferente. Não há qualquer situação induzindo à piedade, nem de Philippe, nem de Driss -que tem sua cota de sérios problemas familiares a resolver. O ponto alto, certamente, está nas atuações e no entrosamento dos protagonistas. Omar Sy e François Cluzet parecem ter nascido para desempenhar seus respectivos papeis. Nenhuma comédia que se preze faz rir muito sem alguma provocação aos limites estabelecidos. E a boa notícia é que INTOCÁVEIS consegue andar na linha fina das próprias fronteiras com mínima possibilidade de ofender a sensibilidade de alguém. UM DOS DEZ MELHORES FILMES DO ANO!!

sábado, 1 de setembro de 2012

A REBELIÃO (L'ordre et la Morale) França, 2011



A REBELIÃO (L’ordre et la morale) França, 2011 – Direção Mathieu Kassovitz – elenco: Mathieu Kassovitz, Iabe Lapacas, Sylvie Testud, Jean-Philippe Puymartin – 136 minutos.

Ator e diretor consagrado na França, Mathieu Kassovitz já passou por Hollywood, assinando "Na Companhia do Medo" (2003) e "Missão Babilônia" (2008) – filmes que podem ter acrescentado dólares à sua conta bancária, mas não lustraram a estrela do magistral diretor de "O Ódio", vencedor do prêmio de melhor direção em Cannes e de três César, inclusive melhor filme, em 1995.



Em seu novo trabalho, "A Rebelião", em que atua e dirige, além de assinar em parceria a produção, o roteiro e a montagem, Kassovitz voltou para a cultura francesa e a política, campos em que exercita o melhor de seu talento. Sempre em cena, ele cria um clima tenso e envolvente, ao recontar um episódio verídico, uma rebelião ocorrida em 1988 na Polinésia Francesa, baseando-se em livro de um participante direto dos fatos, o capitão Philippe Legorjus, "Ouvéa, la republique et lamorale". Kassovitz interpreta o capitão da GIGN, uma força altamente preparada e especializada na negociação de crises. Ele e seu pelotão são chamados a agir quando um grupo de 30 militares franceses é tomado como refém por rebeldes Kanak, que procuram a independência da ilha de Ouvéa, Nova Caledônia - até hoje, país ultramarino dependente da França. Chamada para evitar um banho de sangue, a GIGN não vem só. Centenas de militares franceses de outras unidades, fortemente armados, já desembarcaram. O comando da operação não é da GIGN, o que obriga Legorjus e seus homens a acatar ordens num contexto político delicado.



Nesse momento, está para acontecer o segundo turno das eleições presidenciais francesas, opondo o então já presidente socialista François Mitterrand e seu primeiro-ministro centrista, Jacques Chirac. É o ponto de vista do capitão, onipresente em cena e, em alguns momentos, participando pela narração em off, que comanda a narrativa. Suas exaustivas idas e vindas no território conflagrado procuram criar um diálogo entre todas as partes, que terão voz no decorrer da trama, fornecendo um retrato límpido de uma crise extremamente complicada. O esforço incessante do capitão, tendo como interlocutor o líder rebelde Alphonse Dianou (Iabe Lapacas), evidenciará também seu isolamento diante das intrigas de gabinete cujas origens conduzem ao Champs Elysées, sede do governo central francês – onde salta aos olhos a pouca diferença entre esquerda e direita quando se trata de uma postura diante do neocolonialismo. Não por acaso, o filme pode evocar a situação da Argélia colonial, mostrada à perfeição no clássico do cinema político "A Batalha de Argel" (1966), do italiano Gillo Pontecorvo. (Neusa Barbosa – Cineweb)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

VIAGEM A DARJEELING (The Darjeeling Limited) EUA, 2007



VIAGEM A DARJEELING (The Darjeeling Limited) EUA, 2007 – Direção de Wes Anderson – Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Anjelica Huston, Bill Murray, Barbet Schroeder, Natalie Portman, Irfan Khan – 91 min.

Em seu novo filme, o diretor norte-americano Wes Anderson aborda um tema que lhe é caro: a figura paterna. Nesse quinto longa de sua carreira, os protagonistas são três irmãos que não se falam desde a morte do pai, há um ano, e vão para a Índia à procura da mãe. Em seus trabalhos mais conhecidos, como "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001), um pai que está com os dias contados tenta acertar as contas com os filhos. Em "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004), um rapaz encontra seu pai que nunca conheceu e tenta ficar amigo dele. Francis (Owen Wilson, de "Penetras Bons de Bico") é o mais bem-sucedido financeiramente entre os irmãos, e o mais controlador também. A mulher de Peter (Adrien Brody, do elogiado e belo "O Pianista") está grávida e ele crê que não saberá lidar com a paternidade. Já Jack (Jason Schwartzman, de "Maria Antonieta") brigou com a namorada mas não pára de gravar recados na caixa de recados do celular dela. O trio viaja num trem rumo a Darjeeling, na Índia, numa jornada que se torna mais inusitada a cada momento.



Além dos choques com situações e personagens do país, emergem as diferenças do passado e presente entre os irmãos - o que, no universo de Anderson, é um passo para a reconciliação. Um incidente numa vila hindu envolvendo a salvação de alguns meninos num rio cria espaço para uma nova compreensão fraterna. Mas ainda falta uma coisa: encontrar a mãe - interpretada por Anjelica Huston (de A HONRA DO PODEROSO PRIZZI e OS VIVOS E OS MORTOS) - que há anos optou pelo isolamento num mosteiro. Toda essa trama serve como base para o diretor desfilar o seu estilo, que inclui câmara lenta, trilha sonora pop e uma direção de arte colorida. Aqui, além de bandas como The Kinks e Rolling Stones, ouve-se músicas de filmes do consagrado cineasta indiano Satyajit Ray (1921-1992), vencedor de um Oscar especial de carreira em 1992. A grande diferença em relação a outros trabalhos de Anderson é que aqui o cineasta estoura a bolha que prendia seus personagens num mundo extremamente estilizado, dando-lhes a chance de viver num mundo real. Precedendo as sessões de "Viagem a Darjeeling", será apresentado o curta "Hotel Chevalier", também assinado por Anderson, trazendo no elenco o mesmo Jason Schwartzman ao lado de Natalie Portman. A história gira em torno do fim do romance de um casal e dialoga com o enredo de "Viagem a Darjeeling". Muito mais do que um filme, uma obra extraordinária!


domingo, 24 de junho de 2012

A MULHER DE PRETO (The Woman in Black) Inglaterra / Canadá, 2012

A MULHER DE PRETO (The Woman in Black) Canadá / Reino Unido, 2012 – Direção James Watkins – elenco: Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Janet McTeer, Sidney Johnston, Daniel Cerqueira, Tim McMullan, Cathy Sara - 95 minutos. Essa é a nova aposta da produtora Hammer Films – dona de clássicos do horror –, um típico suspense que sustenta um terror britânico gótico. Servindo como um catalisador de idéias de horror e medo, o filme de James Watkins prioriza artifícios recorrentes em filmes de espíritos, desde a fotografia turva, névoa e um mistério com crianças mortas entrelaçado a sustos em demasia, mas com maestria. A produção aposta no talento de seu protagonista que carrega quase o filme inteiro, sempre com uma expressão rija. As razões são denunciadas numa cena inicial quando seu filho de 4 anos lhe mostra um desenho familiar. Acessamos um passado obscuro do personagem de Radcliffe, o advogado Arthur Kipps. Sua feição, entre a esposa e a babá, é a única infeliz. Logo ele se esquiva e segue até o trabalho. A progressão dessa apresentação é rápida e sutil. Ele é incumbido, sob ameaças do chefe, a viajar e resolver problemas relacionados a uma mulher morta que deixara uma mansão após seqüenciais infortúnios. Daniel Radcliffe abandona Harry Potter e arrisca um horizonte não tão distante da fantasia que lhe consagrou, todavia apresenta indícios de um ator esforçado, tal como demonstrado em recentes trabalhos ingleses, como por exemplo “Meu Filho Jack” (My Boy Jack, 2007) e “Um Verão Para Toda Vida” (December Boys, 2007). Com uma bela direção arte (os brinquedos de corda são excepcionais) e uma fotografia sinistra, mas esplendorosa, A MULHER DE PRETO merece ser conferido!!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

FLORES DO ORIENTE (The Flowers of War) China / Hong Kong, 2011

FLORES DO ORIENTE (The Flowers of War) China / Hong Kong, 2011 – Direção Zhang Yimou – elenco: Christian Bale, Paul Schneider, Ni Ni, Tong Dawei – 146 minutos. O chamado Massacre de Nanquim, mesmo passados mais de 70 anos, ainda causa indisposições entre China e Japão. O episódio foi um crime de guerra cometido pelo Exército Imperial Japonês quando da invasão da então capital da República da China, em 1937. Historiadores estimam que cerca de 200 mil pessoas foram dizimadas pelos japoneses, que cometeram inúmeras atrocidades contra militares e civis indiscriminadamente, incluindo o estupro coletivo de milhares de mulheres. Para os chineses, o número de vítimas foi bem maior. Os japoneses adotam um política revisionista dos fatos e negam o massacre. O episódio é o pano de fundo de FLORES DO ORIENTE, o novo grande filme do cineasta chinês Zhang Yimou (O Clã das Adagas Voadoras), roteirizado por Liu Heng e baseado no romance “As 13 Mulheres de Nanquim”, de Yan Geling. Christian Bale (o atual Batman) é John Miller, um sujeito que chega à igreja para enterrar o padre morto, e acaba assumindo o seu lugar para se proteger. Beberrão e folgado, aos poucos, ele vai sendo transformado por aquelas adolescentes que esperam ajuda para fugir da cidade. A chegada de um grupo de prostitutas, liderado por Yu Mo (Ni Ni), desestabiliza o ambiente gerando a disputa de espaço entre as adolescentes e as novas refugiadas que se escondem no porão. Num primeiro momento, o filme retrata estas como vilãs. Quando japoneses invadem a igreja, matando e estuprando as estudantes, as outras mulheres nada fazem, mas se sentirão culpadas mais tarde. Miller se conscientiza do seu papel naquele ambiente, pois, ao lado de um menino que era ajudante do padre, é a única figura masculina naquele ambiente. Além de promover a paz interna, ele é o único capaz de negociar com soldados japoneses e tentar poupar a vida dessas mulheres. FLORES DO ORIENTE é uma produção belíssima e pungente. Zhang prova-se um esteta meticuloso e um diretor habilidoso na condução de cenas de ação, estejam seus personagens empunhando espadas ou fuzis. O diretor sempre equilibrou bem em seus filmes anteriores a beleza das imagens, as cenas de luta e a força emocional de seus personagens. Aqui não ficou por menos. UM GRANDE FILME!!!

sábado, 2 de junho de 2012

BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman) EUA, 2012

BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman) EUA, 2012 – Direção Rupert Sanders – elenco: Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Charlize Theron, Sam Claflin, Ian McShane, Eddie Izzard, Bob Hoskins, Toby Jones, Ray Winstone, Eddie Marsan, Steve Graham, Nick Frost, Vincent Regan, Liberty Ross, Noah Huntley, Christopher Obi – 128 minutos.
Uma Branca de Neve muito guerreira (Kristen Stewart), uma madrasta com enormes poderes mágicos (Charlize Theron), e cenários de conto de fadas de uma cuidadosa produção. Essa é a enésima versão cinematográfica do conto dos irmãos Grimm. A direção é de Rupert Sanders, cineasta egresso de uma publicidade mais inovadora, apresenta um grande apuro estético e repleto de imagens impactantes. Além de decorações e paisagens, esta nova versão da Branca de Neve apresenta um grande duelo de personagens e de atrizes. Charlize Theron empresta sua estonteante beleza e seu talento ao estereótipo da vilã no cinema, a madrasta malvada, uma mulher que no conto original usa disfarce e fala com espelho. No entanto, nesta versão, a personagem aparece com mais poderes do que qualquer super-herói da Marvel.
Do outro lado, aparece a até então Bella Swan, da saga "Crepúsculo", que ganha uma personalidade real para se transformar em uma Branca de Neve guerreira. Trata-se da atriz Kristen Stewart, que, por sua vez, demonstra que é muito mais que uma vampira e que está muito acima de seus companheiros masculinos de elenco, Chris Hemsworth e Sam Claflin. O duelo entre Charlize e Kristen é algo prá se comentar mesmo, apesar das duas aparecerem juntas em poucas ocasiões. Está entre os grandes trunfos do filme. As duas se alternam na missão de carregar o peso de uma história que eleva o papel da madrasta e, por consequência, endurece o da Branca de Neve, que é capaz de enfrentar soldados e encantar com a mesma tranquilidade.
Apesar da rivalidade do duelo, Charlize parece levar vantagem nesta disputa, já que a mesma se recria em uma personagem marcada por tiques nervosos e manias e favorecida por um espetacular figurino, capaz de se transformar em um corvo. Entre as duas protagonistas também há espaço para algumas incursões de outros personagens, como a dos anões, que aparecem como bandidos da floresta e se responsabilizam pelos poucos toques de humor presentes no filme. Trata-se de uma história interessante, bem narrada e com cenas espetaculares, especialmente as das transformações da madrasta, que abandona momentaneamente a doçura do conto para se fazer mais amarga, mais adulta e mais interessante.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

SHAME (Shame) Reino Unido, 2011 - O FILME POSSUI UMA CAPACIDADE EXTRAORDINÁRIA DE ENVOLVER O ESPECTADOR!!
SHAME (Shame) Reino Unido, 2011 – Direção Steve McQueen – elenco: Michael Fassbender, Carey Mulligan, James Badge Dale, Nicole Beharie, Alex Manette, Robert Montano – 101 minutos.
O ator alemão de origem irlandesa Michael Fassbender representa um viciado em sexo em "Shame", filme do vídeo artista britânico Steve McQueen que disputou o prêmio máximo no festival de Veneza em 2011. Fassbender - que despontou em "Bastardos Inglórios" (2009) e também já está sendo visto como o psicanalista Carl Jung no novo filme de David Cronenberg, "Um Método Perigoso" - é Brandon, um charmoso executivo de trinta e poucos anos morando em Nova York, cuja única distração é seduzir mulheres, se masturbar em casa ou no escritório e buscar sexo na Internet. O ritmo da sua vida começa a desmoronar quando sua carente irmã Sissy, representada por Carey Mulligan, chega para uma visita surpresa.
Sua presença e desejo pela atenção de Brandon desorganizam ainda mais a existência solitária do executivo, e sua única saída parece ser rondar pelas ruas à noite em busca de novas aventuras sexuais. UM DOS MAIS BELOS E MAIS CONTROVERTIDOS FILMES DO ANO!!

domingo, 1 de abril de 2012

(500) DIAS COM ELA (500 Days of Summer) EUA, 2009



(500) DIAS COM ELA (500 Days of Summer) EUA, 2009 – Direção de Marc Webb – Elenco: Zooey Deschanel, Joseph Gordon-Levitt e Minka Kelly

Este é um filme romântico, mas não é um filme romântico como os outros. Houve quem dissesse que ele é um típico “chick flick” (termo utilizado para definir filmes que têm como público-alvo as mulheres), mas isso é pura besteira, e essa pequena grande obra-prima não se encaixa nesse rótulo preconceituoso. Em sua estreia como diretor de longa-metragem após vasta experiência com videoclipes, Marc Webb brinca com os clichês do gênero, invertendo situações e personagens, aproximando o espectador dos dramas vividos por Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt). Ele toca seus dias sem muitas cores, trabalhando numa empresa que cria cartões comemorativos, aqueles que distribuímos no natal e nos aniversários. Quando ele descobre a colega de trabalho Summer (Zooey Deschanel), acredita que é a mulher perfeita para ele.



Tom é o tipo de pessoa que cresceu ouvindo músicas e vendo filmes de amor, supervalorizando o sentimento. Quando descobre que tem uma colega de trabalho fã de Smiths, projeta nela todas as suas expectativas afetivas. Quando normalmente é a mulher quem idealiza o amor – pelo menos nos filmes do gênero -, em (500) DIAS COM ELA é o personagem masculino que carrega esse estigma. Summer, por sua vez, nunca esconde a falta de crença em relação ao amor, fruto de um lar desfeito ainda na infância. Claro que uma relação entre dois personagens com expectativas tão opostas nunca dará certo (pelo menos em tese), fato já revelado nos primeiros minutos. Além de reverter os papéis no quesito “expectativas”, o diretor também apresenta uma narrativa entrecortada por animações, dividindo em dias a relação entre Tom e Summer. Transitando entre o fim e o início da relação em ordem não-cronológica, (500) DIAS COM ELA apresenta um retrato mais honesto e sincero sobre o amor do que a maioria das produções do gênero. Tom idealiza o amor e não é assim que as coisas são, o que aprendemos depois de alguns relacionamentos desfeitos e dezenas de paixões não-correspondidas. Mas o filme não chega a apontar erros, mas apresenta, de uma forma honesta e clara, como uma separação, principalmente, é superestimada.



O roteiro, escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber, valoriza os diálogos rápidos e divertidos, repletos de referências tanto ao mundo pop quanto ao universo dos amores desfeitos. São valores universais e, por isso, (500) DIAS COM ELA sai do universo “chick flick” para conquistar um público maior. Esse belíssimo drama é uma espécie de antídoto, um verdadeiro lembrete da realidade, aquela que o ser humano sofre, mas supera e segue em frente. UM DOS GRANDES FILMES DO CINEMA!!

sábado, 10 de março de 2012

HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help) EUA, 2011



UM ATO DE CORAGEM PODE TRANSFORMAR O MUNDO!!

HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help) EUA, 2011 – Direção Tate Taylor – elenco: Emma Stone, Viola Davis, Sissy Spacek, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Ahna O’Reilly, Allison Janney, Anna Camp, Chris Lowell, Cicely Tyson, Mike Vogel – 146 minutos.

Este grande filme de Tate Taylor acompanha a saga de uma jovem aspirante a escritora (Emma Stone) determinada a contar os abusos raciais sofridos pelas governantas negras no Mississipi, estado sulista dos EUA. A primeira a ter coragem de romper o cordão do silêncio, opressão e violência é Aibileen (brilhante atuação de Viola Davis).
A luta pelos direitos civis dos negros dos anos 1960 nos Estados Unidos ganha um viés intimista e predominantemente feminino nesse que é um dos melhores filmes do ano, adaptação o best-seller "A Resposta" (no original “The Help”), de Kathryn Stockett. A produção recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor atriz (Viola Davis) e atriz coadjuvante (para Octavia Spencer e Jessica Chastain). O diretor teve a sorte de ser amigo de infância da autora do livro para comandar o projeto, do qual também assina o roteiro. Mas seu maior trunfo é contar com um elenco afinado de atrizes de várias gerações, incluindo veteranas como Sissy Spaceck e Cicely Tyson, e jovens como Emma Stone - o que valeu as premiações de melhor elenco, melhor atriz (Viola Davis) e atriz coadjuvante (Octavia Spencer) obtidas do Sindicato dos Atores da América (SGA).



Uma grande sutileza do filme é a presença dominante das mulheres. São elas que comandam a ação, patroas ou empregadas, opressoras ou oprimidas. No geral, os maridos têm aparições pontuais – sejam brancos ou negros – e pouco louváveis, sempre para reforçar a ordem de “quem manda sou eu”. Não deixa de ser melancólico os almoços “beneficentes” das esposas ricas que nada têm a acrescentar ao mundo – mulheres que se parecem como troféus nas estantes dos maridos – ou de ser tocante a cumplicidade das governantas em se protegerem até onde for possível. Também merece comentar as escolhas certas. Elas estão na qualidade do elenco (Octavia Spencer e Jessica Chastain são excelentes coadjuvantes), na fotografia (Stephen Goldblatt decide criar um Sul colorido) e no uso preciso da narração em off. Sem contar a potência da história e do heroísmo dos personagens que assumiram riscos – uns mais, outros menos – quando as próprias vidas estavam em jogo. OBRIGATÓRIO E IMPERDÍVEL!! O MELHOR FILME DO ANO!!



domingo, 19 de fevereiro de 2012

O LEITOR (The Reader) EUA, 2008



UM GRANDE FILME QUE DISCUTE CULPA E OMISSÃO APÓS O HOLOCAUSTO

O LEITOR (The Reader) EUA, 2008 - Direção: Stephen Daldry - Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross – 124 minutos.

A atriz inglesa Kate Winslet recebeu sua sexta indicação ao Oscar e saiu vencedora na categoria de melhor atriz por este filme, depois de já ter ganho o Globo de Ouro, mas como atriz coadjuvante. Ela é Hanna Schmitz, uma alemã cobradora de bonde que na década de 1950 conhece e se envolve com um jovem de 15 anos, chamado Michael Berg (o ator alemão David Kross, em brilhante atuação). O romance entre os dois é tórrido. O rapaz envolve-se profundamente, pois este é seu primeiro grande amor. Para ela, o caso parece não ir além do sexo. Hanna e Michael passam muito tempo juntos, ora namorando, ora lendo. Na verdade, é ele quem lê para ela livros como "A Odisséia", "As Aventuras de Huckleberry Finn" e contos de Anton Tchekhov. Porém, um dia ela o abandona, deixando Berlim depois de receber uma promoção no seu trabalho. O rapaz cresce atormentado por essa perda. Isso o traumatizou tanto que, décadas depois, ele não consegue estabelecer vínculos com as pessoas. Michael só irá reencontrar Hanna anos mais tarde, quando ele, estudante de direito, assiste a um julgamento de ex-carcereiras do campo de concentração de Auschwitz. Para sua surpresa, Hanna está entre as rés.



Nesse momento, O LEITOR levanta duas questões sobre a culpa. A primeira tem a ver com a responsabilidade dos agentes do Holocausto. A segunda, e mais interessante, transcende ao jogar para cima de Michael uma dúvida cruel: ele tem uma informação capaz de inocentar Hanna, mas, se a revelar, poderá ajudar uma possível culpada por crimes nazistas a escapar ou ter reduzida sua pena. Além de ter de expor seu relacionamento juvenil com a ré. Essa ambiguidade poderia muito bem servir de metáfora para a omissão diante dos horrores nazistas: a busca por um bode expiatório. Michael, assim como o autor do livro no qual o filme é baseado, Bernhard Schlink, pertence à geração que passou pela adolescência na época da ascensão do nazismo. Eles podiam não entender o que acontecia - mas seus pais, mais cedo ou mais tarde, souberam dos horrores e a maioria se omitiu.



Anos mais tarde, quando Michael - agora vivido por Ralph Fiennes - reencontra uma sobrevivente de Auschwitz e revela a ela o segredo de Hanna, a mulher (Lena Olin) pergunta se isso é uma explicação ou uma desculpa. Não há resposta da parte dele - o que não é uma surpresa, pois a questão é mesmo da maior complexidade. O diretor inglês repete a parceira de AS HORAS com o roteirista David Hare, conseguindo bons resultados tanto na primeira parte - o tórrido romance entre Hanna e Michael - como nos dois atos finais, o julgamento e a tentativa de Michael de reparar seu erro. Kate Winslet mostra o talento e a profundidade de sempre, injetando humanidade num personagem complexo. Recebeu cinco indicações ao Oscar 2009, incluindo Melhor Filme do Ano. Um filme obrigatório!!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

J. EDGAR (J. Edgar) EUA, 2011



UM DOS HOMENS MAIS TEMIDOS DA AMÉRICA NO SÉCULO XX POSSUIA SEGREDOS REVELADORES.

J. EDGAR (J. Edgar) EUA, 2011 – Direção Clint Eastwood – elenco: Leonardo Di Caprio, Armie Hammer, Judi Dench, Naomi Watts, Josh Lucas, Lea Thompson – 137 minutos.

Chamar John Edgar Hoover, o temido chefe do FBI por quase cinco décadas, pelo primeiro nome, no título da cinebiografia "J. Edgar", é apenas o primeiro indício de que o diretor Clint Eastwood se aproximou do personagem como ser humano, tornando real e acessível uma figura mítica e, não raro e com justas razões, identificado como vilão e sociopata, especialmente perante os segmentos liberais da sociedade norte-americana. Quase tanto, ou até mais do que o senador Joseph McCarthy - a quem considerava "oportunista" -, Hoover encarnou o combate sem tréguas aos comunistas e esquerdistas, muito comumente ultrapassando os limites legais. Também não se dobrou à autoridade dos oito presidentes norte-americanos a quem supostamente deveria servir. Independentemente de sua filiação partidária, todos eles e seus parentes, além de vários congressistas, figuraram num temido arquivo secreto em que Hoover colecionava o fruto da espionagem à intimidade dessas personalidades, como a vida sexual de John Kennedy e da senhora Franklin Delano Roosevelt. Um arquivo cuja existência não fazia questão de esconder e aumentava ainda mais seu poderio.



Contando com uma caprichada maquiagem, Leonardo DiCaprio interpreta Hoover da juventude à velhice, com uma intensidade na medida justa, o que torna sua ausência das indicações ao Oscar uma das injustiças desta edição. O roteiro, de Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk - A Voz da Igualdade"), centra-se na irresistível ascensão de seu personagem no combate ao crime, à frente da divisão de inteligência do Departamento de Justiça desde os anos 1920, depois chefiando o Bureau de Investigações, que em sua gestão incorporou também a palavra "Federal". Desde o início de sua carreira, com apenas 24 anos, Hoover exibe perícia em duas frentes com a mesma obsessão. De um lado, na necessidade de contar com um aparato volumoso, eficiente e científico - como sua insistência em contratar muitos agentes, instalar laboratórios para investigação e instituir um banco federal de impressões digitais. De outro, seu foco recai única e exclusivamente sobre aqueles que considera inimigos da democracia, como todos os esquerdistas. Além disso, discriminava negros, mulheres ou homens que desprezassem o que considerava um bom figurino, com sapatos engraxados - que, sob sua gestão, tinham minguadas chances de entrar para os quadros do FBI.



A mesma fúria que dedicava ao combate aos gangsteres dos anos 1930 e ao sequestrador do bebê do aviador Charles Lindbergh, ele dirigiu ao ativista negro Martin Luther King. Quando a espionagem ao pastor não rendeu qualquer escândalo que lhe permitisse chantageá-lo, Hoover não hesitou em fabricar uma carta, atribuída a um ex-auxiliar de King, para tentar manchar sua imagem pública, visando forçá-lo a recusar o prêmio Nobel da Paz. Mas Hoover, que considerava King esquerdista, teve que engolir vê-lo receber a honraria, em 1964. Embora não seja este o seu tema principal, o filme aborda a homossexualidade escondida por Hoover, que teve uma longa ligação com um de seus subordinados, o agente Clyde Tolson (Armie Hammer, de "A Rede Social"). Os dois eram inseparáveis em festas, viagens e jantares, e Tolson herdou a casa de Hoover quando ele morreu, em 1972. Duas mulheres são fundamentais na trajetória de Hoover. Uma delas, sua mãe (Judi Dench), decisiva influência na moldagem de um caráter agressivo e obcecado pelo sucesso - e que não admitia sua homossexualidade, como aparece numa cena de grande intensidade dramática entre os dois. A outra é sua secretária, Helen Gandy (Naomi Watts), com quem ele, ainda jovem, tenta casar-se, e que depois lhe permanece uma servidora fiel por toda a vida. Na história, foi Helen a encarregada de sumir com os temidos arquivos secretos de Hoover, que nunca foram encontrados depois de sua morte, em 1972. Com a sobriedade habitual, o diretor Eastwood delineia as características polêmicas de um homem que construiu um personagem maior do que ele mesmo - e cujo poder, exercido com fervor absolutista, levou o presidente Harry Truman a comparar o FBI, sob Hoover, à Gestapo nazista. Um grande filme e uma interpretação antológica de Leonardo Di Caprio!!


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CAVALO DE GUERRA (War Horse) EUA, 2011



SEPARADOS PELA GUERRA! TESTADOS PELA BATALHA! LIGADOS PELA AMIZADE!

CAVALO DE GUERRA (War Horse) EUA, 2011 – Direção Steven Spielberg – elenco: Jeremy Irvine, Emily Watson, David Thewlis, Benedict Cumberbatch, Peter Mullan, Niels Arestrup, Tom Hiddleston, Toby Kebbell, David Kross, Patrick Kennedy, Celine Buckens, Robert Emms, Rainer Bock, Geoff Bell, Leonard Carow, Matt Milne - 146 minutos.

Com uma ambição que é também combustível para um contínuo esforço de autossuperação, Spielberg lança-se, em CAVALO DE GUERRA, ao resgate de um cinemão à moda antiga, no bom sentido. Procura realizar aquele tipo de narrativa épica e arrebatadora que sintonize com todo tipo de público, de qualquer idade, de qualquer nação, e que seja capaz de transcender qualquer barreira temporal. O clima de nostalgia de uma história ambientada no começo do Século 20, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, serve para sinalizar que aqui se falará de valores eternos - que alguns podem até ter esquecido, mas cuja validade o filme se encarregará de testar. Os roteiristas Lee Hall ("Billy Elliott") e Richard Curtis ("Quatro Casamentos e um Funeral") recriam para a tela uma história que, na essência, resume-se à irrompível ligação entre um jovem, Albert (o novato inglês Jeremy Irvine), e seu cavalo, Joey. Albert é o filho único de um casal de agricultores, Ted (Peter Mullan) e Rosie (Emily Watson), que arrendou uma pequena propriedade do rico Lyons (David Thewlis) nos arredores de Devon, Inglaterra. Para pagar o dono e poder arar a propriedade, a família precisa de um cavalo. Contra toda a lógica e para afrontar seu esnobe arrendatário, Ted acaba comprando um cavalo lindo, mais apropriado à montaria do que à lide agrícola. De quebra, torra as economias familiares. A ousadia cai bem aos olhos do filho, que se encarregará de treinar Joey para enfrentar quase tudo, inclusive o arado - uma habilidade que salvará sua vida numa situação inusitada no futuro. Sustentando o controle do ritmo da narrativa, Spielberg constrói solidamente esta relação de afeto entre Albert e o cavalo, que enfrentará desafios mortais na Primeira Guerra, a última em que cavalos foram usados nas frentes de batalha da Europa. Uma guerra que ficou conhecida pela selvageria de suas trincheiras e que teve um saldo estimado em um milhão de mortos.



A história é uma adaptação do romance best seller de Michael Morpurgo, de 1982, que também virou peça teatral. Ambientado na Primeira Guerra Mundial, traz em ficção a sofrida história de um cavalo, mas que reflete a realidade de mais de quatro milhões de cavalos que de fato morreram no conflito. No filme, as primeiras grandes tomadas aéreas que se alternam em fusões formam uma visão de cima, onipotente e onipresente, e exibem uma vasta paisagem campestre até se aproximar do nascimento do cavalo Joey no seio de uma humilde família de trabalhadores rurais. Essas imagens já nos dizem muito: uma alusão a um ponto de vista de um suposto Deus, a intervenção divina, o plano subjetivo que enxerga um mundo abaixo e enviou uma criatura especial destinada a uma missão. Poucos momentos após o seu nascimento, intuitivamente, o jovem cavalo já se levanta sozinho e está em pé, lutando por seu lugar e sobrevivência nesse mundo – uma virtude e uma capacidade que o homem jamais teve em tão pouco tempo de vida. Já nas primeiras cenas tornam-se evidentes duas intenções do realizador. A primeira é a tentativa de mitificar o cavalo, atribuir a ele uma espécie de alusão ao nascimento, a designação, e posteriormente o calvário e a redenção. A segunda está na ambientação, nos planos, na forma de iluminar e enquadrar. Temos imagens de janelas e portas da rústica casa de trabalhadores rurais emoldurando as colinas, céus repletos de formações de nuvens que carregam tempestades iminentes, áreas de agricultura que provém a sobrevivência, campos do início do século XX, ainda preservados dos efeitos visuais e morais da revolução industrial e urbanização que viria a seguir. A fotografia do filme é bastante inspirada na tradição pictórica norte-americana, a pintura de paisagens do século XIX, em especial nos emblemáticos afrescos de Albert Bierstadt, que trabalhava muito com as formações de nuvens, contraste entre as cores do céu e os tons esverdeados da terra. “Queríamos que o cenário fosse um personagem”, foi o que disseram Steven Spielberg e Janusz Kaminski, diretor e diretor de fotografia, respectivamente, ao The New York Times. O grande mestre nessa arte foi John Ford, que foi mentor de outros que partiam desse pressuposto, de Orson Welles a David Lean, e que aqui é notavelmente a maior influência nesse prólogo do filme, que muito nos remete a Era de Ouro do cinema norte-americano, um filme clássico-narrativo que podia muito bem ser dessa época, o que demostra uma grande nostalgia e homenagem ao cinema por parte de Spielberg.



Em seu melhor momento, CAVALO DE GUERRA traz uma citação mais erudita, de um filme mudo de King Vidor. O protagonista equino dispara por um campo de batalha. Sai da trincheira inglesa e se move em direção à trincheira alemã, mas fica preso em arames farpados. Quando percebem que o animal está preso e machucado, um soldado inglês e um alemão se unem para libertá-lo, o que promove um encontro inusitado entre dois pares que lutam em lados opostos. É uma das mais belas sequências dos 146 minutos. O momento é pungente, e lembra aquele de O GRANDE DESFILE, de Vidor, quando o herói, um soldado americano, acende um cigarro para um soldado alemão agonizante. Spielberg conhece muito de cinema, e este talvez seja a sua obra mais pessoal, mais repleta de referências aos filmes que o inspiraram a ser cineasta. Estão ali de forma velada inumeráveis menções a trechos de filmes de King Vidor, John Ford, David Lean, Victor Fleming, David O. Selznick, Akira Kurosawa, Teinosuke Kinugasa, e até mesmo um final apoteótico visualmente muito semelhante a cena final de ... E O VENTO LEVOU (1939). Mas certamente CAVALO DE GUERRA está muito além de ser um filme formuláico com emoções pré-fabricadas: é uma homenagem nostálgica ao cinema da era clássica de Hollywood, e um balanço, uma síntese do cinema de Steven Spielberg. DESTAQUE para a performance coadjuvante de DAVID KROSS (o menino que brilhou em O LEITOR, em 2009). Permanece na lista dos melhores filmes do ano!! UM GRANDE FILME!!